Tenho medo de acordar e abrir os olhos, de perceber que já
cresci, que deixei de ser o menino que um dia fui, de, ao ver o meu reflexo no
espelho do banheiro, não me reconhecer, de me achar um estranho, um intruso em
meu próprio corpo, em minha própria vida, de ser simplesmente um estrangeiro.
Tenho medo de me levantar e me descobrir só mais um num
mundo com tanta gente, de ser e viver preso em meu dia-a-dia, em minha rotina,
de ser um prisioneiro de mim mesmo, de minha vida.
Tenho medo de, ao dar um primeiro passo, me desequilibrar e
cair, vindo ao chão, da mesma forma que as minhas esperanças de uma vida de ser
um eterno menino vieram.
Tenho medo de enfrentar o dia e de ser derrotado, subjugado
por ele, e voltar para casa humilhado, quando o sol se pôr, tão cabisbaixo que
sequer teria coragem de olhar para o alto, para o céu e ver que, apesar do sol
não mais poder ser visto, o céu está repleto de estrelas, coroado com uma
majestosa lua, que nos cobre com sua luz prateada.
Tenho medo de ficar sozinho, de me sentir só, mesmo estando
cercado por tantas pessoas.
Tenho medo de, prisioneiro, ficar surdo para os sons do
mundo, de não mais ouvir os risos, os cantos dos pássaros ao saudarem o sol num
nascer de um novo dia e de não ouvir o barulho da chuva enquanto durmo.
Tenho medo de ficar mudo para o mundo, de não mais sorrir,
de não mais falar, pois não teria ninguém para me escutar, para me dar um
abraço, para me confortar e dizer que está tudo bem, que tudo não passou de um
pesadelo, que amanhã será um novo dia e tudo vai voltar a ser como antes, como
sempre foi, como sempre deveria ter sido.
Tenho medo de enfrentar a vida sem esperanças, de cabeça
baixa, esperando apenas que o tempo passe e eu continue assim, aqui, com medo.
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