Eu vivo com uma eterna saudade do tempo em que eu era apenas
um menino, que vivia minha vida livre de preocupações, das longas e
intermináveis horas em que ficava na expectativa, espera dos meus amigos, que
vinham à minha casa me chamar para sair, para brincar, para jogar bola. Lembro
com especial prazer da escola, do olhar a cada dois minutos para o relógio,
esperando para que eu pudesse ouvir o sinal indicando o fim das aulas, da hora
em que seria libertado daquele suplício que era, para mim, a aula de
matemática.
Eu vivo com uma eterna saudade do tempo em que eu era um
adolescente, de minha primeira fase da adolescência, em que eu era um desses
adolescentes fechados, tímidos, que no colégio sentava numa fila do canto, numa
das primeiras ou numa das últimas carteiras, nunca numa do meio, onde todos
falavam com todos, e onde eu me sentia mais só. Lembro do medo que eu tinha,
desejoso que as horas se arrastassem, do momento em que ouviria o sinal
indicando a hora do intervalo, em que seria praticamente obrigado a sair da
sala e ir ao pátio do colégio, onde veria tantas pessoas juntas, todas falando
com todas, e só eu, me sentindo sozinho, ia me sentar à sombra de uma árvore
para lá ficar, desejoso que o tempo corresse e o sinal indicando o fim do
intervalo se fizesse ouvir e toda aquela turba de estudantes corresse
desenfreada rumo às salas e eu, com meus passos lentos, seguisse logo atrás.
Eu vivo com uma eterna saudade de minha segunda
adolescência, dos tempos do mesmo colégio, em que sentava na mesma carteira, em
que fantasiava uma paixonice com uma colega de classe que se sentava no outro
extremo da sala, tão distante, que eu ficava o tempo todo a contemplá-la,
pensando no que ela poderia estar a pensar, no que a tinha feito rir, e não
prestava atenção às aulas de química, física e matemática. Lembro com especial
prazer da intensidade dessas injustificadas paixões adolescentes e da dor que
sentia quando a via com um rapaz mais velho, da dor da decepção não com ela,
pois ela nada tinha a ver com o que eu sentia, pois sequer notava a minha
existência, mas decepcionado comigo mesmo.
Eu vivo com uma eterna saudade dos últimos anos do colégio,
quando via todas aquelas pessoas com quem tinha convivido por tantos e tão
longos anos, que no ano seguinte cada um seguiria seu rumo, entrando numa
faculdade uns, enquanto outros teriam que enfrentar mais um ou dois anos de
cursinho para conseguir, enfim, sua aprovação num vestibular. De alguns eu
tinha conseguido me aproximar (na verdade, eles tinham se aproximado de mim),
dos quais sentiria uma saudade especial. Lembro do medo da responsabilidade que
senti quando preenchi o formulário com a inscrição do vestibular, da carreira
que deveria seguir, do medo de uma não-aprovação. Lembro da felicidade quando
senti explodir em meu peito quando, enquanto acompanhava, na televisão, a leitura
da lista com o nome dos aprovados, que uma prima me ligou dizendo que tinha
ouvido, em outro meio de comunicação, o meu nome entre os aprovados.
Eu vivo com uma eterna saudade dos primeiros anos na
universidade, em que era ainda tão imaturo, nem adolescente nem adulto, e que,
num resquício de uma adolescência ainda não ultrapassada totalmente, sentava na
sala no mesmo canto em que sentava outrora nos tempos de colégio. Lembro com
especial prazer da noite em que, chegando a universidade, decidi por me
libertar daquela timidez da adolescência e que decidira por ser a minha
primeira atitude, mudar de lugar na sala, sentando-me no meio, exatamente onde
as pessoas conversavam, onde o professor detinha seus olhos, esperando que
alguém se pronunciasse para iniciar uma discussão. Lembro com especial prazer
quando levantei pela primeira vez a mão e chamei a atenção de toda a sala para
mim e fiz um questionamento pertinente, iniciando, assim, uma discussão que não
pôde ser finalizada naquela noite, tendo que ser retomada na aula seguinte.
Eu vivo com uma eterna saudade do dia em que não me vi mais
como um adolescente, mas como um adulto, quando senti, pela primeira vez, a
responsabilidade que recaia sobre meus ombros ao adentrar nessa idade, das
expectativas para essa nova fase de minha vida. Lembro com especial prazer do
dia em que recebi uma ligação de uma pessoa dizendo que eu tinha passado na
seleção para um estágio, que no dia seguinte teria a minha primeira experiência
profissional.
Eu vivo com uma eterna saudade daqueles meses que
antecederam a minha formatura, pensando na saudade que sentiria de todas aquelas
pessoas, cumplices de um tempo feliz, de tantos trabalhos feitos juntos, de
tantas discussões instigantes tendo como mediador um professor, que se sentia
tão satisfeito ao verem seus alunos tão empenhados em defender seus pontos de
vista sobre determinada e pertinente questão. Lembro com especial prazer da
noite de formatura, do rito de despedida de um tempo e início de um outro; dos
amigos que se formavam, dos votos de amizade eterna, de felicitações.
Eu vivo com uma eterna saudade de tantos, tantos e tantos
tempos, de tantos, tantos e tantos momentos e dias marcantes de minha vida que
não consigo mantê-los guardados numa gaveta da memória, que tenho que
relembrá-los, revivê-los, senti-los novamente; sentir seu pulsar, tão presentes
e vivos que posso até senti-los entre meus dedos e tocá-los. Lembro com
especial prazer de cada momento, de cada vida que vivi, e por isso vivo
eternamente a lembra-los com uma eterna e uma gigante saudade de um tempo que
nunca se foi, pois eu não o deixei ir embora, fazendo com que ficasse para
sempre aqui, pulsando em meu peito, pedindo para ser vivido novamente, pelo
menos enquanto eu me lembro deles com uma eterna e especial saudade.
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