domingo, 12 de maio de 2013

A Sedução da Noite



Quando a noite caiu, o pegou desprevenido ainda na rua. Enquanto se dirigia apressado para sua casa, o céu ia se adensando sobre sua cabeça e as sombras ao seu redor ir crescendo e se tornando mais e mais assustadoras, como se o quisessem engoli-lo, traga-lo, seduzi-lo e trazê-lo para seus braços. Seu coração batia acelerado, ameaçando sair por sua boca ou explodir em seu peito. Sentia o peso de seus pés, que, com o medo que sentia, pareciam querer ficar presos ao chão, como as raízes daquelas árvores que estavam ao seu redor, que pareciam querer abraçá-lo lançando seus enormes e pesados galhos quando ele não estava olhando.
            Desde pequeno, ouvira histórias contadas pelos mais velhos, que relatavam os perigos da noite escura, e crescera com aquelas palavras ainda reverberando em sua cabeça, sentindo um medo latente sempre que via os últimos raios do sol desaparecendo no horizonte. Nessa hora, ele fechava todas as janelas da casa para que nenhuma sombra entrasse e ele ficasse ali, seguro e iluminado por luzes artificiais.
            Nunca tinha contemplado o céu à noite, visto as estrelas e ou a lua, e apesar do medo que sentia, das ameaçadoras sombras e do céu escuro sob sua cabeça, começou a diminuir os passos, pois viu que a noite não era tão escura quanto seus medos diziam, chegando mesmo a parar e olhar para o alto, mirando a majestosa lua, que de tão clara iluminava tanto quanto um sol de meio-dia.
            O medo foi se dissipando e seus passos foram ficando mais lentos. Não tinha mais pressa de chegar a casa e seu coração já não mais batia acelerado. Na sua contemplação à beleza singular da noite, acabou se perdendo, e quando deu por si, não reconheceu o lugar onde se encontrava. Mas mesmo se dando conta de que estava perdido, ainda tão longe de casa, não teve medo, pois a noite sobre sua cabeça estava clara como o dia e os perigos que, nas histórias que ouvia, ela escondia, não existiam.
            As horas foram passando sem que ele se desse conta e a medida que e aproximava da meia-noite, a noite foi se tornando mais escura e ameaçadora. Ele se deu conta disso, e através de uma árvore ou de uma pedra na estrada, foi tentando reconhecer e retomar o caminho de casa, mas quanto mais andava, mais se sentia perdido. Chegou a parar algumas vezes, olhar ao seu redor, sem saber para onde se dirigir, o que fazer...
            A noite se adensava ao seu redor. Soprava um vento frio que lhe fazia gelar todos os ossos do corpo. Sentia fome, mas o medo era mais forte e o obrigava a sempre seguir em frente em busca de algum sinal, de algo que o fizesse lembrar-se da trilha que pudesse levá-lo para o conforto e a segurança de seu lar.
            Cansado, com o corpo clamando por um descanso, ele se sentou na beira da estrada e abraçando os joelhos, deixou que os pensamentos vagassem a toa e assim o levassem a algum lugar, mas eles teimavam em continuar ali, onde ele estava, parado.
            Ele então se levantou novamente e continuou a andar a esmo, para onde quer que seus passos o levassem. Quando mais andava, mais era tragado pela noite, que o seduzia, que o trazia para junto de seu seio, que o abraçava com seus braços longos e frios do vento da meia-noite.
            Ele percebeu o quão a noite era sedutora quando olhou novamente para o alto e não mais enxergou a primeira beleza, aquela como ela havia se apresentado e o fez baixar a guarda e perder momentaneamente os medos, que agora voltavam à tona e lhe tomavam por inteiro.
            Os barulhos do silêncio da noite foram se aproximando e se fechando ao seu redor e quando ele deu por si, foi inteiramente tragado pelos perigos da noite.
            Nunca mais foi visto por nenhum olho de um alguém vivo, mas todos conhecem a sua história, a que fala do homem que se deixou seduzir pela beleza e se esqueceu dos perigos que a noite esconde...

Um comentário:

  1. Muito bom meu caro Lima Neto. Excelente conto. Gostei muito. Gostei da reviravolta da história.

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