O homem observava, lá do alto, o abismo que se descortinava
a seus pés. Sentia o vento forte bater em seu rosto, como que o convidando para
um salto, para que desse apenas mais um passo e pudesse mergulhar nos braços de
uma eternidade. Fechou os olhos e deixou-se tomar pelo vazio, pela paz e pelo
silêncio de tudo ao seu redor. Respirava devagar, sentindo o ar inflar, pouco a
pouco, os seus pulmões. Sentia o bater de seu coração, tuntum, tuntum, ora lento e ora acelerado.
Estava triste,
como jamais se sentira, e fora até ali para encontrar o nada e encontra-se
consigo, mas tudo com que acabou se deparando foi com o vazio. Esperava encontrar
respostas, mas agora estava cara a cara com o silêncio que nada respondia sobre
nada. Vivia, naquele momento, uma mescla de conflitantes sentimentos em sue
peito. Fechava os olhos e abria os ouvidos, mas nada ouvia; abria os olhos e
fechava os ouvidos, mas nada via. Sua única companhia era o silêncio, sua
sombra e suas incertezas. Esperava, mas o quê?, nem mesmo ele sabia.
Revivia os
momentos sofridos recentes e a dor voltava a lhe afligir. Seu peito doía, a
respiração ficava pesada e lágrimas lhe vinham aos olhos. Uma lágrima, num mergulho
suicida, escorreu pelo seu rosto e foi carregada pelo vento, sendo levada lá
para baixo, para o fundo do abismo. Ajoelhou-se no chão de pedras duras e
chorou doloridas lágrimas, que regaram o chão, de brotou uma pequenina flor
pálida como o último sorriso, que ela lhe deu; justamente o último sorriso
antes de seu pedido de desculpas.
- Mas você
prometeu – ele havia dito.
- Há
promessas que não podemos cumprir, por mais que o desejemos – ela havia
respondido. Depois, o silêncio.
Ela estendeu
a mão, esperando que ele a pegasse – o seu último gesto antes do sorriso sem
brilho, apenas com os lábios a esboçar o que pretendia ser um sorriso, e antes
de falar a última palavra – , mas ele permaneceu imóvel, entre o desejo de
abraçá-la, de segurá-la, impedindo-a que se fosse e o deixasse ali, sozinho
naquele mundo.
- Desculpe –
ela falou, e fechou os olhos. A sua mão, que continuava estendida, caiu sobre
seu peito.
- Não, não,
não e não... você prometeu que iríamos ficar para sempre juntos; você prometeu!
– berrava ela, agora abraçado ao corpo sem vida.
Agora estava
ali, relembrando, cobrando a promessa que haviam feito há tantos anos ao mesmo
tempo em que aceitava o seu pedido de desculpas.
- Por que
você se foi? – perguntava ele, esperando que o vento levasse a pergunta e lhe
trouxesse uma resposta. Bastava-lhe uma resposta, uma única palavra, para lhe
acalmar a alma e lhe trazer alguma paz. Mas nenhuma resposta vinha trazida pelo
vento.
A sensação
de solidão lhe tomou por inteiro e ele sofreu, como jamais havia sofrido. A dor
era tamanha que ele sentiu todas as suas forças lhe escapando, como as lágrimas
que escorriam pelo seu rosto e caíam a seus pés.
Não aguentava
aquela dor, não podia suportá-la sozinho e, com as forças que ainda lhe
restavam, gritou. Em suas palavras, chamava por ela. Mas ela permanecia calada.
Abriu os
olhos, e mesmo com a visão turva por conta das lágrimas, pôde ver o vazio a sua
frente e o abismo a seus pés. Mesmo sem conseguir se equilibrar em suas
próprias pernas, se pôs de pé.
Inflou o
peito e gritou:
- Você
prometeu que iríamos ficar juntos para sempre!
Sentiu,
então, o vento a lhe acariciar o rosto. Era um toque suave, como o toque dela,
com dedos delicados. Com os olhos fechados, ele se deixou tocar pelo vento, por
ela, que o atraía suavemente para seus braços, para dar um passo, para dar um mergulho
e pudessem cumprir a promessa de estarem para sempre juntos.
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