Subi correndo aqueles dois lances de escadas e cheguei à
porta do apartamento com o coração ameaçando me sair pela boca, mas com um
sorriso estampado no rosto. Demorei-me alguns segundos até a respiração voltar
ao normal e, com a mão tremendo, coloquei a chave na fechadura da porta. Mas não
a girei a princípio, aproveitando e saboreando cada instante antes de abrir a
porta. Coloquei meu ouvido na porta, para ouvir os passos de quem estava dentro
do apartamento, mas só ouvi o silêncio. Bati suavemente na porta, mas não
obtive qualquer resposta.
Já com a
respiração normalizada, mas com o coração ainda aos pulos e um sorriso
estampado no rosto, girei lentamente a chave na fechadura, abrindo a porta aos
poucos para que ela não fizesse barulho. Quando abri totalmente a porta, ouvi
apenas o silêncio ao invés de passos de uma pessoa correndo para vir me
abraçar. Chamei seu nome baixinho, depois mais alto, mais alto e mais alto, mas
só ouvi como resposta o eco de minha própria voz. O sorriso tinha sumido,
ficando em seu lugar uma expressão de preocupação no rosto, e coração começou a
bater tão fracamente que ameaçava parar a qualquer instante. Dei um passo
inseguro para dentro de casa e senti um vento frio que entrava pela janela aberta
me saudar com seu abraço. A cada passa que dava as minhas pernas pareciam ficar
mais pesadas. Chamava seu nome já com medo da resposta que receberia: o
silêncio.
Procurei em
todos os cômodos, mas ela não estava em canto algum, e já desesperado fui ao
quarto e vi, sobre a cama, sua toalha. Peguei-a e a levei lentamente ao rosto. A
toalha, ainda úmida, tinha seu cheiro tão inebriante e doce quanto o
desabrochar de mil primaveras. Joguei-me na cama, sobre os lençóis amarrotados,
que ainda guardavam o calor do aconchego de seu corpo. No travesseiro, vi, fios
de seus cabelos. Fechei os olhos com força e relembrei a noite passada e
consegui ouvir a sua respiração entrecortada por suspiros e gemidos; senti
novamente o calor de seu corpo colado ao meu, o seu suor se misturando ao meu e
os seus lábios a me procurar. Inspirei fundo e senti o cheiro de seu corpo tão
vivo naquele quarto, naquela cama e em meu próprio corpo. Senti o gosto de seu
beijo tão forte e intenso.
Ao abrir os
olhos, vi que ela não estava mais ali, que tudo aquilo que sentia eram apenas
lembranças, que estavam impregnadas em todos os cantos. Fechei novamente os
olhos e deixei que deles escapassem algumas poucas lágrimas silenciosas e
dolorosas. Quando os reabri, com a visão nublada, vi que num canto do quarto,
no chão, jazia uma folha de papel, que tinha ido parar ali, por certo, tendo
sido empurrada pelo vento. Em minha pressa e com minha falta de jeito, amassei
a folha. Não consegui ler o que havia escrito nela. O coração batia
descompassado e o ar que puxava parecia não chegar aos pulmões. Procurei me
acalmar, o que demorou uma eternidade para acontecer. Quando finalmente me
voltou à clareza da razão e dos sentimentos, o que li o que ela havia escrito,
sorri, tranquilizado por aquelas palavras, por aquela voz que ecoava em minha
cabeça como se fosse ela que estivesse a ler aquela breve carta.
Levantei-me
e peguei novamente a toalha e fiquei me abraçando a ela, sentindo aquele
cheiro, deixando que ele me tomasse toda a alma, até que fui acordado de meu
devaneio por uma batida na porta. Sorri, antevendo o reencontro. Deixei que ela
batesse mais uma vez na porta e me chamasse, e só quando ela assim o fez, dei
os primeiros passos. Queria correr para ir abrir a porta, mas preferi andar
devagar, como que contando os passos, como que para saborear os momentos que
antecedem ao reencontro. Chegando a porta, respirei fundo duas ou três vezes e
girei lentamente a chave na fechadura. Quando abri a porta, nossos olhos se
encontraram e nossas almas pularam, uma nos braços da outra e sorrimos um para
o outro...
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