Um dia lhe disseram que ele teria a mais dura e difícil
missão de sua vida: seu um guardião! A princípio não soube do que se tratava
aquela missão e não sabia o que ele iria ter que guardar, até que surgiu, vindo
do nada, uma caixa feita do mais puro metal. Parecia firme e sólida como a mais
antiga montanha aquela caixa, e o homem ficou longas horas a contemplá-la no
mais profundo silêncio. Tocava-a, para sentir sua textura, e descobriu que aquele
metal, ao contrário do que pensava, não era frio e tão duro, mas quente e de
toque suave como a pétala de uma rosa.
Dia após dia
ele zelava por aquela caixa como o mais dedicado dos guardiões. Ficava noites
em claro para que ninguém a tocasse. Em muda contemplação, ele se perguntava
como e por que alguém fizera algo tão perfeito, tão hermético, de formas tão proporcionais
e precisas. Aquela caixa tinha sido projetada pelo mais competente engenheiro e
seu projeto executado pelos mais hábeis artífices.
Com o
passar do tempo, ele começou a se perguntar do porquê daquela tarefa de guardar
e zelar por aquela caixa, se ela era tão sólida que nada poderia quebrá-la!
Passou, então, a ficar desleixado com a sua tarefa. Não mais perdia noites de
sono para cuidar dela, não mais a contemplava nem lhe diria palavras elogiosas
e sinceras. Relegou a sua tarefa como guardião e ficava dias mesmo sem sequer
olhar e tocar na caixa. Aquela caixa, julgava ele, não precisava de nenhum tipo
de guarda ou proteção, afinal de contas era sólida e nada poderia lhe
acontecer.
Um dia,
quando voltava para casa após uma longa ausência, percebeu que havia uma fina
fissura na caixa e se aproximou para averiguar. Não entendeu como aquilo
acontecera, pois a caixa era inquebrável. Com a mão em sua superfície e
lembrou-se da primeira vez em que a tocara, em que a sentira tão quente e
delicada. O local em que havia surgido a fissura era justamente aquele em que
ele primeiro havia posto a sua mão. Começou a examinar a caixa e a pensar a seu
respeito. Tocou-a em toda a sua superfície e colocou seu ouvido colado à sua
lateral enquanto a balançava suavemente. Percebeu, então, que havia algo dentro
daquela caixa, algo frágil feito do mais fino e delicado cristal, precioso como
o maior dos tesouros.
Soube somente naquele instante
que a sua tarefa consistia não em ser o guardião daquela caixa, pois ela era apenas
um invólucro, mas sim do que havia em seu interior, que era algo extremamente
delicado e precioso. Ele então chorou e pediu desculpas. Abraçou a caixa e com
suas lágrimas nos olhos lhe pediu desculpas, e a partir daquele momento
tornou-se, realmente, o mais zeloso e cuidadoso dentre todos os guardiões, e
assim foi até o fim de seus dias.
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