Olho para o céu e vejo as nuvens passando tão lentamente
quanto o tempo, que teima em se arrastar. Vejo suas multiformas; vejo como se
modificam, se mesclam, se separam, como são todas e como são uma só.
Sinto inveja
das nuvens, de ser parte integrante de um todo e de ser um só, viver livre no
céu, ir a todos os cantos do mundo sob o sabor dos ventos, sentindo seus dedos
a me acariciar, suas delicadas palavras a me consolar, seguir seus conselhos dizendo
para eu ir a uma direção ao invés de seguir para outra.
O vento é
sábio, ele nos traz palavras que foram jogadas e através de seus braços chegam
até nós; palavras velhas como o tempo e jovens como uma flor que desabrocha em
sua primeira primavera. O vento é delicado quando deixamos nossas faces serem
acariciadas por seus finos dedos, mas também sabe ser forte, inclemente e
trazer destruição, quando é preciso ser assim. O vento tudo traz, mas também
tudo leva; o vento traz em seus braços as nuvens que contemplo aqui de baixo lá
no alto, inalcançáveis.
Eu queria
ser leve como uma pluma para ser levado pelo vento até as nuvens e poder
tocá-las e sentir sua maciez entre meus dedos e poder me deitar e dormir um
sono em seus braços, encostando minha cabeça em seu seio e sentir e o seu
calor. Chego, em meu devaneio, a sentir o prazer que seria estar em seus braços
e o comparo ao prazer de estar nos braços de uma amante.
Olho para o
céu, contemplando as nuvens, e percebo a intransponível distância que nos
supera, e sinto uma súbita tristeza. Olho para meus pés, presos ao chão, e olho
para os braços das nuvens, livres no céu, e uma triste lágrima escorre pelo meu
rosto, deixando um rastro úmido de tristeza em seu caminho. Minha visão fica
embargada pelas lágrimas que começam a escapar em abundância de meus olhos,
acompanhadas de soluços que abalam o meu peito. Não quero e não posso mais
olhar para o céu. Permaneço longos minutos de cabeça baixa e de olhos fechados
até que sinto um lamentoso vento frio tocar meu rosto. Sinto como se fosse uma
mão a toca meu queixo e me forçar a olhar para cima. Lentamente abro os olhos e
vejo as nuvens tão baixas, mas não tão baixas a ponto de podermos nos tocar, de
podermos nos abraçar. Ela vê as minhas lágrimas, e também chora.
A chuva, lágrimas da nuvem, logo
me banham a face. Juntos choramos, eu por não poder tocá-la, e ela por não
poder me ter em seus braços, com nossas lágrimas se misturando, se fundindo
umas às outras. Somos como dois amantes que não podem estar um nos braços do
outro, sedentos em nosso amor, desejosos em nossa paixão, mas conformados em
nossas finitudes, com nossas impotências, conformados, apenas, que temos um ao
outro, não importa a distância que nos separe um do outro.
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