Quando a noite caiu, o pegou desprevenido ainda na rua. Enquanto
se dirigia apressado para sua casa, o céu ia se adensando sobre sua cabeça e as
sombras ao seu redor ir crescendo e se tornando mais e mais assustadoras, como
se o quisessem engoli-lo, traga-lo, seduzi-lo e trazê-lo para seus braços. Seu coração
batia acelerado, ameaçando sair por sua boca ou explodir em seu peito. Sentia o
peso de seus pés, que, com o medo que sentia, pareciam querer ficar presos ao
chão, como as raízes daquelas árvores que estavam ao seu redor, que pareciam
querer abraçá-lo lançando seus enormes e pesados galhos quando ele não estava
olhando.
Desde pequeno,
ouvira histórias contadas pelos mais velhos, que relatavam os perigos da noite
escura, e crescera com aquelas palavras ainda reverberando em sua cabeça, sentindo
um medo latente sempre que via os últimos raios do sol desaparecendo no
horizonte. Nessa hora, ele fechava todas as janelas da casa para que nenhuma
sombra entrasse e ele ficasse ali, seguro e iluminado por luzes artificiais.
Nunca tinha
contemplado o céu à noite, visto as estrelas e ou a lua, e apesar do medo que
sentia, das ameaçadoras sombras e do céu escuro sob sua cabeça, começou a
diminuir os passos, pois viu que a noite não era tão escura quanto seus medos
diziam, chegando mesmo a parar e olhar para o alto, mirando a majestosa lua,
que de tão clara iluminava tanto quanto um sol de meio-dia.
O medo foi
se dissipando e seus passos foram ficando mais lentos. Não tinha mais pressa de
chegar a casa e seu coração já não mais batia acelerado. Na sua contemplação à
beleza singular da noite, acabou se perdendo, e quando deu por si, não
reconheceu o lugar onde se encontrava. Mas mesmo se dando conta de que estava
perdido, ainda tão longe de casa, não teve medo, pois a noite sobre sua cabeça
estava clara como o dia e os perigos que, nas histórias que ouvia, ela
escondia, não existiam.
As horas
foram passando sem que ele se desse conta e a medida que e aproximava da
meia-noite, a noite foi se tornando mais escura e ameaçadora. Ele se deu conta
disso, e através de uma árvore ou de uma pedra na estrada, foi tentando
reconhecer e retomar o caminho de casa, mas quanto mais andava, mais se sentia
perdido. Chegou a parar algumas vezes, olhar ao seu redor, sem saber para onde
se dirigir, o que fazer...
A noite se
adensava ao seu redor. Soprava um vento frio que lhe fazia gelar todos os ossos
do corpo. Sentia fome, mas o medo era mais forte e o obrigava a sempre seguir
em frente em busca de algum sinal, de algo que o fizesse lembrar-se da trilha
que pudesse levá-lo para o conforto e a segurança de seu lar.
Cansado,
com o corpo clamando por um descanso, ele se sentou na beira da estrada e
abraçando os joelhos, deixou que os pensamentos vagassem a toa e assim o
levassem a algum lugar, mas eles teimavam em continuar ali, onde ele estava,
parado.
Ele então
se levantou novamente e continuou a andar a esmo, para onde quer que seus
passos o levassem. Quando mais andava, mais era tragado pela noite, que o
seduzia, que o trazia para junto de seu seio, que o abraçava com seus braços
longos e frios do vento da meia-noite.
Ele percebeu
o quão a noite era sedutora quando olhou novamente para o alto e não mais
enxergou a primeira beleza, aquela como ela havia se apresentado e o fez baixar
a guarda e perder momentaneamente os medos, que agora voltavam à tona e lhe
tomavam por inteiro.
Os barulhos
do silêncio da noite foram se aproximando e se fechando ao seu redor e quando
ele deu por si, foi inteiramente tragado pelos perigos da noite.
Nunca mais
foi visto por nenhum olho de um alguém vivo, mas todos conhecem a sua história,
a que fala do homem que se deixou seduzir pela beleza e se esqueceu dos perigos
que a noite esconde...
Muito bom meu caro Lima Neto. Excelente conto. Gostei muito. Gostei da reviravolta da história.
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