domingo, 7 de julho de 2013

O Guardião



Um dia lhe disseram que ele teria a mais dura e difícil missão de sua vida: seu um guardião! A princípio não soube do que se tratava aquela missão e não sabia o que ele iria ter que guardar, até que surgiu, vindo do nada, uma caixa feita do mais puro metal. Parecia firme e sólida como a mais antiga montanha aquela caixa, e o homem ficou longas horas a contemplá-la no mais profundo silêncio. Tocava-a, para sentir sua textura, e descobriu que aquele metal, ao contrário do que pensava, não era frio e tão duro, mas quente e de toque suave como a pétala de uma rosa.
            Dia após dia ele zelava por aquela caixa como o mais dedicado dos guardiões. Ficava noites em claro para que ninguém a tocasse. Em muda contemplação, ele se perguntava como e por que alguém fizera algo tão perfeito, tão hermético, de formas tão proporcionais e precisas. Aquela caixa tinha sido projetada pelo mais competente engenheiro e seu projeto executado pelos mais hábeis artífices.
            Com o passar do tempo, ele começou a se perguntar do porquê daquela tarefa de guardar e zelar por aquela caixa, se ela era tão sólida que nada poderia quebrá-la! Passou, então, a ficar desleixado com a sua tarefa. Não mais perdia noites de sono para cuidar dela, não mais a contemplava nem lhe diria palavras elogiosas e sinceras. Relegou a sua tarefa como guardião e ficava dias mesmo sem sequer olhar e tocar na caixa. Aquela caixa, julgava ele, não precisava de nenhum tipo de guarda ou proteção, afinal de contas era sólida e nada poderia lhe acontecer.
            Um dia, quando voltava para casa após uma longa ausência, percebeu que havia uma fina fissura na caixa e se aproximou para averiguar. Não entendeu como aquilo acontecera, pois a caixa era inquebrável. Com a mão em sua superfície e lembrou-se da primeira vez em que a tocara, em que a sentira tão quente e delicada. O local em que havia surgido a fissura era justamente aquele em que ele primeiro havia posto a sua mão. Começou a examinar a caixa e a pensar a seu respeito. Tocou-a em toda a sua superfície e colocou seu ouvido colado à sua lateral enquanto a balançava suavemente. Percebeu, então, que havia algo dentro daquela caixa, algo frágil feito do mais fino e delicado cristal, precioso como o maior dos tesouros.
Soube somente naquele instante que a sua tarefa consistia não em ser o guardião daquela caixa, pois ela era apenas um invólucro, mas sim do que havia em seu interior, que era algo extremamente delicado e precioso. Ele então chorou e pediu desculpas. Abraçou a caixa e com suas lágrimas nos olhos lhe pediu desculpas, e a partir daquele momento tornou-se, realmente, o mais zeloso e cuidadoso dentre todos os guardiões, e assim foi até o fim de seus dias.

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