domingo, 29 de maio de 2011

Hora de ir às compras...

Homens e mulheres, definitivamente, não foram feitos para realizarem determinadas tarefas juntos. Impossível ir juntos a um estádio, assistir a um grande jogo de futebol; difícil chegarem a um consenso quanto a quem deve ficar de posse do controle remoto da televisão; inimaginável fazerem compras num shopping juntos; mas, talvez, a tarefa mais difícil para realizarem juntos seja ir ao supermercado para fazerem as compras do mês. É sério (na verdade é seriíssimo!). É algo impossível, difícil, verdadeiramente inimaginável um homem e uma mulher irem fazer compras sem discutirem pelo menos uma vez, sem voltarem para casa um “emburrado” com o outro.
            A primeira discussão acontece antes mesmo de chegarem ao supermercado, quando, no carro, discutem sobre o melhor lugar para estacionar. Homem é sempre mais prático, e está propenso a estacionar até em local proibido, ou na primeira vaga que surgir, nem que esta seja tão estreita que mal dê para abrir a porta; mulher, por outro lado, prefere um local mais próximo da entrada, para não ter que andar muito (e para não correr o risco de “perder o carro” quando sair do supermercado), se possível à sombra. Quando, por fim, chegam a um “consenso” (que na verdade, significa “um dos dois cedeu”), se dirigem para pegar um carrinho. A mulher quer um novinho, que não tenha nenhum defeito, que as rodinhas girem nos eixos, etc, etc e etc, enquanto o homem pega o primeiro que vê (nem que este já “tenha dono”). Em seguida vem a única coisa em que não precisam discutir: quem vai empurrar o carrinho – o homem.
            Dentro do supermercado o homem é o ser prático da história, e quer se dirigir direto para pegar cada item que precisa, que está na suposta lista que supostamente a mulher fez ao sair de casa, e que, ninguém sabe por que (acredito que é algo que nem Freud explica), ela nunca encontra dentro da bolsa; a mulher, por seu lado, prefere passar por todos os corredores, visitar todas as seções (até a de comida de animais, embora o casal não tenha animal nenhum em casa), ver tudo que está em promoção. O homem quer poupar tempo, enquanto a mulher disse que não tem mesmo o que fazer em casa, e a solução é ela enganá-lo, e ir ela empurrando o carrinho, enquanto ele, impaciente, segue atrás, já com cara de poucos amigos.
            As compras seguem tranquilas, até que começam a colocar as compras no carrinho. Homem, sempre prático, coloca sabão em pó ao lado da carne, que fica em cima dos pães, tendo a sua direita o feijão, a esquerda os biscoitos e estando sobre os ovos; a mulher, ao ver essa “desorganização”, corre para ajeitar tudo, deixando tudo organizando tal qual as seções do supermercado. Ela briga, reclama e começa a organizar tudo.
            - Onde já se viu colocar a água sanitária ao lado do leite em pó e o frango congelado ao lado dos meus absorventes? – resmunga ela.
            - Não vejo motivo para toda essa organização se vamos passar tão pouco tempo nesse supermercado – fala ele.
             Discussão que segue enquanto ele empurra o carrinho (ele nem se lembra mais quando voltou a empurrar o carrinho), seguindo de seção em seção.
            Homem pega a primeira coisa que está ao alcance de suas mãos, sem atentar para o preço, qualidade, prazo de validade, enquanto a mulher, ao ver isso, corre, faz um escândalo, e o repreende. Explica que tem que, para algumas coisas, ele deve atentar para o preço e comprar o mais barato, enquanto para outros é preciso se olhar para o prazo de validade, e outros pode comprar o mais caro mesmo... Como um homem pode atentar para tanta coisa confusa ao mesmo tempo?!
            Os dois ainda discutem, muito, por todos os cantos por que passam no supermercado. Ele quer colocar cerveja, ela não deixa; ele quer produtos industrializados, ela prefere frutas; ele quer carne para churrasco, ela quer para bife; ele quer queijo mussarela e presunto suíno, ela prefere queijo prato e presunto de peru; ele quer pão de forma comum, ela exige o integral; ele, refresco em pó, ela polpa de fruta. E seguem nessa incansável discussão até que, finalmente, quando se dão conta, estão, já, na fila do caixa. Nesse momento, não há discussão alguma: é o homem que puxa o cartão de crédito e paga as compras. Pelo menos em uma coisa, no supermercado, homens e mulheres têm que se entender, para poderem ir para casa em paz com relação a pelo menos uma coisa naquele dia.
            E tudo caminha em paz, pelo menos até o mês seguinte, onde, por mais que um tenha falado que não iria mais ao supermercado com o outro ao longo de todo o mês, percebem que a geladeira está vazia, não há mais nada nos armário, e têm que ir ao supermercado, para fazerem as compras do mês...

terça-feira, 24 de maio de 2011

Que decepção...


