domingo, 11 de setembro de 2011

Apelidos


Todo mundo precisa de um apelido para cada época da vida. Apelido é algo único, que marca um momento de sua vida, do qual você vai se lembrar para o resto da vida, tendo gostado dele (e do momento) ou não.
Apelidos marcam tanto, são tão fortes, que vez por outra acontece até de esquecermos o nome de um amigo de outros tempos, mas o apelido jamais a gente esquece.
Há apelidos que são universais, a que todo mundo conhece uma poção de amigos que os possuem. Cabeção, por exemplo, “que atire a primeira pedra quem nunca teve um amigo cujo apelido é Cabeção”. Eu, pelo menos, perdi a conta de quantos amigos receberam tal alcunha. Quando menino, eu tinha um visinho que se chamava Adonias, mas era raro um alguém chamá-lo pelo nome. Todos os chamavam de Adonias-Cabeção, Cabeção, Cabeça ou coisa do tipo. Chamá-lo pelo nome, apenas, era algo impensável. Também tenho um primo, chamado Thiago, que recebeu, desde pequeno, o apelido de Cabeção. Gordo também é um “apelido universal”. Todo mundo conhece um alguém que tem como apelido Gordo. E não precisava nem se ser tão gordo assim para ser congratulado com ele. Bastava ser só um pouco mais cheinho ou se ser o mais “bem-nutrido” da turma para se receber o apelido de Gordo. Conheço uma poção de amigos que receberam tal apelido, como, por exemplo, lá do bairro onde vivi toda a minha infância e a maior parte da adolescência, tinha o Kléber-Gordo, que na época nem era tão gordo assim, mas, como disse, só por ser o mais “fortinho” da turma, recebeu tal apelido.
Mas fugindo dos “apelidos universais”, há também os próprios, os únicos, a que a gente, hoje, fica imaginando de onde e de por que surgiram, de onde veio tanta criatividade para forjá-los. Tive, por exemplo, amigos chamados Toco, Cádá, Bucho-de-Sôia, Bufinha, o Genipapo e o Jipô, que foram apelidos que se incorporaram de tal forma que ninguém mais lembra do próprio nome das pessoas. Tive amigos “chamados Bicho-do-Mato, Abelinha (!), Ossada, Carrapicho, Batatão, Wandersapo e o Chula. Também tive muitos “amigos-pop-stars”, como o Miqui Jegue (corruptela do Mick Jagger), o Nhonho e até um Derbão (por conta do cigarro Derby).
A mim também couberam muitos apelidos, em diferentes momentos de minha vida, como o Moloide (por conta do jeito eternamente desengonçado), Pata-de-Caranguejo (motivado pelas pernas finas e peludas), Preguiça e Chato (esses eu não precisa justificar). E hoje, mesmo já adulto, ainda lembro com carinho dos apelidos e, principalmente, óbvio, das pessoas, e confesso sentir até uma certa saudade dos tempos em que colocava e recebia apelidos.
Pena que a rotina, o dia a dia, acaba nos tirando esse prazer, pois depois que nos tornamos adultos não mais recebemos e colocamos apelidos em ninguém, pelo menos não com a frequência que o fazíamos em outros tempos. Mas, de qualquer forma, sempre sobra um tempinho e uma oportunidade que a gente agarra com unhas e dentes para apelidar um alguém, nem que seja um professor da universidade e um (a) amigo (a) do trabalho.

Um comentário:

  1. " Ai meu tempo faz tanto tempo que meu tempo não vouta mais" Antiga cantiga de capoira que traduz a minha saudade do velho mangueirão, produtor desses apelidos, soutar pipa, caçar calangos, puchar rolareira, atirar de baladeira, jogar mirim ou campionato de penaltes,ir escondido da família se banhar no tarubo e camboa da baleia do Rio Potengi. Saudosismo cruel!Não gostaria de resurgir para uma nova vida mas sim revivar para minha velha vida. Vai Arlindo Neto baldiando a passado.

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