Quando veio ao mundo, seus pais lhe batizaram com o nome de
Rosa. Também pudera, outro nome não lhe caberia, pois ela não nasceu, mas
desabrochou para o mundo. Diferentemente de outros bebês quando nascem, ela não
chorou, mas sorriu, e seu riso foi como o canto de mil pássaros ao saldar a
primeira manhã de uma aguardada primavera. Era um lindo bebê, com a pele tão
fina e acetinada como a mais delicada pétala de uma rosa em todo o esplendor de
sua beleza. Tinha o cheiro de um bebê, mas de um bebê perfumado de primavera,
de mil diferentes fragrâncias de mil diferentes rosas.
Cresceu como
toda rosa cresce, como toda criança cresce, inteiramente livre e completamente
feliz. Toda manhã, ao abrir os olhos, a primeira coisa que ela fazia era abrir
a janela de seu quarto para olhar para o sol. Fechava os olhos, sorria e
desejava um bom dia ao dia que estava nascendo. Pássaros vinham pousar no
parapeito de sua janela e ali ficavam cantando para alegrá-la, para que juntos
saldarem o novo dia.
Seus pais
tinham por ela uma verdadeira veneração e a cultivaram com todo o amor que um
jardineiro cuida de seu jardim. Ensinaram-lhe as primeiras palavras, a andar e
muitas outras coisas que só pais amorosos ensinam a seus filhos. Tudo ela
aprendia rápido, pois tinha sede de conhecer. Via um mundo novo a cada dia.
Nada a
fascinava tanto quanto o amanhecer, mas também amava a chuva de fim de tarde,
aquela que deixa no horizonte o rastro de um arco-íris, e era especialmente
fascinada pelos dias nublados com seu vento frio que lhe tocava, que vinha lhe
acariciar o rosto. Gostava das noites estreladas e da lua cheia, mas temia as
sombras que esse horário escondia. Temia, também, os animais que ficavam a espreitando
nas sombras, esperando um segundo de desatenção, para atacar e roubar aquela
sua inocência.
O tempo
passa, pois nada o pode deter, e Rosa continuava a de sempre, igualmente bela. O
tempo parecia surtir pouco efeito para ela, e ela ficava mais, mais e mais bela
a cada ano que passava. A cada nova primavera ela desabrochava em toda a
plenitude de sua beleza e todas as pessoas por quem ela cruzava na rua paravam
para contemplá-la e nesse momento era como se sentissem o tempo parar, sentindo
pairando no ar o doce aroma da estação de todas as flores.
A primeira
verdadeira tristeza que teve em sua vida foi no auge de um verão, quando olhou
para seus pais e se deu conta de que eles estavam envelhecendo e de que ela
nada poderia fazer para deter o tempo que corria para eles, e constatar isso
foi como se as estações de sua vida mudassem, e viessem um cinza outono seguido
de um inclemente inverno que trazia fortes tempestades que alagavam a sua alma.
Mas as
tristezas passam e uma estação segue a outra, e logo veio uma nova primavera, e
Rosa se sentiu rejuvenescer. Já era adulta, mas continuava a ter a delicadeza e
inocência de uma flor recém-desabrochada, que via o mundo pela primeira vez.
Numa noite
em que saiu, quando estava desprevenida quanto as perigos da noite, surgiu um
homem. Belo, com um sorriso sedutor, lhe disse belas palavras que a cativaram,
que lhe arrancaram inúmeros sorrisos. Ele a colheu, a arrancou do solo, lhe
tirou as raízes e se casou com ela, tal qual um ambicioso homem que é incapaz
de contemplar a beleza, mas que quer tê-la.
Rosa, sem
que se desse conta, a partir do momento em que disse “sim” àquele homem, em que
se casou com ele, começou a murchar, tal qual uma flor murcha quando arrancada
do jardim e do solo sagrado em que nasceu e floresceu para o mundo, porque
aquele homem queria tê-la para si, e se esqueceu que tal qual uma rosa, ela não
veio ao mundo para ser posse de ninguém, mas sim para ser amada, e uma rosa
quando amada floresce a vida toda sem nunca murchar em estação alguma.
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