Pai e mãe sempre foram muito zelosos quanto à educação de seu único filho. Costumavam dizer que valores morais são imutáveis, por mais que os tempos sejam outros, que as pessoas estejam mais “moderninhas” nos dias atuais. O filho, já adolescente, já começava a sair com amigos, a chegar tarde a casa, mas de algumas coisas os pais não abriam mão. Algumas pessoas, amigos mais próximos e parentes, julgavam até excessiva essa preocupação que os pais tinham para com o filho. Mas não havia nada que os demovesse caso julgassem algo necessário à educação do filho, caso encasquetassem algo.
            Mas havia algo estranho com o jovem. Já há semanas ele mal falava com os pais e parecia envergonhado com algo que tinha para falar, como se o que tivesse para revelar fosse mudar para sempre a imagem que os pais tinham dele. Ele andava cabisbaixo, comendo pouco e sempre que os pais o chamavam para assistirem a um filme juntos, ele sempre arranjava uma desculpa, só para não ter que, depois do filme, ter que conversar com eles.
            O tempo passa e os pais começaram a perceber as mudanças nos trejeitos do filho. Perceberam a mudança no seu olhar, na sua voz, no seu jeito de falar, nos gostos e até no andar. O pai, sempre preocupado com o que os amigos pudessem falar a respeito de seu filho, estava tão preocupado que passava noites em claro, se perguntando onde tinha errado. Sempre foi um pai exemplar, um homem digno, provedor de todo o sustento da família. Sempre foi o que comumente se chama de homem da casa. Não havia falado nada abertamente com a mulher a respeito do filho, como se só em tocar no assunto fosse capaz de fazer com que o seu pesadelo se tornasse realidade. A mãe, por seu lado, sempre mais compreensiva, imaginava se tinha sido ela a culpada, por ter passado tantas e tantas vezes a mão na cabeça do filho, quando ele fazia coisas erradas.
            A situação estava ficando insustentável, com uma tensão e expectativa no ar, como se alguma bomba estivesse prestes a explodir. A relação entre pais e filho havia mudado, e até a relação entre marido e mulher estava estremecida.
            Houve uma noite em que o homem não aguentou mais e, quando viu o filho sair, chamou a esposa.
            - Marília, eu não aguento mais. Essa dúvida me angustia. Eu não consigo mais dormir só de pensar no que meu filho pode ter se tornado. Eu fico imaginando o que meus amigos poderão falar de mim. Não quero falar isso, mas não quero sentir vergonha dele. De meu próprio filho! Não, isso eu não quero.
            - Pedro, eu também não aguento mais, meu amor. É o nosso filho, mas não consigo imaginar onde erramos. Não acredito que nosso filho tenha se desgarrado de tal maneira.
            - Onde foi que erramos, querida? Acho que eu sou o culpado. Não sai tanto com ele como deveria, não o levei para ir jogar futebol na praia, não o levei para as reuniões com os meus amigos e nem o apresentei aos filhos de meus amigos. Eu sequer o levei a um estádio, para assistirmos a um jogo de futebol! Que péssimo pai eu fui – lamentou-se ele, começando a chorar.
            - Não chore, querido. Na verdade, a culpa é toda minha. Eu sempre fui muito complacente, sempre passei muito a mão na cabeça dele quando não deveria. Escondi os erros que ele cometeu. Sempre deixei ele assistir televisão até tarde, todos os programas que ele queria. A televisão, você sabe, querido, pode influenciar as pessoas, principalmente aos jovens, com personalidade e gostos em formação, como é o caso dele.
            - A culpa é nossa, querida. A televisão tem sua parcela de culpa, sim, por estar fazendo o que está com essa juventude, mas nós, como pais, devemos supervisionar o que nosso filho assiste ou deixa de assistir.
            - Eu sou uma péssima mãe. Deveria ter prestado mais atenção em nosso filho – disse ela, começando a chorar.
            Os dois então se abraçaram e choraram juntos, lamentando, cada um o seu erro, na educação do filho, por ele ser o que ele era (ou que pelo menos eles julgavam ser).
