Sempre que me perguntavam, quando eu era menino, o que eu
queria ser quando crescesse, respondia de pronto: astronauta. Eu queria poder
entrar num foguete e subir, subir e subir, chegar ao céu, ver a Terra minúscula
lá de cima, chegar perto das estrelas, pegar carona num cometa e visitar outros
planetas. O tempo foi passando e, mais crescido, passei a dizer que não queria
mais ser astronauta, mas sim um estudioso (na época eu não sabia dizer o nome
da profissão) de dinossauros. Queria conhecer as espécies, desenterrar todos
aqueles gigantescos ossos e brincar de quebra-cabeça, até reconstruir com
precisão, montando peça por peça (ou melhor dizendo: osso por osso), o
dinossauro. Essas duas profissões (se bem que profissão, naquela época, quando
eu era menino, era algo que eu não entendia. Eu entendia, sim, apenas a
pergunta “ser quando crescer?”, e não se falava, em momento algum, em
“profissão”) representam todo um mistério, fascínio e fantasia a que todo
menino entende como interessante.
O tempo
passou, e eu já não era mais o menino que queria ser astronauta nem mais o que
queria estudar dinossauros; já tinha uma mentalidade menos fantasiosa, e estava
naquela maravilhosa e confusa fase a vida a que se chama comumente de
“pré-adolescência”. Nessa época, se quer ser é uma espécie de herói, e eu
pensava, já arquitetando toda uma carreira, em vir a ser bombeiro e salvar
pessoas, apagar incêndios. Se não fosse possível, pensava em ser um agente, tal
como eu assistia nos filmes de Hollywood, pensando (em minha fantasia-juvenil)
que aquilo era real.
Na
adolescência propriamente dita, no período vulgarmente chamado de puberdade, eu
queria chamar a atenção das meninas (como todo adolescente que se preze) e ser
um super-astro, ter muito dinheiro e ser muito famoso (e ter muitas namoradas!).
Queria montar uma banda, que seria considerada “a maior banda de todos os
tempos da última semana”, os videoclipes seriam os mais assistidos, faria
muitos shows por mês e teria uma legião de fãs e todas as garotas iriam chamar
pelo meu nome. Esse foi o primeiro sonho de profissão que eu tentei realizar.
Comprei um violão e comecei a escrever umas músicas bem depressivas e
melancólicas. Mas logo vi que não levava muito jeito pra coisa. Não tinha o
menor jeito/vocação para tocar qualquer instrumento musical e as minhas letras
(poesias) eram pobres de rima e ritmo. Desisti da ideia de ganhar garotas sendo
um astro do rock, e parti para algo mais possível: ser jogador de futebol.
Comecei jogando no time da rua, chegando a treinar no do bairro e participando
de torneios no da escola. Cheguei a participar de alguns torneios, os
“peneirões”, mas nunca passei em nenhum e, convenhamos, apesar de não ser um
jogador dos mais “perebas” dos times que participei, também nunca fui nenhum
craque de bola. Desisti da ideia de ser um craque do futebol e jogar na Seleção
Brasileira, desisti de ser um super-astro do rock, ficando, assim, a frustração
de não ter o meu nome gritado pela torcida nem pela turba de fãs enlouquecidas.
O tempo
passa, a vida passa, e já próximo da porta da “idade adulta”, pensei em que
profissão seguir (pela primeira vez na vida, surgia a ideia/conceito de
“profissão”). A primeira coisa que me passou pela cabeça foi ser médico, mas aí
pensei na dificuldade que é o vestibular para medicina, e percebi que talvez eu
não tivesse a vocação/paixão necessária para seguir a carreira. Advogado eu
cheguei a pensar em ser, mas aí pensei nos “sapos” que teria que engolir, nas
mentiras que teria que forjar, nos “tipos” que teria que defender e percebi
que, definitivamente, não teria estômago para a profissão. Empresário eu
cheguei a pensar em ser, mas aí vi que a falta de capital era um problema sério
a ser pensado e, convenhamos, eu não tenho o mínimo “faro” para os negócios.
Político, eu pensei, mas por uma espécie de “pura ideologia e ingenuidade”. Não
tinha (e nunca tive) qualquer vocação para roubalheira, corrupção e coisas
afins, e, além do mais, político idealista, verdadeiramente comprometido e
honesto, não existe em nosso país, e se existe, não é eleito.
Resolvi,
então, deixar a vida me levar, já que só fazer planos não estava me levando a
lugar algum. Fiz vestibular para história, com a ilusão de que poderia
trabalhar com pesquisa, que poderia ver a ser um historiador, no sentido
literal da palavra/profissão, mas vi que a realidade era bem diferente da que
eu imaginava. Ser professor de história era algo que me seduziu por apenas
algumas semanas, e ao me deparar, pela primeira vez, com uma sala de aula e a
realidade nas escolas...
Acabei me deixando levar por
minha paixão: livros. Meus pés acabaram me guiando a uma livraria.
Hoje,
fazendo uma retrospectiva de minha vida em profissões, ou sonhos de profissões,
ou de sonhos do que queria ser quando crescesse, me bate uma saudade dos velhos
tempos, de meus devaneios, de minhas fantasias, em que queria (e podia) ser
tudo que quisesse, e bastava apenas querer para ser, fechar os olhos e
responder a pergunta que me faziam: o que você quer ser quando crescer?
Tenho a mesma saudade, era muito bom a época em que podiamos sonhar com praticamente tudo.
ResponderExcluirEstou seguindo seu blog para acompanhar as atualizações e sempre que puder fazer uma visita.
Abraços
http://reaprendendoaartedaleitura.blogspot.com.br/