Tenho medo de abrir os olhos e ver que tudo que eu temia
tornou-se realidade. Apuro todos os sentidos e sinto tudo ao meu redor. Ouço o
barulho do mais completo silêncio, sinto o cheiro vazio, toco as lembranças que
pairam à minha frente e saboreio o gosto esquecido.
No mais
profundo e completo silêncio e sinto medo – sinto muito medo. Tudo começa a se
fechar ao meu redor. Eu sinto esse peso opressivo que recai sobre meus ombros,
fazendo com que me curve até o chão, até ficar completamente deitado, esmagado,
com o rosto colado ao de minha própria sombra, minha única companhia, a única
que sempre esteve ao meu lado e que nunca me abandonou, mesmo quando a noite
era escura e não havia qualquer resto de luz que a projetasse.
Sei, mesmo
estando com os olhos fechados, sinto, que a minha sombra está aqui, a me fazer
companhia, mas, mesmo assim, eu sinto medo, temo pelo momento em que tiver que
abrir os olhos, do vazio que verei ao meu redor. Sinto medo só de pensar no que
meus olhos virão: o nada, a ausência, a solidão.
Pessoas solitárias
têm medo, pois, por mais solitárias que sejam, por vezes se sentem simplesmente
sozinhas, necessitadas de uma companhia, de um olhar, de uma palavra, de um
beijo, de um abraço... e o medo provém do fato de que, quando precisarem dessa
companhia, ao abrirem os olhos, não verem ninguém, terem ninguém por perto. Por
isso eu tenho medo, e mantenho os meus olhos bem fechados.
Medo da solidão, medo e solidão se misturam em minha alma, se fundem, se separam, me
aterrorizam até quando estou dormindo, quando estou tendo o mais doce sonho,
que se transmuta em pesadelo e me faz acordar em plena madrugada, com a
garganta seca e coração batendo acelerado no peito, ameaçando sair pela
garganta.
Coração –
sinto-o bater tão forte em meu peito, com a descarga de adrenalina alucinada
provocada pelo medo que percorre minhas veias, fazendo um frio e arrepio
percorrer toda a minha espinha, da base até a nuca.
Sinto esse
medo percorrendo todo o meu corpo, fazendo o meu coração acelerar, mas prefiro
continuar com os olhos fechados e viver na eterna dúvida do que abri-los e
comprovar que estou realmente sozinho, tendo, mais uma vez, como companhia
apenas a minha sombra.
Afetado e afeminado demais para o meu gosto.
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