domingo, 14 de agosto de 2011

Bullying e Preconceito


Hoje em dia as pessoas se doem com absolutamente tudo. Tudo que a gente fale ou faça é Bullying, preconceito ou simples desrespeito. Tudo bem que esses temas tem sido cada vez mais debatidos com mais frequencia  na sociedade atual, mas não é por conta disso que tudo se enquadre como “subversivo”, “agressivo” e “desrespeitoso”. Apelidos, por exemplo. Ter apelidos é normal, natural e ouso dizer que até saudável. O apelido é como uma maca registrada que vai ser levado para toda uma vida, é como um retrato de um tempo que passou. Tudo bem que existem apelidos mais agressivos, que pessoas não gostam do que recebem (normalmente as pessoas não gostam, mas, de uma forma ou de outra, acabam se acostumando e até gostando dos apelidos que receberam), mas daí a se afirmar que todo apelido é Bullying a ponto de quase proibirem as pessoas de colocarem apelidos umas nas outras e receberem seus devidos apelidos já é demais.
            Apelidos, como disse anteriormente, são saudáveis até, e nos fazem lembrar épocas, amigos e fatos acontecidos há anos dos quais sentimos imensa saudade. Eu, por exemplo, já recebi inúmeros apelidos em diferentes épocas de minha vida. Fui, na adolescência, devido ao grande número de espinhas que tinha cara, chamado de Choquito, fui, em outra época, quando jogava vôlei com os amigos, chamado de Moloide, por que era um tanto quando desengonçado (todo molenga mesmo) e não levava muito jeito para o esporte. Já fui o Preguiça (não preciso explicar esse apelido né?), fui (e continuo sendo) o Chato, fui o Pata de Caranguejo, por que minhas canelas são finas e cabeludas, entre tantos outros apelidos que recebi e continuo a receber (embora, nessa época em que tudo é Bullying e preconceito, com menos frequencia) outros apelidos, que irão continuar comigo pelo resto da vida, embora eu não tenha mais espinhas (deixei de ser o Choquito), não jogue mais vôlei (deixei o Moloide de lado) e tenha conseguido deixar minhas pernas um pouco menos finas (me livrei da alcunha de Pata de Caranguejo), mas alguns eu ainda continuo sendo, como o Preguiça e o Chato.
            Tive amigos em que os apelidos pegaram tanto, de tal forma, que se tornaram quase os nomes dele, e chego até a pensar seriamente se o Abelha (amigo de minha infância) tem esse nome no registro, se o Miqui Jegue (uma corruptela de Mick Jagger) tinha sido batizado como tal. Tem uns até que não lembro nem o nome, como o Toco, o Bucho-de-Sôia, o Carrapicho, o Batatão, o Nino e o Cádá, e outros que o apelido se incorporou de verdade aos nomes, como Adonias-Cabeção, Wandersapo e o Kléber-Gordo. Tive amigos na escola em que todos só os chamavam pelo apelido, como o Bicho-do-Mato, o João-Gordo e o Nhonho.
            Acabar com o direito de colocar apelidos, considerando tudo como uma forma de Bullying, é como cortar um pedaço da infância, como proibir algo que é natural, prazeroso e que vai nos fazer lembrar momentos e de pessoas que irão nos marcar para o resto de nossa vida.
            Coisa semelhante acontece com o preconceito. Hoje, tudo é uma forma de preconceito velado, e ninguém pode chamar ninguém de Branquelo, Amarelo, Moreno, Negro ou fazer qualquer relação com sua cor.
            Balela!, todo mundo teve um amigo, na infância, a quem chamava de Negão, e se este tinha um irmão menor, o outro seria o Neguinho, se tivesse uma irmã, Neguinha, e isso, na época, não se configurava como um preconceito. Havia sempre um alguém que recebia o apelido de Amarelo-Palemado (não me perguntem o que é “palemado” que até hoje eu não sei o que isso significa), um outro de Branco-Papel. Também tinha um (em todo grupo tem um) a quem chamamos de Crente, por frequentar uma igreja evangélica.
            Hoje em dia, se você chama um alguém de “negro”, se é, logo de cara, tachado de “preconceituoso”, só por que se fez uma referência à pessoa pela cor de sua pele. Se chamar, até, uma pessoa de “morena” é, por alguns, correr o risco de ser considerado preconceituoso. Hoje em dias, todos são o que se chama (que virou moda) de Afrodescendente (confesso achar horrível esse nome, que nem sequer soa bem).
            Existe, sim, sempre existiu e sempre existirá, preconceito, os valentões das escolas, praticando o Bullying, e isso tem de ser combatido, óbvio, mas daí a colocar tudo no mesmo nível, considerar tudo como sendo “prática de bullying” e “preconceito” já é demais. Temos que, tanto nas escolas, como no trabalho ou onde quer que estejamos inseridos, saber os limites e continuar brincando, colocando apelidos, como sempre fizemos, que nem por isso estaremos praticando bullying.
            Apelidos não se configuram Bullying (pelo menos não todos), assim como chamar uma pessoa de negra não é preconceito racial ou de Crente um preconceito religioso. Mas agir de forma contrária, “se doendo”, considerando tudo Bullying e preconceito é uma maneira de se mostrar o quão preconceituoso e complexado se é quanto a essas questões.
            Devemos, sim, combater o Bullying e o preconceito, seja ele de cor, crença religiosa e opção (ou orientação, ou seja lá de como estejam chamando hoje em dia) sexual, mas devemos, também, combater os excessos de complexos e segregações que estão implantando em nossa sociedade, caso contrário, em breve, deixaremos de ser um país do respeito, onde todos as cores, raças e crenças vivem em perfeita harmonia, e passaremos a ser um país separado em pequenos grupos de complexados-imbecis.

2 comentários:

  1. antigamente ninguém falava de Bullying e a palavra "preconceito" era algo que ninguém sabia do que se tratava, e mesmo assim, as pessoas viviam normalmente, em paz, em harmonia. hoje em dia...

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  2. Kleber-Gordo: è meu amigo na quela época apelido não dava processo mas, dava um quebra-pau danado, e olha que eu nem era tão gordo assim, hoje sim eu sou um verdadeiro GORDO. tem mais alguns apelidos emblemáticos de nossa época; bufinha, Jenipapo, china, Paulo peruca, Lambão, neifila, meião, major, mudores, fominha, Bú, cú do gato, satan ...

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