Hoje eu estou sozinho. Posso ouvir o som do vento batendo na
janela, o canto dos pássaros; posso olhar para o céu e ver seu azul e suas
nuvens tão delgadas, de um branco imaculado, puras como o sorriso de uma criança.
Hoje posso sentir a vida correndo
em meu corpo, pois estou só comigo mesmo. Posso sentir o sangue correndo em
minhas veias, sentir o ar entrando em meus pulmões, posso-me sentir
simplesmente vivo. Sentir as batidas do coração, olhar ao longe com visão clara
e ouvir todos os sons ao meu redor, ou posso ouvir simplesmente o palpável
silêncio.
Hoje, sozinho, posso fazer tudo,
ou posso fazer nada, ou ficar apenas observando o tempo passar, ora lento como
uma eternidade, ora rápido em sua loucura desvairada.
Hoje posso sentir todos os meus
sentidos. Posso tudo ver, mas posso fechar os olhos e nada enxergar; posso ouvir
os sonhos, ou ficar em silêncio; posso sentir o cheiro da vida, da mesma forma
que sinto o aroma do não-cheiro; posso sentir o calor na pele ao abraçar o
mundo, ou abraçar a mim mesmo; posso sentir o gosto doce da vida, ou ficar com
o não-gosto da solidão na boca.
Hoje, tão só, posso dar mil
voltas em torno de mim mesmo, em uma espécie de círculo vicioso, posso andar de
um lado a outro, ou posso ficar parado, cansado de tanto fazer e a canto algum
chegar.
Hoje, a sós comigo mesmo, tenho
todo o tempo do mundo, ao mesmo tempo em que não tenho tempo a perder.
Hoje, tão só, nessa longa espera,
só me resta esperar, até alguém chegar, até alguém chamar meu nome, até alguém
me dar um abraço e acabar de uma vez por todas com essa solidão que tanto me
faz bem, mas que, ao mesmo tempo, me faz tanto mal.
Me identifiquei pacas com isso, pois é dessa mesma maneira que me sinto agora.
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