Eu queria ser uma árvore e ter raízes fundas, enterradas na
terra. Os pássaros iriam criar seus ninhos e meus braços e seriam como meus
pensamentos e sonhos. Eu iria cultivá-los e, quando estivessem suficientemente
maduros, prontos, abririam suas asas e voariam para bem longe, para voltarem
aos meus braços quando estiverem realizados, para criarem seus novos ninhos. O
vento iria levar minhas palavras mudas, mas, mesmo assim, palavras, que
chegariam aos quatro cantos do mundo. Seria admirado pelo meu tamanho, visto de
baixo para cima, tão grande, pelos seres que andam com os pés plantados no
chão, e visto de cima para baixo, tão pequeno, pelos pássaros no céu.
Eu queria
ser uma árvore, ser sólido, não como uma rocha, sem vida, mas com uma vida pulsante
em todo o meu corpo, desde a raiz até a última folha em minha copa. Sentir e
ser vida, como poucos os seres viventes na terra o são, e ver, lá do alto, todo
o mundo se descortinando a meus pés, podendo tocar as nuvens com as pontas de
meus dedos.
Eu queria
ser uma árvore para ser um berço de vida, um berço de amores, quando os casais
apaixonados viessem até mim e deixassem, marcado em minha pele, seus nomes,
como votos de um amor eterno, que eu carregaria, como testemunha, até quando
eles não mais se lembrassem de tais votos. Ser eterno como os votos desse amor,
mesmo quando não existisse mais amor, mesmo quando as pessoas desse amor não
mais existissem.
Eu queria
ser uma árvore, para ser único, para ser tão especial para tão poucos e para
tantos; para ser sombra, mas também para ser fonte de calor, para ser fonte de
vida, para me vergar ao vento e a nada me subjugar; para ser o primeiro a
sentir as primeiras gotas d’água da chuva que cai do céu e sentir seu toque
frio e quente, escorrendo por todo o meu corpo, até caírem, finalmente, no
chão, indo se enterrar fundo, na terra, próximas às minhas raízes.
Eu queria
ser uma árvore para que todos viessem, em dias de chuva, se abrigar por entre
meus galhos, protegendo-se; para que, em dias de sol, viessem se proteger sob
meus braços, na minha sombra. Ser como um abrigo, como um amigo, um alguém em
quem se confia, um alguém a quem se ama.
Eu queria
ser uma árvore para ouvir todas as vozes. Ser o primeiro ouvir o canto dos
pássaros a saudar um novo dia, ser aquele a quem se confia os segredos mais
íntimos, os sonhos mais secretos e os maiores devaneios, e ser a silenciosa
palavra de consolo.
Eu queria
ser uma árvore, para ser forte em aparência, mas para ser frágil em minha
essência. Ser fúria ao enfrentar bravamente as tempestades, mas ser paz em cada
final de dia, quando o sol se põe no horizonte e é em mim que ficam seus
últimos raios, em quem fica gravado o último brilho de seu olhar antes de se
deitar lá longe, em quem fica seu último calor antes de deixar-nos a sós com a
escuridão da noite.
Eu queria ser uma
árvore e ser eterno. Eterno como o amor declarado pelo casal apaixonado, eterno
como é o ciclo do dia, como despertar do sol todas as manhãs e o canto dos
pássaros a saudá-lo e eterno como o viver, como são as marcas que deixamos na
vida daqueles que encontramos, como sementes a cultivar que plantamos, que um
dia lançarão raízes fundas e crescerão como frondosas árvores.
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