Eu nunca aprendi a ser direto. Minhas respostas nunca se
pautaram em um simples “sim” ou “não”, e se for preciso responder de forma a
usar uma única palavra, opto pelo “talvez”, justamente porque esta é uma
palavra que exige muitas outras, explicações mil, e aí eu posso me derramar e fazer
amplo uso indiscriminado de dezenas, centenas e quiçá milhares de palavras.
Nunca gostei de economizar em
palavras, nunca tendo sido eu um exímio mesquinho na linguagem escrita ou
falada. As palavras foram feitas para serem usadas amplamente, não economizadas
e tomadas em doses homeopáticas. Sempre adorei usar as palavras
indiscriminadamente, em me derramar nelas, em passar longos minutos
pensando-as, saboreando-as, escolhendo-as tão cuidadosamente, com todo o
carinho o amor, só para que elas se encaixem de forma perfeita e precisa na
perfeita frase.
Ser direto nas respostas, usar
poucas palavras, para mim, tem o sentido de uma reta numa estrada. Retas dão a
impressão de pressa, de se querer e precisar chegar logo a algum lugar, de se
pisar fundo no acelerador. Eu, ao contrário, prefiro as curvas, gostando de
dirigir, de curtir a viagem da língua, de suas paisagens que se descortinam
perante nossos olhos, das mil e uma possibilidades que podem surgir a cada
quilômetro e metro percorrido.
Cada palavra tem seu sabor, costumo
dizer, e o perfeito uso e escolha delas em uma frase, em uma resposta, tem o
sabor da perfeita combinação de uma saborosa salada de frutas, enquanto a
economia no uso delas, quando não nos damos o simples prazer de escolhê-las e
saboreá-las sem pressa, nossas respostas tem o sabor de água, de comida
insossa, da total ausência de temperos. Cabe a cada um de nós a escolha de
nosso prato linguístico-léxico-gramátical, e o nosso cardápio é o dicionário, cabendo
a nós a dupla função de comensal-glutão e o cozinheiro.
Palavras bem colocadas e escolhidas
são como chaves-mestras capazes de abrir todas as portas e cadeados. Palavras são
capazes de inspirar mil e um sentimentos, de nos arrancar sorrisos e lágrimas,
por vezes até os dois juntos. Palavras gritadas nem sempre são ouvidas, e
palavras não ditas podem dizer mais do que milhões de palavras vazias. Palavras
podem quebrar o mais profundo silêncio, mas também podem silenciar o maior dos
barulhos. Palavras são boas, excepcionais, quando ditas bem baixinho, ao pé do
ouvido, e também são boas quando gritadas para todo mundo ouvir. Palavras não
devem ficar guardadas em nosso peito nem sufocadas em nossa garganta. Palavras gritam
e clamam para ser jogadas ao vento, libertadas das amarras com que, por vezes,
as prendemos. Pedem para não serem guardadas em nosso peito ou sufocadas em
nossa garganta, clamando para serem sussurradas, gritadas, para se verem
livres, jogadas ao vento, para ser escritas, imortalizadas, ou faladas, para
todo o sempre.
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