Por um momento eu esqueci quem sou. Foi um breve momento,
que não durou mais do que um piscar de olhos, foi apenas um breve instante em
que me senti e fui realmente livre.
Senti que
podia voar, como um pássaro livre no céu. Não sentia dor, não sentia calor, não
sentia frio. Estava livre de qualquer pensamento, de todo e qualquer conceito e
preconceito. Foi um momento em que fui apenas livre.
Em meu
longo e breve voo eu vi o mundo, lá embaixo, tão pequeno, tão frágil, com as
pessoas tão apressadas em cumprir só e unicamente as suas rotinas, em viver seu
dia igual ao anterior, que será igual ao que se seguirá. Em meu voo, não havia
tempo algum: não havia passado, presente e futuro, ontem, hoje e amanhã, havia
apenas o momento, que é o que basta, que é o que a vida é: apenas um breve longo momento, que dura o mesmo que um piscar de
olhos, que um mergulho.
Em meu voo,
lá do alto, em senti o vento acariciando o meu rosto, me embalando em seus
braços, me levando e me trazendo. Abri a boca e senti seu gosto, uma mistura
saborosa de tudo e de nada. Ouvi as palavras que as pessoas jogavam e vivi seus
pensamentos, que as pessoas deixavam vagar. Fui todos sem deixar de ser apenas um.
Deixei-me
vagar com os braços abertos, livre e me deixei levar até uma nuvem, que me
chamava, que me recebia de braços abertos. Abracei e fui abraçado pela nuvem, e
nesse momento senti que acordava. Mas eu não queria voltar, não queria voltar a
me sentir preso, não queria voltar a ser
eu. A nuvem me abraçou com força, não querendo me deixar partir, pois fui
eu o único que lhe fez companhia, por um breve e único momento. A realidade,
implacável, me puxava com força, forçando-me a voltar, e eu tive que me deixar
levar, como um condenado a receber ordens de seu carrasco, dócil, impotente...
De volta ao
chão, à rotina, ao tempo, abri os olhos e olhei para cima e vi, lá longe, no
alto, a nuvem. Ela queria descer, vir até mim, me abraçar; e eu queria voar,
subir, ir até ela, abraçá-la, sentir novamente o seu toque suave, a sua pele
macia como a mais pura seda. Mas não podíamos mais estar um nos braços do
outro. Fechei os olhos, triste, e chorei.
Tomado por
aquela subida tristeza, chorando, senti, em meu rosto, bater as primeiras gotas
que caíam do céu. Abri os olhos e percebi que chovia. Olhei para o alto e vi
que a nuvem chorava, e suas lágrimas se misturavam às minhas, passando a ser
uma só lágrima, que escorria pelo meu rosto e ia cair no chão, abraçadas, sendo
uma só. Fui, novamente, não mais
que um momento, um só, livre.
tradução. alguns textos conseguem fazer uma tradução inconsciênte de algo já materializado por outras mentes... você traduz muito em suas imagens a essência de um filme brasileiro chamado: "Como esquecer"; com Ana Paulo Arozio e Murilo Benicio no elenco. vale a pena conferir, vc vai gostar.
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