Por favor, minta para mim. Diga que sempre esteve a me
esperar, mesmo nunca tendo pensado em mim; diga que sou único, mesmo eu sendo
tão comum; diga que sonha comigo todas as noites, apesar de suas longas e
infindáveis noites insones. Diga que ficará comigo por toda uma eternidade,
mesmo que esta dure apenas cinco minutos; diga que fomos feitos um para o
outro, apesar de nossas enormes diferenças e tão poucas semelhanças. Mas diga,
minta, com sinceridade, para que eu possa olhar eu seus olhos e, ao ver o
brilho deles, possa me iludir, sentindo-me o homem mais feliz do mundo. A mentira
sincera agrada, acalenta a alma, mesmo sendo ela um infortúnio, o único, de um
infeliz, que não tem nada, que não tem ninguém, e que precisa de uma única
palavra para ter um instante de felicidade na vida, que a faça valer a pena,
mesmo que esteja palavra seja uma mentira. Mentira, sim, mas que tenha sido,
por uma fração de segundo, uma verdade, se não para quem a conta, pelo menos
para quem a escuta, e a ela se agarra com toda a sua força, como se só nela lhe
restasse a salvação.
Um infeliz
é como um náufrago no meio de um oceano numa noite de tempestade. Sozinho, ele
já não tem esperanças, já não lhe resta motivo algum por que lutar, por que
viver. Entrega o que resta de sua vida aos braços do destino, mergulhado
naquele imenso oceano de solidão. Mas eis que lhe surge um raio de sol em plena
meia-noite, uma esperança, um sentido para sua vida em forma de palavra, de uma
única palavra, nem que esta palavra seja uma mentira sincera. Não lhe importa
que seja uma mentira, pois, para ele, nesse momento, tudo é esperança.
Esperança...
quem diria que esperança seria, nessas circunstâncias, tão próxima, dependesse
tanto de uma mentira...
Mas a
mentira não pode ser em vão. Ela tem que ter um propósito, tem que possuir o
seu “q” de sincero. Não pode ser à toa, como uma palavra jogada ao vento, sem o
menor cuidado, como se fosse direcionada a qualquer um. A mentira é única, tem uma finalidade, que é a de fazer um alguém feliz, nem que seja por cinco
minutos, que lhe serão eternos, nem que seja para fazê-lo único por um
instante.
Pode-se
mentir para tudo, desde que seja uma mentira sincera, portanto, minta, por
favor, pois a verdade, a dura verdade, por vezes, machuca muito mais do que uma
doce mentira.
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