Uma casa é muito mais do que uma simples casa. Uma casa é
povoada de lembranças, guarda em seus corredores ecos de tempos passados, de
vidas e momentos vividos; uma casa possui alma e vida próprias. Para alguns
desapegados, para alguns que não possuem raízes, a casa pode até ser um simples
lugar onde se faz as refeições, onde se dorme e até onde se vive alguns anos de
uma vida (pode até se viver uma vida inteira), mas para os que fecham os olhos
e conseguem sentir um pulsar daquele lugar, para os que, quando fecham os olhos
se veem invadidos por tantas e tão vívidas lembranças daquele lugar, a casa é
um local especial, possui vida, possui alma.
Rose é uma
mulher que apesar da idade avançada, de ser viúva, de ter tido a vida do filho
ceifada tão cedo e da única filha viver tão longe e distante, não se sente só,
pois aquela casa onde vive é tão cheia de vida, tem uma alma tão latente, que
não a deixa sentir o peso da solidão. Aquela casa e as doces lembranças que ela
lhe faz viver constantemente lhe são caras, tanto que mesmo quando recebe uma
carta anunciando a expropriação do imóvel, devido aos projetos urbanísticos e
de modernização da cidade de Paris no século XIX, resolve não ceder ao “irreversível
poder do progresso” e ir até as últimas consequências para não deixar que seja
ceifada a vida, para não deixar que seja arrancada a alma daquela casa que ela
tanta ama.
Um livro
emocionante, uma história de vida não só de pessoas e de seus momentos vividos,
mas de uma casa e de toda a história que ela guarda, da alma que ela possui. Contado
em forma de cartas que a personagem, Rose, troca / envia para seu falecido
marido, um livro é repleto de uma carga emocional densa, mas expresso de uma
forma tão suave e delicada que nos faz viver e relembrar de momentos passados
no local onde vivemos alguns dos momentos mais importantes de nossas vidas, dos
locais onde fomos criados e onde temos raízes tão firmemente fincadas, do lugar
onde a que chamamos de lar, de nossa casa.
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