Aquela era uma rosa muito rara. Só nascia ao pé daquela alta
montanha e só desabrochava uma vez por mês, nas primeiras horas da noite,
quando o sol de punha e a lua cheia, com todo o seu esplendor, iluminava toda a
terra e derramava sua luz prateada nela. A rosa guardava a luz da lua em suas
pétalas por alguns dias, e quando o ciclo da lua cheia terminava, ela voltava a
se fechar dentro de si mesmo e adormecia.
Era uma
rosa que não tinha espinhos, inteiramente indefesa, e todos os que a
contemplavam, vendo-a tão frágil, cuidavam dela, e só passavam muito de leve
seus ásperos dedos nas pétalas, e ao fazerem isso, um leve brilho prateado
ficava grudado na pele por dias a fio. Pessoas de todo o mundo vinham
contemplá-la, milhares eram os que se acotovelavam ao pé da montanha com os
olhos grudados no céu, acompanhando a trajetória do sol indo se por lá longe,
onde o céu e o mar se fundem, e quando o último raio de sol se apagava,
voltavam os olhos para o outro extremo, onde a lua, majestosa, mostrava-se em
toda a sua beleza e começava a derramar a sua luz prateada sobre a rosa. A rosa
ao se sentir acariciada pelos suaves e frios dedos da lua, desabrochava
bocejando para receber o carinho da lua. As duas, rosa e lua, passavam a noite
inteira a se fitar, apaixonadas uma pela outra, suspirando, e quando a lua ia
embora, a rosa derramava finas e suaves lágrimas, e suas pétalas ficavam
úmidas, e as pessoas chamavam tais lágrimas, aquela umidade, de orvalho. E assim
noite após noite, dia após dia, até que a face da lua mudava e a rosa voltava a
se fechar dentro de si mesma, bocejava uma última vez e voltava a seu sono.
Um homem ao
ver tantas pessoas vindo de tão longe, resolveu pegar aquela rosa e cultivá-la
para apresentá-la a mais pessoas ainda ao redor do mundo e para vendê-la. Certo
dia ele foi ao pé da montanha, onde a rosa dormia, e a arrancou do solo e a
levou para um terreno bem longe da montanha, numa planície, onde a plantou,
depositando-a no solo.
Naquele fim
de mês, na primeira noite de lua cheia, a lua não encontrou a rosa ao pé da
montanha. Procurou-a desesperada em todos os cantos onde seus olhos alcançavam,
até que viu, ao longe, uma imenso campo de flores em muito parecidas com aquela
que era a sua rosa. Tocou-a, e ao sentir aquele toque, a rosa desabrochou, e ao
se ver tão longe do lugar que sempre fora seu lar, e ao se ver cercada por
outras tantas iguais a ela, chorou grossas lágrimas que tingiram todas as suas
pétalas de negro, pois, ao ser arrancada e cultivada tão longe sua casa, ela se
sentiu morta, de luto por si mesma, e a partir daquela noite ela nunca mais
desabrochou e guardou o luz prateada da lua, mas sim desabrochando eternamente
negra com o corpo coberto por duros espinhos.
Mas que final triste!
ResponderExcluirMas que final triste, meu caro!
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