domingo, 18 de setembro de 2011

Retrospectiva de uma vida em profissões

Sempre que me perguntavam, quando eu era menino, o que eu queria ser quando crescesse, respondia de pronto: astronauta. Eu queria poder entrar num foguete e subir, subir e subir, chegar ao céu, ver a Terra minúscula lá de cima, chegar perto das estrelas, pegar carona num cometa e visitar outros planetas. O tempo foi passando e, mais crescido, passei a dizer que não queria mais ser astronauta, mas sim um estudioso (na época eu não sabia dizer o nome da profissão) de dinossauros. Queria conhecer as espécies, desenterrar todos aqueles gigantescos ossos e brincar de quebra-cabeça, até reconstruir com precisão, montando peça por peça (ou melhor dizer: osso por osso), o dinossauro. Essas duas profissões (se bem que profissão, naquela época, quando eu era menino, era algo que eu não entendia. Eu entendia, sim, apenas a pergunta “ser quando crescer?”, e não se falava, em momento algum, em “profissão”) representam todo um mistério, fascínio e fantasia a que todo menino entende como interessante.
            O tempo passou, e eu já não era mais o menino que queria ser astronauta nem mais o que queria estudar dinossauros; já tinha uma mentalidade menos fantasiosa, e estava naquela maravilhosa e confusa fase a vida a que se chama comumente de “pré-adolescência”. Nessa época, se quer ser é uma espécie de herói, e eu pensava, já arquitetando toda uma carreira, em vir a ser bombeiro e salvar pessoas, apagar incêndios. Se não fosse possível, pensava em ser um agente, tal como eu assistia nos filmes de Hollywood, pensando (em minha fantasia-juvenil) que aquilo era real.
            Na adolescência propriamente dita, no período vulgarmente chamado de puberdade, eu queria chamar a atenção das meninas (como todo adolescente que se preze) e ser um super-astro, ter muito dinheiro e ser muito famoso. Queria montar uma banda, que seria considerada “a maior banda de todos os tempos da última semana”, os videoclipes seriam os mais assistidos, faria muitos shows por mês e teria uma legião de fãs e todas as garotas iriam chamar pelo meu nome. Esse foi o primeiro sonho de profissão que eu tentei realizar. Comprei um violão e comecei a escrever umas músicas bem depressivas e melancólicas. Mas logo vi que não levava muito jeito pra coisa. Não tinha o menor jeito/vocação para tocar qualquer instrumento musical e as minhas letras (poesias) eram pobres de rima e ritmo. Desisti da ideia de ganhar garotas sendo um astro do rock, e parti para algo mais possível: ser jogador de futebol. Comecei jogando no time da rua, chegando a treinar no do bairro e participando de torneios no da escola. Cheguei a participar de alguns torneios, os “peneirões”, mas nunca passei em nenhum e, convenhamos, apesar de não ser um jogador dos mais “perebas” dos times que participei, também nunca fui nenhum craque de bola. Desisti da ideia de ser um craque do futebol e jogar na Seleção Brasileira, desisti de ser um super-astro do rock, ficando, assim, a frustração de não ter o meu nome gritado pela torcida nem pela turba de fãs enlouquecidas.
            O tempo passa, a vida passa, e já próximo da porta da “idade adulta”, pensei em que profissão seguir (pela primeira vez na vida, surgia a ideia/conceito de “profissão”). A primeira coisa que me passou pela cabeça foi ser médico, mas aí pensei na dificuldade que é o vestibular para medicina, e percebi que talvez eu não tivesse a vocação/paixão necessária para seguir a carreira. Advogado eu cheguei a pensar em ser, mas aí pensei nos “sapos” que teria que engolir, nas mentiras que teria que forjar, nos “tipos” que teria que defender e percebi que, definitivamente, não teria estômago para a profissão. Empresário eu cheguei a pensar em ser, mas aí vi que a falta de capital era um problema sério a ser pensado e, convenhamos, eu não tenho o mínimo “faro” para os negócios. Político, eu pensei, mas por uma espécie de “pura ideologia e ingenuidade”. Não tinha (e nunca tive) qualquer vocação para roubalheira, corrupção e coisas afins, e, além do mais, político idealista, verdadeiramente comprometido e honesto, não existe em nosso país, e se existe, não é eleito.
            Resolvi, então, deixar a vida me levar, já que só fazer planos não estava me levando a lugar algum. Fiz vestibular para história, com a ilusão de que poderia trabalhar com pesquisa, que poderia ver a ser um historiador, no sentido literal da palavra/profissão, mas vi que a realidade era bem diferente da que eu imaginava. Ser professor de história era algo que me seduziu por apenas algumas semanas, e ao me deparar, pela primeira vez com uma sala de aula e a realidade nas escolas... Acabei me deixando levar por minha paixão: livros. Meus pés acabaram me guiando a uma livraria.
            Hoje, fazendo uma retrospectiva de minha vida em profissões, ou sonhos de profissões, ou de sonhos do que queria ser quando crescesse, me bate uma saudade dos velhos tempos, de meus devaneios, de minhas fantasias, em que queria (e podia) ser tudo que quisesse, e bastava apenas querer para ser, fechar os olhos e responder a pergunta que me faziam: o que você quer ser quando crescer?

Um comentário:

  1. Engraçado como tem uma coisa constante na minha vida, a única coisa que gosto desde criança: livros. Eu sempre soube que queria fazer algo ligado a literatura. Mas mesmo assim eu dizia que queria ser médica. Bobagem de criança. Eu sou do tipo que não pode ver sangue.

    Eu nem sei como vim parar aqui, mas gostei muito do texto e do blog. Difícil encontrar alguém que realmente goste de escrever hoje em dia.

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