“Não se deve julgar um livro pela capa”. Falar isso já virou
um ditado de sabedoria popular, sendo usado / adaptado para várias
circunstâncias. Essas palavras são tão verdadeiras que nós vivemos “quebrando a
cara” quando julgamos algo por sua aparência, quando, na verdade, sua beleza,
sua essência, está escondida por trás daquela capa feia, daquela capa que não
nos chama a atenção (é lógico, também, que há capas belíssimas, que nos chamam
a atenção, mas cujo conteúdo é pífio). Mas mesmo sabendo disso, nós continuamos
fazendo o nosso juízo de valor quando nos damos de cara com um livro cuja capa
não nos agrada. Continuamos olhando a capa e dizendo “esse livro é uma droga”
sem nem ao menos nos dar ao trabalho de abri-lo e ler as primeiras palavras do
primeiro capítulo.
Aconteceu recentemente
isso comigo, de julgar um livro pela capa, e acabei, felizmente, quebrando a
cara! Trata-se do livro Um Pedido às
Estrelas. Quando o vi pela primeira vez, antes mesmo de olhar para capa, só
pelo título, disse “cá comigo”: mais um querendo pegar carona com o Best-Seller
do momento, A culpa é das estrelas! E
o deixei onde estava, no meio de uma pilha de livros. Depois, à medida em que
ia guardando os livros, ia me aproximando dele, ia chegando o momento em que
teria que pegá-lo para guardar numa estante e expô-lo em alguma mesa na
livraria. Quando chegou o momento, só então olhei com atenção para a capa do
livro, e aí tive a “certeza” de que além do livro ser um “oportunista”, por
estar querendo pegar uma carona nas vendas do Best-Seller do momento, “com
certeza” se tratava de um livro péssimo, ridículo, pois “com uma capa daquelas,
como um livro pode ser bom?”. E cada detalhe do livro, na sua aparência, me
fazia ter mais e mais certeza disso: uma “cinta promocional” fazendo uma menção,
com uma frase bem “nada a ver” a Nicholas Sparks; uma sinopse não de todo
clara, nada convidativa, para mim, à leitura do livro; entre outros detalhes
(motivos) que só fazia reforçar a minha preconceituosa convicção.
Quis o
Destino, irônico como só ele o é, que calhasse de eu, por motivos diversos,
entre eles o profissional, tivesse que ler o dito cujo livro do título, capa,
cinta e sinopse nada convidativa à leitura (para mim). Trouxe-o para casa meio
que aborrecido, confesso. Ao chegar a casa, retirei-o da mochila e como estava
chateado, pois “iria perder meu tempo” lendo-o, deixei-o sobre uns livros de
minha estante, para só “começar a minha sessão de tortura” no dia seguinte.
Dormi naquela noite já pensando no que me aguardava na manhã seguinte. Acordei,
no dia seguinte, e fiz todas as minhas atividades rotineiras (eu sou tão
metódico que faço tudo cronometrado, em seus devidos horários), até que vi o
livro me esperando. Respirei fundo duas ou três vezes, tomando fôlego, e o
peguei; deitei-me no sofá (meu sofá é meu local favorito para leitura!),
respirei novamente fundo e abri o livro.
Ao ler
aquelas primeiras palavras, ao ver os personagens entrando em cena e se
apresentando um a um para o seu leitor-plateia (eu), ao ver o início da
história sendo costurado, percebi o quão errado e preconceituoso tinha sido o
meu julgamento sobre aquele livro. O Um
Pedido às Estrelas é um livro fantabuloso em todos os aspectos, com medida
certa em tudo (tensão, descrição, dilemas éticos e morais, romance, etc.), e
com uma pitadinha acentuada de um bom drama, que nos mantém presos, vidrados,
torcendo, seja para um lado ou seja para outro naquela complexa e nada fácil
situação em que se encontram os personagens.
A história
versa sobre o romance de Matt e Elle, um casal que se conhece desde a infância.
