domingo, 6 de maio de 2012

As Palavras e Seus Sabores


Cada palavra tem seu sabor. O Amor, por exemplo (ah, o Amor! Sempre Ele, tão presente, mesmo quando ausente em nossas vidas!), tem um sabor doce e suave, que de tão suave sai por nossa boca e sem que percebamos, sorrimos. Amor é doce com um sabor inebriante, que preenche nossa boca e nossa alma do mais doce amor.
            Paixão, ao contrário do amor, tem um sabor mais característico e forte, mais intenso. É doce sim, mas de um doce mais marcante, que gera um vício, que pede sempre mais, que nunca se sacia.
            Infância, para mim, tem sabor de bala de morango, igual àquelas que costumava comprar na mercearia da esquina, mas também pode ter mil e um sabores, todos eles doces.
            Não sei por que, Noite, para mim, sempre teve sabor de papa de chocolate, e Dia de manga. Frio tem gosto de sopa, e Quente de picolé.
            Mas nem toda palavra é doce. Solidão, por exemplo, tem um sabor amargo, que nos faz sentir um peso no peito, um aperto na garganta, tal qual uma lágrima presa. Solidão fica com o sabor preso em nossa boca, que demora a nos abandonar, por mais que bebamos água para afastá-la.
            Talvez, o gosto de Solidão só o abandonamos ao provarmos o sabor que tem a palavra Abraço, que tem um gosto forte, aconchegante, como uma xícara de chocolate quente numa noite de inverno.
            Há, também, palavras com o gosto ruim. Ódio, por exemplo, é uma palavra que tem um gosto amargo, que de tão ruim é capaz de, da boca, passar para todo o nosso corpo, como se só em pronunciá-la, nos tornássemos cheios de ódio, de um amargor que toma toda a nossa alma.
            Inveja tem um gosto que engana. Parece doce, mas de algo doce como um veneno colocado que nos dão para beber. Pouco a pouco, o doce desaparece e fica o do veneno, que contamina nossa alma e não nos deixa mais sentir sabor algum que não o do vício, que não o da inveja.
            Batalha tem sabor de fruta madura, que enfrentou todas as intempéries, lutou, sobreviveu, cresceu e amadureceu. Vitória, então, tem sabor de salada de frutas, saborosa como só ela o é.
            Amizade tem sabor de churrasco e feijoada aos domingos, de reunião na casa de amigos, de conversa jogada fora, de música alta que incomoda os vizinhos.
            Preguiça tem sabor de pão com manteiga, que comemos na segunda-feira pela manhã quando estamos para começar mais uma longa e estafante semana de trabalho.
            Trabalho tem um gosto bom, o qual eu não sei bem definir de que é, mas que às vezes provoca enjoo e que não nos dá vontade de ir trabalhar em alguns dias.
            Há palavras as quais saboreamos de tal forma que esquecemos, mesmo, do mundo que nos cerca, só por estarmos inebriados por seu sabor, mas também há palavras com um gosto amargo, que demora a sair da boca. Há palavras azedas como um limão, amargas  tais quais aqueles remédios que nossas mães nos davam em nossa infância quando estávamos com febre, mas também há as saborosas e apetitosas como uma bela macarronada, as deliciosas e divinas como um belo pedaço de chocolate e suculentas como um sanduíche.

            Palavras não foram criadas para serem jogadas ao vento, para serem usadas como armas mortais, como algumas o são. Palavras devem ser não só usadas, mas sim saboreadas. Experimente, sinta, fale, saboreie-as.

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