domingo, 11 de dezembro de 2011

Não mais que um momento

Por um momento eu esqueci quem sou. Foi um breve momento, que não durou mais do que um piscar de olhos, foi apenas um breve instante em que me senti e fui realmente livre.
            Senti que podia voar, como um pássaro livre no céu. Não sentia dor, não sentia calor, não sentia frio. Estava livre de qualquer pensamento, de todo e qualquer conceito e preconceito. Foi um momento em que fui apenas livre.
            Em meu longo e breve voo eu vi o mundo, lá embaixo, tão pequeno, tão frágil, com as pessoas tão apressadas em cumprir só e unicamente as suas rotinas, em viver seu dia igual ao anterior, que será igual ao que se seguirá. Em meu voo, não havia tempo algum: não havia passado, presente e futuro, ontem, hoje e amanhã, havia apenas o momento, que é o que basta, que é o que a vida é: apenas um breve longo momento, que dura o mesmo que um piscar de olhos, que um mergulho.
            Em meu voo, lá do alto, em senti o vento acariciando o meu rosto, me embalando em seus braços, me levando e me trazendo. Abri a boca e senti seu gosto, uma mistura saborosa de tudo e de nada. Ouvi as palavras que as pessoas jogavam e vivi seus pensamentos, que as pessoas deixavam vagar. Fui todos sem deixar de ser apenas um.
            Deixei-me vagar com os braços abertos, livre e me deixei levar até uma nuvem, que me chamava, que me recebia de braços abertos. Abracei e fui abraçado pela nuvem, e nesse momento senti que acordava. Mas eu não queria voltar, não queria voltar a me sentir preso, não queria voltar a ser eu. A nuvem me abraçou com força, não querendo me deixar partir, pois fui eu o único que lhe fez companhia, por um breve e único momento. A realidade, implacável, me puxava com força, forçando-me a voltar, e eu tive que me deixar levar, como um condenado a receber ordens de seu carrasco, dócil, impotente...
            De volta ao chão, à rotina, ao tempo, abri os olhos e olhei para cima e vi, lá longe, no alto, a nuvem. Ela queria descer, vir até mim, me abraçar; e eu queria voar, subir, ir até ela, abraçá-la, sentir novamente o seu toque suave, a sua pele macia como a mais pura seda. Mas não podíamos mais estar um nos braços do outro. Fechei os olhos, triste, e chorei.
            Tomado por aquela subida tristeza, chorando, senti, em meu rosto, bater as primeiras gotas que caíam do céu. Abri os olhos e percebi que chovia. Olhei para o alto e vi que a nuvem chorava, e suas lágrimas se misturavam às minhas, passando a ser uma só lágrima, que escorria pelo meu rosto e ia cair no chão, abraçadas, sendo uma só. Fui, novamente, não mais que um momento, um só, livre.

Um comentário:

  1. tradução. alguns textos conseguem fazer uma tradução inconsciênte de algo já materializado por outras mentes... você traduz muito em suas imagens a essência de um filme brasileiro chamado: "Como esquecer"; com Ana Paulo Arozio e Murilo Benicio no elenco. vale a pena conferir, vc vai gostar.

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