Foram vizinhos na infância e adolescência, foram amigos, foram confidentes um
do outro, e o que parecia natural acabou acontecendo: casaram. Formam um casal
feliz, mas um fato, apenas, não deixa que aquela felicidade seja completa: eles
não conseguem ter um filho. Após tantas e tão frustradas tentativas de gravidez
(inclusive uma não planejada na adolescência), resolvem desistir do “projeto
filho”. Matt é um neurocirurgião competente, com uma promissora carreira pela
frente, e Elle é uma prodígio, astrofísica respeitada, foi astronauta, nada
mais natural vindo de uma pessoa tão apaixonada por estrelas como ela o é, e é
professora numa universidade local. Tudo muda drasticamente na vida de Matt e
Elle quando ela sofre um grave acidente e é levada para o hospital onde ele
trabalha. Ele, ao ver os exames, ao analisar os resultados/ chamas de Raio X e
ultrassonografias que foram feitas, como neurocirurgião, percebe a gravidade
das lesões sofridas por ela, que é levada para fazer cirurgias de emergência
numa tentativa de salvá-la. Matt sabe, antes dela entrar na sala de cirurgia,
que será difícil salvá-la.
Elle sofre
danos cerebrais irreversíveis e tem a morte cerebral confirmada. Tendo sofrido,
na infância e adolescência, com a morte lenta e dolorosa de sua mãe, sempre
deixou expressa a sua vontade de, caso fosse para viver vegetativamente ou
viver-em-vida, os aparelhos que a mantém viva fossem desligados. A família já sabendo
disso, se preparam para a despedida. Cabe a mãe de Matt, que quer a Elle como a
uma filha, a difícil tarefa de levar a cabo aquele último desejo dela. Mas algo
inesperado os aguarda, quando os aparelhos estão prestes a ser desligados: Elle
está grávida! Os resultados e confirmações pegam a todos de surpresa, principalmente
a Matt, que após a perda ocorrida na última gravidez dela, julgava que as
tentativas tinham se encerrado e que tomavam todas as atitudes no sentido de
evitar uma nova gravidez. O que fazer agora? Elle está morta, sua vontade de
ter os aparelhos que a mantém viva artificialmente precisam ser desligados e
ela está grávida! Tem-se início, então, uma longa, difícil, tensa e desgastante
disputa judicial, que mantém de lados opostos familiares e amigos, pelo que é
correto fazer: se desligar os aparelhos, e deixar que Elle morra, ou mantê-la
viva artificialmente, como um invólucro para o desenvolvimento do filho, numa
gravidez de risco, que tende a não chegar ao fim devido ao longo histórico de
gravidez malsucedidas dela.
Paralela a
essa história, temos muitas outras, de outros tantos personagens envolvidos,
que se veem perdidos, sem saber o que fazer, sem saber de que lado ficar, sem
saber como agir e que opinião “correta” ter naquela difícil situação, naquela
verdadeira “guerra” que ameaça quebrar a paz reinante num ceio familiar.
Livro tenso,
intenso e envolvente, Um Pedido às
Estrelas não é só um romance entre um homem e uma mulher, não é só um livro
que põe em lados opostos parentes e amigos, não é só uma história sobre uma
complexa questão judicial, mas sim, uma história, acima de tudo, sobre amor,
vida e chances.
Um Pedido às Estrelas me fez “quebrar a
cara”, me fez ver (mais uma vez) o quão errado é se julgar um livro pela capa. Não
foi essa a primeira vez, e felizmente não será a última, que isso acontece. Adoro
quebrar a cara, julgar um livro como péssimo antes mesmo de iniciar sua
leitura, e ser surpreendido enormemente por ele. Que venham, então, outros
tantos livros para que eu possa, preconceituosamente, julgá-los pela capa (ou pelo
título, pela sinopse ou pela “cinta promocional”) e ver que fui, mais uma vez,
precipitado em meu julgamento.
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