quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Rosa e o Vento

Havia no coração daquele imenso jardim uma linda Rosa. Era uma Rosa de beleza rara, nunca antes vista por aquelas paragens. Em suas pétalas estava guardada toda a delicadeza da primavera e de seu corpo desprendia um arome doce como a vida. Ela mantinha-se fechada durante a maior parte do dia, e só desabrochava a cada manhã, para saldar o nascer de um novo dia, quando as abelhas vinham colher seu pólen, quando os beija-flores vinham beijá-la ou quando um alguém vinha tocar-lhe a face. E como era lindo o seu desabrochar! Ela desabrochava num lindo sorriso que dava beleza a toda uma primavera.
            Pessoas vinham de longe apenas para contemplá-la, e todo o jardim se floria inteiro para receber os visitantes. Nenhuma das outras flores sentia inveja, pois aquela Rosa irradiava sua beleza para todo o jardim. Pássaros vinham e ficavam empoleirados nas árvores próximas, apenas contemplando toda aquela beleza da Rosa e do jardim como um todo. Havia pessoas, no entanto, que desejavam aquela Rosa para si, e tentavam colhê-la, arrancá-las de suas raízes, e para estas a Rosa não desabrochava, jamais, e ainda as feria com seus delicados espinhos. Mas estas eram minoria. Todos desejavam, sim, aquela Rosa para si, mas não por motivos egoísticos, e se sentiam realizados só em ter o privilégio em poder contemplá-la, em poder tocá-las sem se ferir, em poder vê-la desabrochar em seu sorriso.
            Mas havia um alguém que não ousava se aproximar daquela delicada Rosa: o Vento. Ele soprava todas as manhãs, vindo do nascente, e trazia em seus braços o primeiro calor do sol e o derramava sobre as demais flores daquele jardim, mas nunca chegava ao seu coração, onde estava presa aquela Rosa. Ele dava voltas e mais voltas em torno de si, aproximando-se enquanto tentava se afastar, com medo de ferir, de alguma maneira, de agredir com a sua força e por vezes até com a sua frieza, a Rosa. Tinha medo de, com seus braços longos e dedos desajeitados, acabar por arrancá-la de suas raízes e não poder jamais tornar a plantá-la em solo fértil. Assim ele vivia, todos os dias, em sua angústia.
            Passava noites soprando uma brisa fria, angustiado, esperando pelos primeiros raios de sol, só para pegar um pouco de seu calor e poder passar pelo jardim, para chegar perto da Rosa, sem nunca tocá-la. Adorava ver, ficava extasiado, quando via o seu primeiro desabrochar, o seu primeiro sorriso da manhã, e ficava, em seu devaneio, imaginando que ela sorria para ele.
            À Rosa, no entanto, nada passava despercebido. Sabia, sentia que o Vento a evitava. Não entendia bem o porquê daquilo e tentava, de todas as formas, cultivá-lo. Todas as manhãs era para ele que ela sorria, pois ele representava o nascer de um novo dia. Quando ele soprava frio, ela liberava o seu calor. Mas não havia forma do Vento entender seus jeitos, interpretar seus sorrisos e sentir o seu calor.
            Um pássaro, lá no alto, no céu, viu a angústia da Rosa e do Vento, que nunca se encontravam, que custavam a entender um os gestos do outro. Desceu num voo rasante e pousou ao lado da Rosa e a viu tão triste, fechada dentro de si mesma, como jamais estivera. Tocou-a com seu bico, ao que a Rosa não reagiu e fechou-se ainda mais. A Rosa estava triste e deixou cair uma única solitária pétala em forma de lágrima. O Pássaro, então, pegou a pétala e a jogou no meio do caminho por onde soprava o Vento. O Vento tropeçou naquela pétala e a reconhecendo, olhou para o lado e viu a Rosa fechada e percebeu que aquela pétala-lágrima caída tinha sido por ele. Aproximou-se lentamente em seu sopro e roçou seus dedos na face da Rosa, que se encolheu ainda mais, mas ao virar seu rosto para cima, ao ver que era o Vento aquele que lhe tocava, desabrochou seu lindo sorriso.
            Desde então o Vento não soprou mais frio e passava horas a fio naquele jardim, soprando e acariciando com seus dedos a delicada pele das pétalas da Rosa, que vivia agora a sorrir.
Os Quatro Cantos do Mundo passaram a sentir o aroma delicado daquela Eterna Primavera que foi o do encontro da Rosa com o Vento, e todos os ventos, de todos os cantos, sopraram e espalharam por todas as flores de todos os jardins.

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