Ele tinha medo, tanto que construiu ao seu redor uma
intransponível muralha onde nada nem ninguém pudesse entrar. Ali, no alto de
uma torre, ele ficava vigilante dia e noite, zelando por sua própria segurança.
No início, pessoas e sentimentos ousaram se aproximar, mas vendo que por mais
que tentassem, não conseguiam entrar naquela fortaleza nem que o homem que
vivia ali dentro ousava abrir as portas e sair, desistiram.
Ele não
cansava, nunca, e sua resolução de se manter seguro e salvo para sempre era
tamanha que passava noites em claro só com o intuito de ficar vigiando, para
que nada se aproximasse e tentasse atravessar os muros de sua fortaleza.
Com o
passar do tempo, no entorno da fortaleza tudo se tornou deserto, tudo de tornou
um imenso mundo estéril onde nada era capaz de sobreviver, e só quando isso
aconteceu ele pôde, finalmente, se sentir seguro, pôde pregar os olhos e dormir
uma tranquila noite de sono.
Fechou os
olhos e deixou que o silêncio e a paz o tomasse, mas, estranhamento, aquele
silêncio guardava em seu seio algo pior do que todos aqueles medos que ele
procurava manter do lado de fora, longe. Olhou ao seu redor, mas nada
encontrou. Tentou conciliar o sono, mas não conseguiu. Seu coração batia com
força em seu peito e sua respiração estava pesada. O medo tinha entrado e se
escondido nas estranhas daquele silêncio, e agora o homem, estava perigosamente
a sós, trancado naquela fortaleza, com ele.
Abriu as
janelas para que a luz de fora, seja do sol, seja da lua – ele não sabia que
horas eram, pois havia perdido completamente a noção do tempo – pudesse entrar,
mas percebeu que os muros que tinha construído eram tão espessos, altos e
intransponíveis que sequer a luz do dia ou da noite conseguia entrar.
Estava sozinho
com algo que lhe metia tanto medo que lhe turvava os sentidos, e não havia nada
que pudesse fazer, pois fora ele mesmo que se trancara ali com aquela solidão. Corria
de um lado pro outro, desesperado, mas por mais que se afastasse, por mais
rápido que fosse, jamais chegaria a ficar longe ou se afastar daquilo que
temia; gritava, mas a única resposta que lhe chegava aos ouvidos era a voz solidão
lhe dando com única resposta o eco das suas próprias palavras que reverberavam
nas paredes de sua fortaleza.
Desesperado,
correndo de um lado pro outro, tentando fugir da solidão que o perseguia, ele
parou em frente ao portão que o comunicaria ao mundo exterior e tentou abri-lo,
mas não conseguiu. Deixou-se cair ali, e se deixou abraçar por aquela
inexorável solidão que vinha em seu encalço, e quando sentiu os braços dela se fechando
em torno de si, olhou para o alto, para os muros de sua fortaleza, e se deu
conta de que havia construído não um local onde pudesse se manter seguro, mas
sim a sua própria prisão, que tinha a exata forma de seu próprio mausoléu.
Muito bom seu texto amigo Lima.
ResponderExcluirMuitas vezes agimos dessa maneira e nos isolamos com nossos medos dentro de uma fortaleza de onde não podemos sair depois. E é triste isso.
Parabéns pelas palavras,