Hoje eu acordei com uma vontade danada de brincar. Sei que
já não sou nenhum menino, se bem que às vezes tenha vontade de voltar a ser, e
que seria muito estranho um alguém de meu tamanho estar no meio de um monte de
crianças, mas se a brincadeira valesse a pena, eu bem que estaria disposto a “pagar
o mico”. Comecei a procurar, entre meus pertences antigos (para não falar “velharia”),
algo que valesse a pena eu me sentar no chão da sala e ficar horas e horas entretido,
mas não encontrei nada. Talvez minha mãe que tenha jogado fora há anos ou
talvez tenha sido minha esposa, que percebendo a inutilidade daquilo, resolveu fazer
a contribuição a alguma criança que não tinha com o que brincar. Se o caso
tiver sido este, menos mal. Pelo menos alguma criança vai estar brincando,
dando vida àquelas brinquedos.
Mas a ideia
de brincar, nem que seja por cinco minutos, sentado no chão da sala, esquecendo
que o mundo está acabando ao meu redor, que o céu ameaça cair sobre minha
cabeça, não me sai da cabeça. Resolvi, então, ir “à caça” e tentar comprar algo
com que pudesse brincar.
No primeiro
armarinho que fui, perguntei se, por um acaso, em seu estoque antigo, de
brinquedos que ninguém mais procura, ela (a dona) não teria por um acaso,
sobrando, disponível para venda, algo da minha lista: jogo de damas, pega-vareta,
dominó, resta-um, cara-a-cara ou de futebol de botão. A mulher olhou para mim e
para a minha lista, fez uma careta e disse que ninguém mais procurava aqueles
brinquedos ali. “Talvez seja melhor você procurar num antiquário, numa loja de
antiguidades ou coisa do tipo”, ela falou. “E biloca, você tem?”, perguntei. Ela
olhou para mim, avaliando com que tipo de louco-varrido estava lidando, e com
piedade, segurou minha mão e disse para voltar para casa, para ir trabalhar,
que era o melhor que eu podia fazer. Decepcionado, fui de estabelecimento em
estabelecimento, mas a busca foi em vão. Resolvi então tentar outra coisa, e
fui às mercearias do bairro e até as bancas de revista, a procura daqueles álbuns
de figurinha, em que as figuras são bem mal-feitas, mas que distribuem milhares
de prêmios se encontrarmos as figurinhas premiadas, os cromos prateados ou se
completarmos alguma das figuras. Mais uma vez, fui encarado como louco e quase escorraçado.
Só tinham para vender álbuns e figurinhas do Campeonato Brasileiro e de alguns super-herois
e dos personagens de desenhos animados que essa juventude cultua. Fiquei me
perguntando que graça tinha aqueles personagens e heróis se comparados aos de
minha época, de minha infância. Vai entender!
Tentei, em
minha peregrinação, comprar de tudo, desde aqueles carrinhos feitos de metal,
que a gente colecionava, até blocos de montar (vulgos Legos), bonecos dos
comandos em ação e até playmobil. Procurei por aqueles brinquedos, os “aquaplays”,
com que eu passava horas entretido, tentando colocar todas aquelas mini-argolas
no lugar, mas nem esses eu achei. Soldadinhos de plástico, aqueles que usávamos
para montar os gigantes exércitos, que colocávamos para lutar com aqueles
exércitos de índios, nem em sonho em tornaria a encontrar nem que fosse um mero
soldado!
Cansado de
nada encontrar do que procurava, resolvi partir para brinquedos mais avançados
em termo de tecnologia: fui em busca de videogames, imaginando que seria mais
fácil. Cheguei a uma loja e perguntei se eles tinham para vender um Atari e
cartuchos de jogos como Pacman, Enduro, River Rider ou “Pega ladrão”. O vendedor
olhou para mim como se estivesse olhando para um alguém de outro planeta. Pensei
melhor e vi que Atari era um videogame muito antigo, e perguntei se ele tinha
pelo menos um Master System 3, que pelo menos já vinha com Alex Kid na memória.
Não tinha. “E um Mega Drive, você tem? Se possível, que tenha pelo menos um
cartucho de Sonic”. Também não tinha. “’’tá bom, ‘tá bom... mas um
super-nintendo você tem? E quero com os jogos clássicos, como Top Gear, Super
Mário e Super Star Soccer”. Eu era o caso perdido, por certo, pois o vendedor
me deixou falando sozinho. Por certo ele só tinha para vender os Playstation 3,
X-Box 360 ou Nintendo Wii. Coitadas das crianças e dos marmanjos que só prestam
atenção em gráficos e não sabem o que é apreciar um bom videogame e seus jogos
clássicos.
Voltando
para casa, decidido a não perder o meu final de semana com coisas inúteis como
trabalho e computador, pensei em fazer o meu jogo de futebol de caixinha de
fósforo. Tudo bem que não tinha as figurinhas dos jogadores, para colar na
frente, mas isso era o de menos. Eu poderia, pelo menos, desenhar os escudos
dos times na frente e pintar os números. O problema surgiu quando lembrei que
ninguém mais usa caixa de fósforo. Ou os fogões são automáticos ou as pessoas
compram aqueles acendedores elétricos ou que usam pilhas. Até com o futebol de
caixa de fósforo a tecnologia deu um jeito de acabar.
Liguei a
televisão, mas o que vi foi muito pior do que imaginava. Onde estavam Patolino,
Pernalonga, as Tartarugas Ninja, He-Man, Thundercats, Cavaleiros do Zodíaco, Chaves
e aqueles invencíveis super-herois, como Jaspion, Jiraya, Jiban, Lionman,
Changeman, Black Kamen Rider, Cibercops? O que era aquilo que eu via na
televisão? Definitivamente, assistir televisão hoje em dia é como ter um
pesadelo estando-se acordado.
Sem
brinquedos e sem televisão, o que eu poderia fazer? Resolvi, então, apelar, e
fui em busca de minhas antigas fitas VHS, mas, para minha decepção, todas
estavam mofadas e, além do mais, eu não tinha onde assisti-las, já que meu
aparelho Sharp de Quatro Cabeças já tinha sido aposentado há anos...
Completamente
derrotado, fiquei me perguntando o que as pessoas, hoje em dia, fazem para se
divertir, com o que brincam, o que assistem, e que graça conseguem ver nesses
brinquedos, seriados e desenhos. Talvez encontrem uma graça nisso tudo que eu
não consigo enxergar, ou talvez não saibam o que é diversão de verdade.
Meus planos
de diversão para o final de semana foram “por água abaixo”, como se dizia em
meu tempo, mas pelo menos fiquei com o gosto bom das lembranças de diversão de
meu tempo deixaram marcadas para sempre em minha memória. Pelo menos isso
ninguém nunca vai tirar e tecnologia, por mais avançada que seja, jamais vai
substituir: o sabor, as lembranças de uma infância bem vivida.
Pois é Lima Neto, aquelas coisas que fizeram a alegria da nossa infância não passam de porcarias para as gerações seguintes, seja por obsolência, interesses industriais ou porque as coisas mudam mesmo e só parece bom o que é novo. Gostei do seu texto, pois também escrevo, e criei um blog recentemente para postar meus contos, então convido você a dar uma olhada. Um abraço. http://contospromissores.blogspot.com
ResponderExcluirNão se esqueça de Nêna mandando desligar o video game e nos colocado pra fora pra tu ir tomar banho kkkk... saudades!!!
ResponderExcluirpow, Kleber, não precisava lembrar disso... rsrs
ResponderExcluirbons tempos aqueles, hein, amigo?!