domingo, 8 de janeiro de 2012

No escuro e no silêncio não sou tão só

Eu só queria que isso tudo terminasse, que essa dor chegasse ao fim. Olho para trás e vejo toda a agonia por que passei, e ainda ouço aquela voz que me disse, no dia em que nasci, que estaria amaldiçoado para sempre. Desejo fechar os olhos e, ao reabri-los, ver que tudo não passou de um pesadelo. Mantenho-me no escuro, com os olhos cerrados, na mais completa escuridão e silêncio. Chego a pensar que dessa vez, nessa única vez, serei ouvido, que terei uma vida nova a partir de agora, diferente da que tive até então. Eu desejo e me esqueço completamente do tempo, embalado pela visão do nada e pelo silêncio total. Quase chego a dormir, de tão em paz que estou, uma paz que não me lembro de nunca ter sentido. Queria nunca mais poder abrir os olhos, queria ficar para sempre no conforto desse silêncio.
    Lembro-me, agora que estou na paz desse momento, de tudo que se passou. As cenas, as dores, as percepções de tudo passam rápido, como um filme à minha frente. Vejo-me no mais completo silêncio e solidão, sem saber o porquê de tudo aquilo. Falando sem nunca ser ouvido; ouvindo tantas vozes, tantas palavras, mas nunca nenhuma palavra era direcionada a mim. Sem palavras de conforto eu sobrevivi toda a minha vida a duras penas. Juro que pensei, muitas vezes, em desistir. Mas a vida me ensinou, me obrigou a persistir, a continuar a sonhar com um conforto de um momento. E assim vivi, à espera de um momento que nunca chega.
    Nunca senti o conforto de uma palavra sincera nem adormeci sendo acalentado por uma canção de ninar; nunca senti o calor de um abraço nem o sabor de um beijo; nunca tive um sonho realizado, mas pelo menos nunca deixei de sonhar.
    Sonho, uma palavra tão doce, talvez o único sabor doce que tenha sentido e que me acompanha durante toda a minha amarga vida. Vida, que sempre me foi tão cruel e inclemente, que tudo tanto fez para que eu nunca esquecesse a maldição que me persegue, que me foi lançada no dia em que nasci, de que eu seria, para sempre, uma pessoa só.
    Eu só esqueço dessa maldição, de minha condição, de quando estou com os olhos aberto, vendo tanto, tudo, e nunca sendo visto, de quando falo, grito, berro, e nunca sou ouvido, quando fecho os olhos e me isolo dentro de mim mesmo, quando não ouço os sons ao meu redor e fico no mais completo silêncio, quando me fecho dentro de mim, como me encontro agora, em paz.
    Seria tão bom se eu pudesse ficar assim, se eu pudesse continuar assim, no escuro em no mais completo silêncio, pelo resto de minha vida, pois só assim eu não sentiria todo o peso da maldição, não sentiria o peso que é ser uma pessoa tão só.

3 comentários:

  1. um pouco de silêncio, um pouco de escuro e um cigarro aceso apenas, isso é muito confortante em alguns momentos quando se quer estar só. apenas só. só até sem a maldição de nascença.

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  2. isso e algo que nao passa e nao tem cura, algo que temos que aprender a enfrentar ate a morte chegar

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  3. nos, os amaldiçoados, somos assim porque enxergamos a realidade da vida, os demonios, as desgraças, e nao nos rendemos a elas aceitando viver destinos miseraveis. preferimos nos isolar na escuridao e esperar por algo que proporcione ao menos bons momentos do que com ipocrisia sorrir e dizer que e feliz so pra agradar

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