Livreiro possui um espírito aventureiro, descobridor, tal
qual aqueles personagens tão conhecidos de tantos livros. O livreiro busca incessantemente
tesouros escondidos, perdidos naquela imensidão de prateleiras ou esquecido no
canto de baixo de uma mesa.
Livreiro não
é vendedor, apesar de constar tal profissão assinalada em sua Carteira de
Trabalho, pois seu trabalho não é vender, mas sim orientar, encantar,
surpreender e cativar não ao cliente, mas sim ao leitor sedento de uma boa
indicação de leitura. Livreiro também não é vendedor por que não vende produto
algum, mas sim Livros, e o que um livro mantém aprisionado em suas páginas em
branco e letras impressas não pode ser mensurado e comparado a produto algum.
Livreiro é
um completo e confesso apaixonado, e transparece a sua paixão em tudo, e é
facilmente reconhecido em suas palavras, atos e gestos, pois tem tatuado não na
pele, mas em sua alma, a sua paixão.
Livreiro
nunca é um alguém comum, pois tem “gostos e hábitos estranhos”, como ler em
ônibus, nas filas, enquanto espera seu número em um painel eletrônico; como
sentir o cheiro de livros com quem cheira a primeira flor a desabrochar na
primavera; como ouvir as vozes dos personagens do livro que está lendo; como
ser mais reservado e muitas vezes mais calado, silencioso e quieto, embora
estas características em nada tem a ver com sua mente e alma em eterna
ebulição, eternamente barulhenta que grita a tal ponto de lhe estourar os
ouvidos.
Livreiro não
é livreiro apenas em seu ambiente de trabalho, pois carrega consigo sua paixão
onde quer que vá, e sua paixão transcende a todas as paredes aonde venha a
estar encarcerado.
Livreiro
não vive apenas uma vida, mas sim mil e uma ao mesmo tempo. Reconhece em leitores
os personagens e situações vibrantes dos livros que leu e os cumprimenta como
se fossem íntimos de longa data, intimidade esta que só um grande livro pode
propiciar.
Livreiro conversa
sobre livros com intimidade e paixão apaixonantes, que faz com que aquele que
ouve as suas brotantes palavras tão sinceras, vindas do âmago de sua alma,
sendo reflexos da vida vivida nas páginas daquele cativante e formidável livro,
entrem pelos ouvidos do leitor e se espalhem por sua corrente sanguínea,
acelere os seus batimentos cardíacos e faça com que ele entre na história antes
mesmo de iniciar sua leitura, só em ouvir as palavras do loucamente apaixonado
livreiro.
Na casa de
um Livreiro não há livros guardados, mas sim vidas que brotam e voejam por
todos os ambientes de seu recinto sempre que um alguém abre algum daqueles
objetos mágicos e dá asas e vida aos personagens de cada uma daquelas histórias
contidas naquelas centenas, quiçá milhares, de livros.
Um Livreiro
nunca poderá ser definido com poucas e imprecisas palavras, por mais hábil que
seja aquele que tenta defini-lo, mas ele é claramente percebido em meio a uma
multidão, principalmente pelo sorriso quando se encontra em seu habitat
natural, dentro de uma biblioteca ou livraria, ou simplesmente entre livros ou
pessoa cujas almas vibram em consonância com a sua, que compartilham a mesma
paixão pelos mesmos livros.
.... Como eu disse no Face, livreiro é bem mais do que uma pessoa vivente, livreiro tem o dom da retórica e a sapiência das letras!
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