sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Balanço Anual de Leitura



Eu sou um tanto quanto “chegado a uma tradição” e me apego ferrenhamente a cada uma que instituo. No que tange às minhas leituras, sou um completo e confesso tradicionalista. Todo ano eu inicio meu “ano de leitura” lendo um grande clássico ou relendo alguma obra que me marcou de uma forma especial. Em 2012, óbvio, segui a tradição, mas confesso tê-la levado a extremos logo no primeiro mês do ano, pois iniciei o ano com a leitura do extraordinário Nova Antologia do Conto Russo e em seguida mergulhei pela segunda vez nas maravilhas e fantasiosas histórias da família Buendia, em Cem Anos de Solidão. O impacto desse inicio de ano avassalador foi tamanho lendo em seguida meu primeiro Caio Fernando Abreu, Morangos Mofados, e depois O Templo do Pavilhão Dourado, mergulhando na delicada e sempre imaginativa literatura japonesa. Com um início de ano tão avassalador no que tange a leituras, lendo livros tão “carregados”, resolvi, então, nas semanas seguintes, ler algo mais ameno, por assim dizer, e peguei meio que por um acaso os livros A Chave de Sarah e O Tempo Entre Costuras, que me impressionaram enormemente, pois fui ler esses livros “com a guarda baixa”, sabendo, de antemão, pois já me haviam sido muito bem recomendados, que eram bons livros, mas não me disseram que eram tão bons.
Pois bem, movido por tão boas leituras logo de cara, nos dois primeiros meses do ano, fiquei com um pensamento na cabeça: 2012 promete! E foi um ano que prometeu e cumpriu. Foram no total 43 livros, sendo destes, 2 releituras, Cem Anos de Solidão,já citado, e Vidas Secas. E quando li este livro vi o quão pouco leio de literatura nacional e prometi para mim mesmo que iria ler mais autores brasileiros. Dito e feito: li José Lins do Rêgo (fantástico, como sempre), Ronaldo Correia de Brito, meu autor brasileiro contemporâneo favorito, meu conterrâneo Leonardo Barros, além de alguns outros (se eu for citar tudo e todos que eu li, a crônica iria ficar tão grande que ninguém iria ler!).
2012 foi um ano de leitura de muitos clássicos, e os russos, como sempre, merecem destaque. Comecei com uma coletânea de contos e li Tolstoi (óbvio!), Tchekhov e Gogol, e sempre fico, quando leio esses autores, me lamentando, pois são livros demais para serem lidos e tempo de menos. Eu costumo dizer, sempre, que quando mais a gente lê, mais descobre que não leu nada! Mas se a gente ficar se lamentando pelos livros que não vai conseguir ler, acaba, realmente, é não lendo nada...
Eu li, além dos russos, Kafka (meu primeiro Kafka, A Metamorfose), que me impressionou muitíssimo, Frankenstein, de Mary Shelley, e A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, clássicos da literatura do gênero que me faltavam após ter lido, em anos anteriores, Drácula e O Médico e o Monstro, além de histórias de H.P.Lovecraft. Li também meu primeiro Eça de Queiroz e li vários autores que podem ser colocados no hall dos “clássicos modernos”: Vargas Llosa, com o A Festa do Bode, que, de cara, passou a ocupar o posto do melhor livro que já li dele, Philip Roth, com o emocionante e fortíssimo Patrimônio, para mim o melhor escritor norte-americano da atualidade, Mário Benedetti, e a que embora não seja das mais bem-vistas escritoras pela academia, talvez por ser muito popular (para não dizer Best-Seller), Isabel Allende, com o magnífico A Casa dos Espíritos. Além desses, li também o fantasioso e maravilhoso Peter Pan, em sua versão original, e o magnífico e enigmático Jorge Luis Borges.
