domingo, 22 de maio de 2011

Eu e os números

Eu nunca gostei de números. Não sei bem de quando vem esse meu não-gostar, mas o fato é que, desde que me entendo por gente, simplesmente não gosto de números. Na escola, ainda pequeno, a matéria que eu mais odiava era matemática. Não adiantava minha mãe só me deixar sair para brincar depois de ter estudado todo o conteúdo e ter decorado todas aquelas fórmulas. Eu simplesmente não conseguia entender a lógica de tudo aquilo, talvez, simplesmente, por que não via a utilidade da matemática em minha vida. Mas curiosamente, matemática foi uma das disciplinas nas quais nunca fiquei em recuperação. Sempre tirava uma nota (número) satisfatória, que me dava o direito de passar de ano sem precisar fazer uma última prova. Não sei como nem por que isso acontecia, como conseguia tal feito, porque simplesmente não sabia (e até agora não sei) de nada de matemática. Talvez tenham sido lapsos, um sopro divino, que me dizia as respostas ou talvez tenha sido apenas oportunidade de sentar atrás do melhor aluno da sala e por acaso, como quem não quer nada, ver as respostas da prova dele...
            O fato é os números e eu, eu e os números, definitivamente, não fomos feitos um para o outro.
            Na adolescência, já tendo uma noção das coisas, de como a vida funcionava, dos números com que tínhamos que lidar, passei a odiá-los ainda mais. Tudo que eu queria, quando tinha 12 anos, era chegar aos 15; quando completei 15, queria chegar aos 18; quando cheguei aos 18, queria ter 21; e quando, completei, finalmente, os 21, desejava fazer uma simples operação matemática, de subtração, e voltar a ter 12 (ou 15 – ou 18, tudo menos 21), e ficar assim para sempre, mas não foi possível, e hoje estou chegando cada vez mais perto dos 30 e fico me perguntando onde ficam os números (das idades) que perdi e não aproveitei como deveria.
            Os números sempre me perseguiram, por mais que eu tentasse me livrar deles. Fui estudar história justamente para não ter que lidar com os números e cálculos das engenharias ou das cifras capitalistas de extorsão do direito, mas eis que surgem os números, agora dos séculos que estudei. Era um número inimaginável antes de cristo, depois veio o zero, e eis que entramos na nossa era, que continua, em certos aspectos, tão atrasada quanto nos tempos das civilizações mesopotâmicas, e que eu não sei bem aonde vamos chegar. Tive que aprender (decorar) quem veio antes de quem, em qual ano, reinando por quanto tempo, conquistando quantas civilizações, lutando em quantas batalhas, sofrendo tantas baixas. Enfim, números, números e números...
            Sai da universidade, me formei em 2006.2 (mais um número em minha vida), jurando que não iria, nunca mais, precisar lidar com números. Qual nada! A vida com os números estava apenas começando.
            Nos relacionamentos, tudo é número. Primeiro, temos que decorar a data do início do namoro (um número), para comemorar os aniversário de 1 ano; 1 ano e 3 meses; 2 anos, 4 meses e 3 semanas; 5 anos, 3 semanas e 4 dias; 6 anos, 1 semana, 4 dias e 5 horas... enfim, vamos ter que utilizar de todo o conhecimento matemático para chegar com exatidão quanto a data que deverá ser comemorada na ocasião (e olhe que são muitas datas, e ai de mim esquecesse de alguma!). E como se não bastasse isso, ainda tenho que lidar com as neuras das mulheres quanto aos números (já não basta os meus problemas com os números, ainda tenho que lidar com os delas?!). Elas, primeiramente, queriam ter uma idade eterna, seus 17, queriam ter a mesma medida de cintura de quando tinham 16 e de busto quando estavam com 18, a mesma beleza radiante dos seus 19, e vivem na terna briga com a balança e chegam a arrancar os cabelos quando percebem que engordaram 1kg. Isso sem contar que vivem querendo ganhar mais 1 presente, que se compre mais 2 pares de sandálias, 1 bolsa, 3 blusas, 2 calças, 1 par de brincos, etc, etc e etc. São tantos números que temos que lidar em nossos relacionamentos...
            Na vida de um homem moderno, tudo são números: número de identidade, número de CPF, endereço completo com o número do CEP, número do cartão de crédito, número da senha... Argh! É um sem fim de números.
            Quando se sai com os amigos é quantas (um número) cervejas se consegue beber, quantas fatias de pizza (num rodízio) se consegue comer, quantas mulheres beijou na última festa (esse número nunca deve ser revelado com exatidão, devendo, sempre, ser aumentado), entre outras coisas (números) do tipo.
            No trabalho, mais números, números e números. É um eterno corre-corre atrás de bater uma meta (se alcançar um número), para se receber uma comissão no fim do mês, gastar todo o dinheiro em 1 dia e ficar o resto dos 29 sem 1 centavo no bolso, reclamando da falta de dinheiro. E por mais que se trabalhe, o salário nunca dá para tudo, e quando precisamos pra valer da matemática, para uma simples operação de soma (acréscimo) no salário, o nosso padrão finge não entender nada de matemática e ficamos com um número estagnado até quando, ninguém sabe.
          

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