Foi-se o tempo em que Academia era sinônimo de cultura,
grande livro, critério, grandes escritores, etc, etc e etc. Antigamente (se bem
que não faz tanto tempo assim), quando ouvíamos o nome Academia Brasileira de
Letras (O termo ABL só veio a se popularizar recentemente), tínhamos a certeza
de uma grande obra literária, escrita não por um escritor qualquer, mas sim por
um Escritor. Foram muitos os grandes intelectuais brasileiros, tanto da
literatura quanto de outras áreas afins, que tiveram seus nomes imortalizados
por ocuparem uma cadeira na Academia. Lógico que, por motivos diversos e às vezes
particulares, um ou outro se recusou a ocupar um lugar que lhe seria de
direito, como os casos de Sérgio Buarque de Holanda e mais recentemente Chico
Buarque (o Chico letrista, compositor, não o romancista, diga-se de passagem),
Mário Quintana, entre outros.
No entanto,
atualmente, temos visto um total descaso com a Academia, pelos membros que nela
ingressam. Antes, havia todo um critério, uma análise da obra, algo que pode
ser chamado de “mérito acadêmico”. Via-se a importância do autor, valor
literário da obra e sua história. Hoje, o que vemos? De todos os membros,
pode-se citar dois nomes que são unanimidades, de escritores que tem até alguma
importância, sim, que podem até ter escrito algum livro em que exista algum
lampejo de literatura, mas que não o suficiente para ocuparem uma cadeira que
lhe dá o título de “Imortal da Literatura Brasileira”: Paulo Coelho, José
Sarney e Ivo Pitanguy. Paulo Coelho é um dos escritores mais vendidos do mundo,
publicado nas mais diversas línguas, vendido nos quatro cantos do mundo, com
livros lidos pelos mais diversos públicos, etc, etc e etc, mas, literariamente,
ele é fraco. Não falo isso com preconceito, como um “dono da verdade”, por
odiar Paulo Coelho ou coisa do tipo. Não. Muito pelo contrário. Eu li, e muito,
Paulo Coelho, e posso dizer, aqui, que adquiri o hábito da leitura lendo Paulo
Coelho. Li todos os seus livros até O
Zahir e, na condição de leitor, tanto de Paulo Coelho quanto dos mais
diversos autores, gêneros, estilos e escolas literárias, que “O Mago” é um
escritor em que seu mérito literário é apenas mediano. Seus personagens não têm profundidade psicológica, suas
histórias são mal exploradas e sua escrita é excessivamente elementar. Tudo bem... Paulo Coelho tem
seus méritos por ter alcançado marcas de vendas que nenhum outro escritor
brasileiro tenha alcançado. Mas se vendas representassem valor literário que o
qualificassem a ocupar uma cadeira de uma Academia de Letras, Stephanie Meyer,
Dan Brown e J. K. Rowling deveriam, já, ter ganhado o Nobel de Literatura. José
Sarney... o que podemos falar de José Sarney como escritor? Não vamos entrar
aqui em debate sobre a questão política, apenas nos detendo à literatura. E aí?
Alguma opinião, sobre o Sarney escritor? Pois é. A opinião é essa mesmo:
ninguém tem opinião sobre Sarney como escritor, simplesmente por que ele não
tem um grande valor como escritor. Eu confesso que até li (experimentei,
digamos assim) livros dele, um romance e um de crônicas, para ficar com uma
opinião bem formada, e confesso que não achei ruim, não. No entanto, não são
bons livros. Sarney é escritor daqueles livros que você termina a leitura e
fica com aquela impressão de poderia ter gastado o tempo lendo algo mais
produtivo, que marcasse mais. São aqueles livros que você define com aquela “gíria”
que diz “Não inflÓi nem contribÓi”. Pitanguy, é melhor nem falar, né?! Falei
Sarney e Paulo Coelho, só para me deter aos que hoje ocupam cadeiras da
Academia, mas se voltarmos só um pouquinho no tempo, nos deparamos com a figura
de Roberto Marinho, e sobre esse é melhor nem falar muito, por que na
literatura e nas letras, no valor acadêmico, não há muito (para não falar nada) do Fundador e Presidente das
Organizações Globo.
Não estou
falando, aqui, que Academia Brasileira de Letras não significa nada. O que
afirmo, sim, é que ela significa, sim, e muito, e me sinto indignado quando
vejo o descaso com que ela vem sendo tratada e mesmo como trata a si mesma.
Temos, hoje
intelectuais reconhecidos internacionalmente, estudiosos da língua portuguesa,
como Bechara, que estão fazendo um trabalho belíssimo (não vamos entrar, aqui,
em debate sobre a questão do Acordo, se é válido ou não, se era necessário ou
não), e escritores respeitadíssimos, como Ana Maria Machado, Lygia Fagundes
Telles, Nélida Piñon, Carlos Heitor Cony, José Murilo de Carvalho, Ariano
Suassuna, entre outros tantos intelectuais nas mais diversas áreas de atuação.
Precisa-se,
com urgência, de uma aproximação das pessoas, dos leitores, com a Academia. Necessita-se,
com mais urgência ainda, que a Academia readquira o respeito que lhe é de
direito, para ocupar o lugar que lhe é reservado na sociedade, não só se restringindo
à importância acadêmica, agindo com critério, não contradizendo seu próprio “estatuto”
quando a questão é referente ao “reconhecido mérito ou, fora desses gêneros,
livros de valor literário”, para citarmos o próprio “estatuto” da Academia.
Caso não se
tomem essas medidas, caso a ABL não readquira o respeito que lhe é devido e não
aja com verdadeiro critério quanto ao ingresso de seus membros, acabaremos,
daqui a algum tempo, tendo aceito Bruna Surfistinha como membro ou Collor (e
olhe que este é membro da Academia Alagoana de Letras e, ao que se consta,
ninguém sabe ou leu o que ele escreveu).
Recomendo-lhe, se é que já não leu, o romance "Farda e Fardão" de Jorge Amado... Fala sobre este tema... O livro é mutio interessante...
ResponderExcluirJosué Melo
É verdade Lima, as Academias estão perdendo o crédito. É urgente que elas tomem consciência de sua missão e voltem a ter a credibilidade que tinham antes. Abraços
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