Escrever
é como cozinhar: envolve todo um longo processo, que executamos com imenso
carinho, que vai desde a escolha do prato a ser preparado, escolha dos
ingrediente ao paciente preparo e arranjo do prato para que seja melhor
apreciado e degustado.
O escritor, assim como o cozinheiro,
precisa escolher bem o prato de acordo com a situação e os convidados que vai
receber, se bem que de vez em quando, é bem verdade, surgem imprevistos, e é
necessário se agir rápido, sem pensar muito. Às vezes o cozinheiro, assim como
o escritor, não está muito inspirado, mas cozinhar, assim como escrever, se faz
necessário, e ele prepara algo simples, como um feijão com arroz e bife, que
vai saciar a fome imediata, mas vai, ao mesmo tempo, deixar nele a impressão de
que poderia ter feito algo diferente, algo mais, como ter dado ao texto-prato
um toque diferente, como ter posto um tempero capaz de surpreender os
degustadores.
O cozinheiro, assim como o escritor,
escolhe bem os ingredientes necessários à preparação do prato-texto. Apalpa,
sente a textura, cheira, vê se estão maduros, se estão “no ponto” para o
preparo, coloca-os cuidadosamente na sua cestinha de supermercado, depois os
passa no caixa e os organiza cuidadosamente numa sacola. Já em casa, quando vai
iniciar o preparo do texto-prato, retira, um a um, os ingredientes, na ordem
que vai utilizá-los. Descasca cuidadosamente os vegetais-palavras, corta com
precisão as carnes, dando ponto finais às frases e vai vendo, pouco a pouco, o
seu prato, mesmo ainda cru, tomar forma.
O escritor, assim como o cozinheiro,
não pode ter pressa no cozer de seu prato-texto. Não adianta querer acelerar ou
atrasar a comida-texto. Se ele deixar passar do ponto, corre-se o risco do
texto queimar, e se o retirar antes da hora, o texto não vai ter apurado
devidamente os sabores dos condimentos e corre-se o risco, até, de, na pressa,
o ter retirado ainda cru. Há textos-pratos que podem demorar até meses para
serem preparados, pois, por vezes, falta um ingrediente específico que só pode
ser colhido/encontrado em determinada época do ano e em determinado local. O cozinheiro,
assim como o escritor, fica no dilema de seguir ou não no preparo do prato-texto,
mas sabendo que ele, quando pronto, valerá a pena, opta por esperar, e enquanto
o ingrediente que dará o sabor ao texto-prato não vem, ele seguirá preparando
aperitivos, deixando os seus convivas entretidos a saborear pratos diversos,
até que Voilà! surge ele, passando
pelas portas da cozinha, equilibrando nas mãos uma travessa com tão belo e
apetitoso prato, e os convivas, ao verem o esmero com que foi preparado, têm a
certeza de que valeu a pena cada segundo daquela espera.
O cozinheiro, assim como o escritor,
é um ansioso, e olha com especial atenção as feições daqueles que provam seu
texto-prato, analisando cada reação, de aprovação (ou não!), e só consegue
soltar o ar de seus pulmões quando o outro, depois de mastigada a primeira
garfada, exprime, com sinceridade, a sua opinião sobre o prato-texto. Se aprovada
a comida-história, o escritor-cozinheiro, respira aliviado, satisfeito, mas se
não, fica a rememorar cada passo dado no preparo, fica a se perguntar se usou
os ingredientes na medida certa, fica sem saber se faltou uma pitada de sal,
deixando o texto insosso, ou se colocou uma palavra a mais, fazendo com que o
prato tenha passado do ponto, ficando salgado.
O escritor, assim como o cozinheiro,
é um solitário nato. Por vezes até tem uns alguéns por perto, opinando de que
deveria escrever sobre isso, preparar um assado de tal maneira, explorar melhor
esse personagem, deixar mais tempo a comida no fogo a fim de melhorar apurar os
temperos, e essas ajudas são bem-vindas, sim, por mais que ele, por vezes, diga
tê-las rejeitado, mas ele se sente, realmente, bem, quando sozinho, quando se
sente rei do reino da cozinha ou de seu escritório, onde reina soberano,
estando de posse de sua coroa e cetro, papel e caneta ou panelas e facas.
Ambos, cozinheiro e escritor, são
artistas. Um, prepara pratos finos para saciar a fome do corpo do homem, o
outro, lapida palavras e as prepara num texto coeso e saboroso para saciar seu
intelecto. São ambas as artes quedas quais o homem precisa para sobreviver, mas
que precisa aprender a melhor apreciar, comendo devagar, garfada por garfada,
lendo devagar, palavra por palavra.
Olha, pra começar, quero dizer q estou gostando muito do seus neologismos. Já criastes três essa semana. rsrsrs. Outra, comecei a ler e de imediato me reportei ao “Arroz de Palma.” O texto é muito familiar. Ficou muito bom! Parabéns. Muito interessante a brincadeira q vc e Azevedo fazem ao comparar família... escrever... com o preparar do alimento e vice versa
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