domingo, 5 de maio de 2013

Vida de Rosa



Quando veio ao mundo, seus pais lhe batizaram com o nome de Rosa. Também pudera, outro nome não lhe caberia, pois ela não nasceu, mas desabrochou para o mundo. Diferentemente de outros bebês quando nascem, ela não chorou, mas sorriu, e seu riso foi como o canto de mil pássaros ao saldar a primeira manhã de uma aguardada primavera. Era um lindo bebê, com a pele tão fina e acetinada como a mais delicada pétala de uma rosa em todo o esplendor de sua beleza. Tinha o cheiro de um bebê, mas de um bebê perfumado de primavera, de mil diferentes fragrâncias de mil diferentes rosas.
            Cresceu como toda rosa cresce, como toda criança cresce, inteiramente livre e completamente feliz. Toda manhã, ao abrir os olhos, a primeira coisa que ela fazia era abrir a janela de seu quarto para olhar para o sol. Fechava os olhos, sorria e desejava um bom dia ao dia que estava nascendo. Pássaros vinham pousar no parapeito de sua janela e ali ficavam cantando para alegrá-la, para que juntos saldarem o novo dia.
            Seus pais tinham por ela uma verdadeira veneração e a cultivaram com todo o amor que um jardineiro cuida de seu jardim. Ensinaram-lhe as primeiras palavras, a andar e muitas outras coisas que só pais amorosos ensinam a seus filhos. Tudo ela aprendia rápido, pois tinha sede de conhecer. Via um mundo novo a cada dia.
            Nada a fascinava tanto quanto o amanhecer, mas também amava a chuva de fim de tarde, aquela que deixa no horizonte o rastro de um arco-íris, e era especialmente fascinada pelos dias nublados com seu vento frio que lhe tocava, que vinha lhe acariciar o rosto. Gostava das noites estreladas e da lua cheia, mas temia as sombras que esse horário escondia. Temia, também, os animais que ficavam a espreitando nas sombras, esperando um segundo de desatenção, para atacar e roubar aquela sua inocência.
            O tempo passa, pois nada o pode deter, e Rosa continuava a de sempre, igualmente bela. O tempo parecia surtir pouco efeito para ela, e ela ficava mais, mais e mais bela a cada ano que passava. A cada nova primavera ela desabrochava em toda a plenitude de sua beleza e todas as pessoas por quem ela cruzava na rua paravam para contemplá-la e nesse momento era como se sentissem o tempo parar, sentindo pairando no ar o doce aroma da estação de todas as flores.
            A primeira verdadeira tristeza que teve em sua vida foi no auge de um verão, quando olhou para seus pais e se deu conta de que eles estavam envelhecendo e de que ela nada poderia fazer para deter o tempo que corria para eles, e constatar isso foi como se as estações de sua vida mudassem, e viessem um cinza outono seguido de um inclemente inverno que trazia fortes tempestades que alagavam a sua alma.
            Mas as tristezas passam e uma estação segue a outra, e logo veio uma nova primavera, e Rosa se sentiu rejuvenescer. Já era adulta, mas continuava a ter a delicadeza e inocência de uma flor recém-desabrochada, que via o mundo pela primeira vez.
            Numa noite em que saiu, quando estava desprevenida quanto as perigos da noite, surgiu um homem. Belo, com um sorriso sedutor, lhe disse belas palavras que a cativaram, que lhe arrancaram inúmeros sorrisos. Ele a colheu, a arrancou do solo, lhe tirou as raízes e se casou com ela, tal qual um ambicioso homem que é incapaz de contemplar a beleza, mas que quer tê-la.
            Rosa, sem que se desse conta, a partir do momento em que disse “sim” àquele homem, em que se casou com ele, começou a murchar, tal qual uma flor murcha quando arrancada do jardim e do solo sagrado em que nasceu e floresceu para o mundo, porque aquele homem queria tê-la para si, e se esqueceu que tal qual uma rosa, ela não veio ao mundo para ser posse de ninguém, mas sim para ser amada, e uma rosa quando amada floresce a vida toda sem nunca murchar em estação alguma.

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