Quando nasceu ela era tão diminuta que podia se esconder na
palma de uma mão. Frágil e tímida, ficava o tempo toda escondida, não se
mostrando para qualquer um, tanto que poucos eram os que tinham visto sua
verdadeira face.
Crescia tão lentamente que as
pessoas mal notaram quando ela saiu da palma daquela mão onde se mantinha
protegida e aquecida. Não foi fácil para ela dar os primeiros passos naquele
chão duro, naquela terra estéril onde nada parecia ser capaz de brotar. Mas ela
foi persistente. Pequena, ela foi capaz de entrar por pequenas brechas e
rachaduras que surgiam naquelas paredes altas e intransponíveis muros e, lá
infiltrada, germinar e crescer, fazendo com que o que antes era uma prisão
fechada, viesse a se rachar e quebrar por inteiro.
Pequena,
frágil e persistente, ela sempre sobrevivia nos mais inóspitos terrenos,
demonstrando, ali, sua real força, tamanho e verdadeira natureza.
Acabava, sempre, se machucando,
caindo de muito alto e por vezes até, por um curto momento, ela abaixava a
cabeça e por uma fração de segundos pensava em desistir de tudo, dar as costas
e ir embora, fugir. Mas sua natureza não lhe permitia desistir e dar as costas,
jamais, por mais que a machucassem. Erguia-se, sempre, mais forte, sempre
pronta para receber o próximo “baque” e, apesar de tudo, de todas a pancadas,
resistir, sempre.
Crescia a
olhos vistos, embora alguns cegos, céticos, não o percebessem. “Melhor assim”,
ela pensava, “quando derem por si, estarei grande, forte e suficientemente
solidificada de forma tal que não poderão me ignorar”.
Ela crescia
em muitos lugares e em muitas pessoas ao mesmo tempo. Era uma só e tantas ao
mesmo tempo, crescendo em tamanho e espalhando-se sem que as pessoas se dessem
conta e, quando se apercebessem, já estarem tomados e cativados por ela. Tê-la
brotado no peito era como um caminho sem volta.
Por ser tão
pequena, podia se infiltrar em todos os lugares e por mais estéreo que fosse o
lugar onde caísse, conseguia germinar e brotar, desde que fosse bem regada com
lágrimas, sorrisos e abraços.
Alguns enxergavam
nela a forma de uma flor e chegavam mesmo a sentir o seu doce aroma e o lento
crescimento de suas raízes quando ela se fincava no peito; outros a viam como
um sol ao surgir por entre as nuvens na primeira manhã de verão, e se sentiam
cegos momentaneamente quando a escaravam de frente, olhando em seus olhos; havia
os que a viam como um mar revoltoso, capaz de, com suas fortes ondas, abalar, das
profundezas, toda a estrutura de uma superfície que precisava ser abalada com
golpes fortes e inclementes, mas por vezes delicados e persistentes; também
tinha os que a viam como um céu azul, límpido e claro, sem uma única nuvem;
como um pássaro de penas dourados, outros a enxergavam, um pássaro delicados,
mas que podia voar livremente por todo o céu. Sabe-se, no entanto, que a sua
verdadeira forma é como a de uma estrela, que parece tão pequena e diminuta,
quando a vemos de tão longe, mas que, quando a percebemos com olhos claros, da
razão e da emoção, vemos o quão gigantesca é. Nome? Ela tinha vários, sim, e
atendia por muitos deles, mas preferia ser chamada e sentida apenas como Esperança.
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