sábado, 13 de outubro de 2012

Quando não te vi...


Subi correndo aqueles dois lances de escadas e cheguei à porta do apartamento com o coração ameaçando me sair pela boca, mas com um sorriso estampado no rosto. Demorei-me alguns segundos até a respiração voltar ao normal e, com a mão tremendo, coloquei a chave na fechadura da porta. Mas não a girei a princípio, aproveitando e saboreando cada instante antes de abrir a porta. Coloquei meu ouvido na porta, para ouvir os passos de quem estava dentro do apartamento, mas só ouvi o silêncio. Bati suavemente na porta, mas não obtive qualquer resposta.
            Já com a respiração normalizada, mas com o coração ainda aos pulos e um sorriso estampado no rosto, girei lentamente a chave na fechadura, abrindo a porta aos poucos para que ela não fizesse barulho. Quando abri totalmente a porta, ouvi apenas o silêncio ao invés de passos de uma pessoa correndo para vir me abraçar. Chamei seu nome baixinho, depois mais alto, mais alto e mais alto, mas só ouvi como resposta o eco de minha própria voz. O sorriso tinha sumido, ficando em seu lugar uma expressão de preocupação no rosto, e coração começou a bater tão fracamente que ameaçava parar a qualquer instante. Dei um passo inseguro para dentro de casa e senti um vento frio que entrava pela janela aberta me saudar com seu abraço. A cada passa que dava as minhas pernas pareciam ficar mais pesadas. Chamava seu nome já com medo da resposta que receberia: o silêncio.
            Procurei em todos os cômodos, mas ela não estava em canto algum, e já desesperado fui ao quarto e vi, sobre a cama, sua toalha. Peguei-a e a levei lentamente ao rosto. A toalha, ainda úmida, tinha seu cheiro tão inebriante e doce quanto o desabrochar de mil primaveras. Joguei-me na cama, sobre os lençóis amarrotados, que ainda guardavam o calor do aconchego de seu corpo. No travesseiro, vi, fios de seus cabelos. Fechei os olhos com força e relembrei a noite passada e consegui ouvir a sua respiração entrecortada por suspiros e gemidos; senti novamente o calor de seu corpo colado ao meu, o seu suor se misturando ao meu e os seus lábios a me procurar. Inspirei fundo e senti o cheiro de seu corpo tão vivo naquele quarto, naquela cama e em meu próprio corpo. Senti o gosto de seu beijo tão forte e intenso.
            Ao abrir os olhos, vi que ela não estava mais ali, que tudo aquilo que sentia eram apenas lembranças, que estavam impregnadas em todos os cantos. Fechei novamente os olhos e deixei que deles escapassem algumas poucas lágrimas silenciosas e dolorosas. Quando os reabri, com a visão nublada, vi que num canto do quarto, no chão, jazia uma folha de papel, que tinha ido parar ali, por certo, tendo sido empurrada pelo vento. Em minha pressa e com minha falta de jeito, amassei a folha. Não consegui ler o que havia escrito nela. O coração batia descompassado e o ar que puxava parecia não chegar aos pulmões. Procurei me acalmar, o que demorou uma eternidade para acontecer. Quando finalmente me voltou à clareza da razão e dos sentimentos, o que li o que ela havia escrito, sorri, tranquilizado por aquelas palavras, por aquela voz que ecoava em minha cabeça como se fosse ela que estivesse a ler aquela breve carta.
            Levantei-me e peguei novamente a toalha e fiquei me abraçando a ela, sentindo aquele cheiro, deixando que ele me tomasse toda a alma, até que fui acordado de meu devaneio por uma batida na porta. Sorri, antevendo o reencontro. Deixei que ela batesse mais uma vez na porta e me chamasse, e só quando ela assim o fez, dei os primeiros passos. Queria correr para ir abrir a porta, mas preferi andar devagar, como que contando os passos, como que para saborear os momentos que antecedem ao reencontro. Chegando a porta, respirei fundo duas ou três vezes e girei lentamente a chave na fechadura. Quando abri a porta, nossos olhos se encontraram e nossas almas pularam, uma nos braços da outra e sorrimos um para o outro...

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