domingo, 10 de março de 2013

O muro



Ele tinha medo, tanto que construiu ao seu redor uma intransponível muralha onde nada nem ninguém pudesse entrar. Ali, no alto de uma torre, ele ficava vigilante dia e noite, zelando por sua própria segurança. No início, pessoas e sentimentos ousaram se aproximar, mas vendo que por mais que tentassem, não conseguiam entrar naquela fortaleza nem que o homem que vivia ali dentro ousava abrir as portas e sair, desistiram.
            Ele não cansava, nunca, e sua resolução de se manter seguro e salvo para sempre era tamanha que passava noites em claro só com o intuito de ficar vigiando, para que nada se aproximasse e tentasse atravessar os muros de sua fortaleza.
            Com o passar do tempo, no entorno da fortaleza tudo se tornou deserto, tudo de tornou um imenso mundo estéril onde nada era capaz de sobreviver, e só quando isso aconteceu ele pôde, finalmente, se sentir seguro, pôde pregar os olhos e dormir uma tranquila noite de sono.
            Fechou os olhos e deixou que o silêncio e a paz o tomasse, mas, estranhamento, aquele silêncio guardava em seu seio algo pior do que todos aqueles medos que ele procurava manter do lado de fora, longe. Olhou ao seu redor, mas nada encontrou. Tentou conciliar o sono, mas não conseguiu. Seu coração batia com força em seu peito e sua respiração estava pesada. O medo tinha entrado e se escondido nas estranhas daquele silêncio, e agora o homem, estava perigosamente a sós, trancado naquela fortaleza, com ele.
            Abriu as janelas para que a luz de fora, seja do sol, seja da lua – ele não sabia que horas eram, pois havia perdido completamente a noção do tempo – pudesse entrar, mas percebeu que os muros que tinha construído eram tão espessos, altos e intransponíveis que sequer a luz do dia ou da noite conseguia entrar.
            Estava sozinho com algo que lhe metia tanto medo que lhe turvava os sentidos, e não havia nada que pudesse fazer, pois fora ele mesmo que se trancara ali com aquela solidão. Corria de um lado pro outro, desesperado, mas por mais que se afastasse, por mais rápido que fosse, jamais chegaria a ficar longe ou se afastar daquilo que temia; gritava, mas a única resposta que lhe chegava aos ouvidos era a voz solidão lhe dando com única resposta o eco das suas próprias palavras que reverberavam nas paredes de sua fortaleza.
            Desesperado, correndo de um lado pro outro, tentando fugir da solidão que o perseguia, ele parou em frente ao portão que o comunicaria ao mundo exterior e tentou abri-lo, mas não conseguiu. Deixou-se cair ali, e se deixou abraçar por aquela inexorável solidão que vinha em seu encalço, e quando sentiu os braços dela se fechando em torno de si, olhou para o alto, para os muros de sua fortaleza, e se deu conta de que havia construído não um local onde pudesse se manter seguro, mas sim a sua própria prisão, que tinha a exata forma de seu próprio mausoléu.

Um comentário:

  1. Muito bom seu texto amigo Lima.
    Muitas vezes agimos dessa maneira e nos isolamos com nossos medos dentro de uma fortaleza de onde não podemos sair depois. E é triste isso.
    Parabéns pelas palavras,

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