Era noite escura lá fora e a chuva caia fina e constante
desde o final da tarde. Naquela casa, pela janela, um homem observava os pingos
d’água que caiam como lágrimas e, em seu devaneio, se perguntava do por quê de
o céu estar chorando. Talvez ele, o céu, assim como aquele homem, estivesse
apenas só, e o peso daquela solidão, naquele momento, tivesse extravasado em
forma de lágrimas que ele, em sua represa, não conseguira conter. O homem,
assim como o céu, chorava, mas suas lágrimas eram como uma chuva que caía em
abundância de sua alma.
Céu e homem choravam e choviam juntos
em suas dores que os aproximavam. Somente uma fina parede de tijolos os
separavam e um telhado impediam que as lágrimas do céu se misturassem à chuva
que saia dos olhos do homem.
Soluções retumbavam
no céu e trovões rebentavam com o peito do homem e o faziam estremecer e seus
lamentos quebravam o silêncio da noite e sobrepujavam os barulhos de suas
lágrimas e chuva que caíam e inundavam seu chão e pés. Gestos loucos o céu
fazia, e como raios o homem deixava cair seus braços ao longo do corpo.
O homem
dava passos lentos, afastando-se da janela e indo em direção à porta, que abriu
lentamente. O vento frio castigava sua pele, mas o céu sofria, e isso se via
pelas suas lágrimas, que caíam não mais finas como uma garoa, mas em abundância
como uma tempestade, e o homem foi reconfortá-lo com um abraço.
O homem
abriu os braços e olhou para o alto, deixando que as lágrimas do céu se
misturassem à chuva que escapava de seus olhos. Lágrimas e chuva se misturavam
e escorriam pelo seu corpo, banhando-o por inteiro, lavando a sua alma.
Ficaram daquele
jeito, abraçados, céu e homem, por longas horas. Deixavam, apenas, que suas
tristezas se diluíssem nas lágrimas e na chuva tornando-se uno naquele momento,
naquele abraço.
As horas
passavam e a tristeza provocada pela solidão, agora diluída, deixava de ser tão
opressora.
Uma tênue
linha no horizonte começou a clarear o firmamento lentamente e o céu olhou
naquela direção e viu o sol se abrir num sorriso. Cessaram suas lágrimas e se
formou um arco-íris e, ao pé deste, ao longe, o homem viu uma mulher, cujo
nascer do sorriso lhe era como o nascer do sol após uma noite de tempestade. Ele
correu em sua direção, para abraça-la, assim como céu, que se deixava abraçar e
ser tomado por inteiro por aquele sol esplendoroso daquela manhã.
Nenhum comentário:
Postar um comentário