Caía uma tempestade lá fora quando acordei. O barulho do
vento, o ribombar dos trovões e as luzes dos relâmpagos e dos raios acabaram
por me despertar. Fiquei parado, deitado como estava, debaixo do meu cobertor,
ouvindo os sons da fúria lá fora. Fazia frio e a chuva parecia que nunca mais
iria cessar como se tivesse se iniciando um dilúvio naquele instante. Do lado
de fora não se ouvia um único som que não fosse o da chuva caindo e dos
trovões.
Tentei fechar os olhos e obrigar
meu corpo a pegar no sono, mas não consegui. O cobertor me pesava sobre o corpo
e o arremessei para longe. Sentia calor e não mais frio. Abri os olhos,
irrequieto como estava, me mexendo de um lado para outro na cama, e a princípio
não vi nada naquela escuridão, até que a luz de um relâmpago entrou pela fresta
na janela de meu quarto, iluminando tudo ao meu redor como se fosse dia.
Levantei-me e fiquei andando de
um lado pro outro pelo quarto, ouvindo barulho da chuva e do vento tamborilando
na janela de meu quarto. Era um barulho ensurdecedor que me dava medo. Mas eis
que um barulho mais alto do que toda aquela fúria do céu me chamou a atenção. Era
como uma suave música, inebriante mesmo. Fechei os olhos para ouvi-la melhor e
consegui distinguir o som de mil e um instrumentos sendo tocados juntos.
Abri a janela e fui recebido pela
carícia das lágrimas do céu, do toque frio do vento e por aqueles mil sons que
vinham de todos os cantos. Sai de casa pulando pela janela e me vi no meio
daquela tempestade, com os braços abertos, tomando um banho de chuva, escutando
aquele maravilhoso e pungente som, quando, subitamente, um vento me pegou pelos
braços e me conduziu numa dança sem passos marcados e definidos.
Naquela dança que durou a noite
inteira, no meio daquela chuva, me dei conta que toda aquela tempestade,
ventos, trovões, raios e relâmpagos não significavam a fúria do céu, mas sim a
sua festa, para a qual eu tinha sido convidada.
Muito bom! Gostei muito!
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