Sempre que se fala em família,
a primeira imagem / lugar que me vem à mente é uma cozinha. É na cozinha que
acontece se não as mais pomposas reuniões, pelo menos é onde ocorrem as mais espontâneas
e divertidas, onde se preparam todos aqueles pratos deliciosos feitos para as
mais diversas ocasiões: seja para um aniversário de um primo, prima ou tia,
seja para a ceia de natal ou outra ocasião deveras importância, mas o que
importa, para a família, não é a ocasião em si (o aniversário ou data
comemorativa é apenas um pretexto, uma “desculpa” para se reunir todo mundo).
A cozinha é
um ambiente amplamente dominado pelas matriarcas da família, onde é praticamente
vedada senão a participação, pelo menos a permanência por muito tempo, dos
patriarcas da família. Mas lá é permitida a entrada (e permanência) de todos os
primos, que entram com uma desculpa qualquer, de beber água, de pegar algo para
comer, e acabam ficando como quem não quer nada, rindo e participando mesmo de
alguma anedota, ouvindo algum causo acontecido em tempos áureos contado por
alguma das normalmente mais bem-humoradas matriarcas.
Na cozinha
reina a descontração, os risos, as vozes altas de todo mundo falando ao mesmo
tempo, e só há silêncio quando de repente surge entrando pela porta aquela
matriarca mais séria, normalmente a irmã mais velha, e todos os presentes param
o que estão fazendo, param de falar suas histórias mais “despudoradas” em
respeito a ela. E ela ama esse respeito que lhe devotam, no entanto ama mais
ainda a alegria reinante de sua família, e justamente por isso é ela quem
quebra o silêncio e abre seu baú de histórias ao contar uma história acontecida
há tantos anos...
A cozinha
além do local de espontaneidade, de tantos barulhos e risos, é o saboroso lugar
dos cheiros deliciosos, onde são preparados todos aqueles manjares dos deuses,
onde as matriarcas com mãos de anjo dão forma aos doces, onde manejam
habilmente colheres-de-pau e dão o exato ponto aos pratos que serão servidos
logo mais, à noite, mas que àquela hora, no instante do preparo, todos os
presentes são convidados a “participar do preparo” ao darem pitaco, dizendo se
está bom de sal, se ficou muito doce, se a consistência está boa, etc, etc e
etc. mas o felizardo mesmo é aquele que prova e diz “está perfeito”, e ganha em
agradecimento um enorme sorriso da hábil cozinheira e como prêmio (mais tarde) todas
as atenções na ceia e um pedaço mais que generoso da mais saborosa das
sobremesas.
Família é
família, seja lá em que lugar da casa for, em que ocasião for, mas que família reunida na cozinha é mais
família, é mais saborosa, é mais cheirosa, é mais espontânea, enfim, que
família é mais família na cozinha, isso é inegável.
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