Dos chamados Best-Sellers, esse ano senti-me numa “saia justa” para listar os melhores, pois li obras simplesmente espantosas. Talvez o que mais me impressionou, por tudo, tenha sido Os Olhos Amarelos dos Crocodilos, um dos melhores livros de literatura contemporânea que li nos últimos anos, seguido, de muito perto, segundo meus critérios de avaliação que nem eu mesmo sei definir e listar quais são, por O Pacifista, do sempre sutil e surpreendente John Boyne. Fora esses dois, que se destacam especialmente na minha lista, devo citar também, pois foram leituras igualmente marcantes, o A Casa que amei, de Tatiana de Rosnay, A Filha Secreta, O Tempo Entre Costuras (citado anteriormente) e Dez Mulheres, além do Estive lá Fora, do Ronaldo Correia de Brito.
Li romances policiais, suspenses, dramas, romances, romances históricos, contos, crônicas, enfim, 2012 foi um ano recheado de grandes leituras nos mais variados gêneros, que guardaram muitas gratas surpresas. E deste gênero, a maior surpresa foi, sem dúvida, o livro Nas entrelinhas do horizonte, do meu ídolo na música, que está se tornando, também, meu ídolo na literatura, Humberto Gessinger. Entre os contos, Patricia Highsmith me surpreendeu enormemente com A Casa das Sombras e dentre os romances históricos, Miguel Sousa Tavares, que fiquei em dúvida sobre qual o melhor, Equador ou Rio das Flores, e devo colocar nesse gênero também os livros de Tatiana de Rosnay, A Casa que Amei e A Chave de Sarah, magníficos – foram esses dois autores, junto com Borges e John Boyne, inclusive, os únicos que eu li dois livros no ano. Do Zafon, um de meus escritores contemporâneos favoritos, li seu lançamento, Prisioneiro do Céu, muito bom, sem dúvida, mas um pouco abaixo dos seus livros anteriores, mas “dou um crédito” ao autor por se tratar esse de um livro “sem início nem fim”, já que serve de “ponte” entre seus maiores romances A Sombra do vento e O Jogo do Anjo, lidos em anos anteriores. Dentre os policiais, li e fiquei vidrado do início ao fim com Harlan Coben, em Não Conte a Ninguém.
Não tive, felizmente, em 2012, nenhuma grande decepção nem muito do que reclamar dos livros que tive o prazer de ler. Talvez um livro ou outro não tenha suprido todas as expectativas, é bem verdade, mas decepção mesmo, livro que me deixou com aquela sensação de “podia ter usado meu tempo para ter lido algo melhor”, nenhum. Mas para não dizerem que eu não citei nenhum, embora sabendo de antemão que irão “pedir minha cabeça” por isso, posso dizer que esperava algo diferente de Caio Fernando Abreu. Muito bem escrito, com uma técnica espantosa, sem dúvida, chocante mesmo em muitas histórias e personagens, mas sua leitura não me pegou como eu esperava, talvez por conta do mundo que ele retrata, repleto de muito liberalismo sexual, drogas e loucuras.
Enfim, 2012 foi um ano espantoso no que tange as leituras, e espero que 2013 seja igualmente magnífico, com grandes descobertas e surpresas escondidas nas entrelinhas de cada livro lido, de cada história, de cada trama, de cada personagem.

2 comentários:

  1. Fiquei sabendo da existência deste blog hj pela manhã qndo estive na saraiva para comprar livros. Amei! Agora já sei onde buscar indicação de leitura. Poxa, é de uma coisa assim q preciso, pois gosto de comprar livros com indicação de quem gosta de ler boa literatura e sendo escritor, melhor ainda. Sempre q vou a saraiva procuro por vc pois sempre me deu boas sugestões de leitura, mas sinceramente, ñ sabia q és escritor. Foi um prazer conhece-lo. Hj comprei 3, dentre os quais um q vc citou a “chave de Sarah”. Como já escrevi, este blog será meu ponto de partida para comprar a boa literatura.

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  2. Val,

    pretendo, nesse ano, retomar no blog as "criticas e sugestões de leitura", pois tenho escrito pouca coisa nesse sentido.
    no início, você pode bem ver nas postagens mais antigas, eu escrevia e publicava muitos textos dando dica de leitura, comentando livros que havia lido, mas aos poucos o blog foi tomando outro rumo e eu meio que fui "abandonando" essa área, digamos assim. mas devido a inúmeros pedidos, resolvi, nesse ano, voltar as origens, digamos assim, e postar, pelo menos uma vez por mês, algo sobre algum livro.

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