Parado ali, sentado naquele banco, com os olhos perdidos na
imensidão do oceano que se cortinava diante de si, ele via o movimento das
marés, a confusão das ondas num ininterrupto indo e vindo, ora avançando alguns
palmos, ora recuando alguns centímetros. Via o mar se aproximar de onde estava,
tímido, como que querendo seduzi-lo. O homem resistia bravamente, pois não
desejava se deixar levar por aqueles gestos levianos, por aquelas melífluas
palavras do mar. Olhava ao seu redor e via todas aquelas pessoas, ingênuas, se
deixando levar, se deixando seduzir, jogando-se com os braços abertos, ora
pulando as ondas, ora deixando-se abraçar e ser engolidas por elas. As pessoas,
seduzidas, mergulhavam no seio do mar, imergindo naquelas perigosas ondas, e
emergiam com os olhos abertos e um estranho sorriso estampado no rosto. “Devem
ter enlouquecido”, pensa, e as julga e recrimina mentalmente por terem-se
deixado seduzir tão facilmente!
Enquanto está
ali, perdido em seus devaneios, o mar se aproxima mais alguns centímetros sem
que ele se desse conta. “Estão todos perdidos e loucos”, fala para si, quando vê
que todos estão se jogando de braços abertos nos braços do mar. Fecha os olhos,
pois não quer ver tantas pessoas se perderem de tal maneira, mas seus ouvidos
captam todos os sons, de todas aquelas pessoas, de suas vozes, de seus
sorrisos; dos sons do mar, das ondas quebrando, de sua música harmoniosa e de
sua voz sedutora.
Sentia-se
desconfortável ali, sentia-se tão pequeno diante de algo tão grande como o mar.
Queria ir embora e nunca mais voltar a ver aquele ser pulsante de vida, tão
forte, tão imenso. Mas não conseguia mexer-se. Era como se tudo aquilo ao seu
redor tivesse lhe lançado um feitiço para mantê-lo ali, parado, completamente
estático, com os olhos fixos num ponto qualquer daquele imenso oceano. O sol, a
areia, o barulho das ondas, a umidade, o calor, o reflexo da luz no espelho do
mar, as nuvens no céu, tudo era como um complô, todos estavam mancomunados para
segurá-lo com suas mãos e influências ali.
Desesperado,
ele tentou se levantar, mas não conseguiu. Aquelas forças que o prendiam eram
mais fortes do que ele. Queria gritar quando viu o mar se aproximar lenta e
perigosamente de seus pés, mas as palavras ficaram presas em sua garganta. Ele olhava
de um lado para o outro, como que procurando um alguém que entendesse o seu
desespero e viesse em seu socorro, mas ninguém o notava: estavam todos perdidos
em seus pensamentos, estavam todos sob a influência, seduzidos pelo mar.
Os dedos do
mar em suas ondas foram se aproximando lentamente dele. O mar não tinha pressa,
pois sabia de sua força, tinha plena consciência do poder de sua sedução. O homem
sabia que não havia nada que pudesse fazer e fechou os olhos ante aquele
primeiro toque, aquele primeiro impacto de seu corpo com as ondas do mar que se
aproximava. Prendia a respiração e sentia medo, pois temia o turbilhão de
sensações que poderiam lhe assolar com aquele primeiro toque.
Suave, foi
o primeiro toque do mar nos pés do homem. “Suave e frio”, constatou o homem.
Foi abrindo lentamente os olhos e viu os dedos das ondas a lhe acariciar os pés.
Pouco a pouco sua respiração foi voltando ao normal e os batimentos de seu
coração, antes acelerados, foram se suavizando. Ele fechou novamente os olhos
para prestar atenção às palavras do mar e se deixou tocar. Levantou-se e deu
alguns passos inseguros mas decididos. Abriu os braços e sorriu quando foi
recepcionado pelo caloroso abraço de uma onda. Tornou-se assim mais um daqueles
loucos e inconsequentes que haviam se deixado seduzir pelo mar...
Nenhum comentário:
Postar um comentário