Não é fácil ser escritor! Não é nada fácil pegar aqueles
negócios diminutos que para alguns são apenas letras, coloca-los numa sequência
lógica de forma que produzam um som, que formem palavras e destas dar-lhes um
sentido dentro daquele organismo vivo chamado frase. Por vezes ficamos longos
minutos pescando no ar letras e palavras que estão ali, à nossa frente,
flutuando, juntando-as, por vezes brigando com elas, segurando firmemente com
nossas mãos, lutando para que se encaixem perfeitamente no corpo daquela frase.
Escrever dói!
Escrever é cortar a própria carne, é expor a própria alma, fazer aflorar e se
deixar tomar por aquele sentimento que jazia adormecido no fundo do coração,
com o qual não queremos nunca mais nos deparar justamente por temê-lo. Escrever
é falar de si mesmo, do que acredita, mesmo que esta verdade venha disfarçada,
camuflada entre mil e uma palavras bonitas de uma bela ficção.
Escrever é
viver, é suar, é chorar! Nenhum texto vem ao mundo pelas hábeis mãos de um
simples escritor sem a medida exata de dor, sofrimento e esforço. Existem, sim,
momentos de “iluminação”, de um “rompante de inspiração”, que são raros, e
nestes os textos fluem mais, as palavras “saem mais fácil” e se encaixam com
naturalidade naquela “frase perfeita”, mas mesmo nestes momentos, o escritor
sofre para manter-se na luz, sofre para não deixá-lo passar e fazer jorrar
mais, mais e mais palavras e chora, angustiado, ante o medo de perdê-lo sem que
antes tenha colocado o último ponto na última frase daquele texto que, a seus
olhos, adquire a beleza de uma obra-prima.
Escritor é
um ser deveras mentiroso! Ele pega uma verdade e a distorce, contando-a de tal
maneira, disfarçando-a, camuflando-a de tal forma que ela se torna irreconhecível
sob a roupagem de uma ficção. Por outro lado, ele colhe uma mentira, uma
ficção, e com ímpar habilidade para tecê-la de forma que, no final, ela está
tão bem contata e apresentável que se confunde e confunde muita gente que a
toma como “a verdade absoluta e indiscutível”.
Escritor,
apesar de humano, é um ser a parte! Ele é diferente, vive mil e uma vidas, que
se mostra com mil e uma faces, todas elas sendo diferentes, mas nenhuma delas
deixando de ser ele. Ele tem hábitos, gostos e rotinas diferentes de todas as
outras pessoas, pois é regido não pelas “vontades do mundo”, mas sim pelo que
manda o texto que quer e força um “nascimento”, sendo dele uma espécie de
escravo, um canal para que possa vir ao mundo!
.... Ah, escrever, de fato, não é fácil não, acho que é preciso insight, hora certa, sabe-se lá qual e conseguir a proeza de escrever algo tão bom que cative e conquiste o futuro leitor e aí é que está realmente o imbróglio da questão. Porque podemos escrever, escrever e fica por isso mesmo ou podemos apenas colocarmos algumas linhazinhas no papel e isso se torna um argumento irretorquível para que o escritor seja instigado a continuar. Se bem que, acho, todo autor precisa se precaver com seus insights e não deixar se manipular, não é necessariamente porque escreveu algo tãããõooo bom que escreverá de novo e é preciso prestar muita atenção quanto a isso, ou seja, malhar em ferro frio, jamais. A inspiração acabou, o dom acabou, que fazer né, eu acho que emendas ficam piores do que sonetos. Hoje em dia é uma tal mania de trilogias, começa um troço e obrigatoriamente, sei lá se por conta de interesses pecuniários, vamos ao volume 2,3,4, sei lá que mais, esticando um assunto que não tem mais para onde esticar e fica tudo muito sem graça, fica tudo muito chato.
ResponderExcluirEm suma, eu penso e enfatizo que é preciso o dom de escrever, saber bem fazê-lo, mas sobretudo fazer a ficha cair e apreender se o insight ainda se mantém ou se foi parar em outras plagas.
Achei interessante qndo vc diz: "Escrever é falar de si mesmo, do que acredita, mesmo que esta verdade venha disfarçada, camuflada entre mil e uma palavras bonitas de uma bela ficção". Como leitora, também sinto q o q se lê diz um pouco de vc. No meu caso sempre busco algo q eu possa me identificar de uma forma ou de outra... Muito bom seu texto. Nunca havia parado pra pensar sobre um escritor ao ato de suas produções.
ResponderExcluirTem dois trechos em especial que eu achei muito fortes.
ResponderExcluir"Escrever dói! Escrever é cortar a própria carne, é expor a própria alma, fazer aflorar e se deixar tomar por aquele sentimento que jazia adormecido no fundo do coração, com o qual não queremos nunca mais nos deparar justamente por temê-lo."
Eu achei isso muito íntimo e muito intenso. Achei particular você escrever isso, e me deixou até sem palavras.
O outro trecho foi:
"Escritor é um ser deveras mentiroso! Ele pega uma verdade e a distorce, contando-a de tal maneira, disfarçando-a, camuflando-a de tal forma que ela se torna irreconhecível sob a roupagem de uma ficção."
De fato o escritor é um mentiroso de primeira categoria, e isso é até engraçado da parte dele, e de sua parte, claro, por integrar essa categoria. A vida é bela porque nela existem mentirosos que ousam pegar papel e lápis e, através das palavras, colorir essa vida vazia
Obrigada por você ser escritor e ousar colorir a vida.
Escritor é um cara que vai no blog chorar as pitangas ao invés de sentar e escrever.
ResponderExcluirDe chorar mesmo!
Na entrega do Oscar 2014 de melhor roteiro adaptado, Robert De Niro disse o seguinte:
ResponderExcluir"A mente de um escritor pode ser uma coisa verdadeiramente aterrorizante. Isolada, neurótica, estragada pela cafeína, prejudicada pela procrastinação, consumida por sentimentos de pânico, auto-aversão, de esmagamento da alma e de inadequação ... Isso quando está em um dia bom."
Achei bastante apropriado!
Muito bom!
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