            Foram então ao quarto do filho, onde encontraram vários indícios da personalidade do filho.
            - Ainda não acredito que nosso filho seja... é algo tão ruim, para mim, que me custa até falar.
            - A mim também, querido.
            Os dois, então, começaram a mexer nas coisas do filho. Encontraram roupas comprometedoras e uma revista que o pai sequer teve coragem de pegar.
            - Querida, olhe isso aqui – disse ele, mostrando a revista que tinha encontrado. Ela veio, viu e teve que se sentar na cama para não cair.
            - Não acredito nisso.
            Os dois ficaram sentados na cama, de mãos dadas, como que tentando conseguir forças para se reerguerem após aquele baque.
            - Olhe aquela camisa, querido. Me custa acreditar que meu filho, o meu querido e amado filho, o nosso menininho, possa vestir algo como aquilo – disse ela, apontando para o guarda-roupa, onde estava dobrada cuidadosamente a reveladora camisa.
            - Devem ter sido as companhias. Nós deveríamos ter sido mais atentos quanto a com quem ele saía, suas amizades. Deveríamos ter sido mais rígidos em sua educação.
            - Mas nós fomos rígidos, querido...
            - Mas deveríamos ter sido mais. Se tivéssemos sido mais rígidos, não teria acontecido com ele o que aconteceu...
            Ficaram subitamente em silêncio.
            - Não posso acreditar nisso, mesmo que meus olhos tenham visto o que acabei de ver. Tenho que ouvir isso da própria boca dele. Ligue para ele e mande-o vir para casa imediatamente, Marília.
            A mulher pegou seu celular e ligou para o filho, que não entendeu o tom de urgência na voz da mãe nem o motivo daquele chamado, mas não questionou. Disse que chegaria em poucos minutos a casa.
            Pais estavam e silêncio, na sala, aguardando pela chegada do filho.
            Quando ouviram o barulho da chave entrando na fechadura, levantaram-se de um salto. O filho, ao abrir a porta, tomou um susto ao ver os pais naquela posição. “Será que eles descobriram que eu sou...”
            - Queríamos ter uma conversa muito séria com você, filho – disse o pai, apontando uma cadeira para o filho se sentar.
            - Pai... Mãe... eu... posso explicar – começou a falar o rapaz, gaguejando.
            - Você pode explicar isso, filho? – falou o pai, mostrando a camisa do Corinthians, a prova do crime, que tinha encontrado escondida dentro do guarda-roupa.
            O rapaz apenas abaixou a cabeça, envergonhado. Sabia da culpa que lhe cabia, sabia da vergonha que os pais sentiriam dele. Talvez a mãe até o compreendesse, como sempre compreendia, mas mesmo ela não deixaria de se sentir envergonhado ao sair com ele vestindo aquela camisa, mas o pai não, ele não lhe perdoaria. Iria, sim, respeitá-lo como filho, mas jamais seria capaz de aceitar aquela escolha.
            - Corinthiano... meu filho é um Corinthiano... – dizia o pai – Que lástima, que vergonha para mim, para toda a família... Corinthiano...
            - Calma, querido, calma... logo vai passar – falou sua esposa, levando-o para um canto peto da janela, onde pudesse tomar um vento. Foi pegar um calmante, para ajudá-lo a digerir aquela dura revelação.
            O filho foi para o quarto, sentindo todo o peso de sua culpa. A mãe ainda foi lavar a louça antes de dormir. O pai, tendo tomado doses cavalares de calmante, foi se deitar, a pedido da esposa, mas mesmo com os olhos fechados, dormindo, sonhando, não deixava de falar:
            - Corinthiano... Não acredito que meu filho seja um Corinthiano!

Lançamento do livro "Moeda Virtual"


domingo, 22 de maio de 2011

Eu e os números

Eu nunca gostei de números. Não sei bem de quando vem esse meu não-gostar, mas o fato é que, desde que me entendo por gente, simplesmente não gosto de números. Na escola, ainda pequeno, a matéria que eu mais odiava era matemática. Não adiantava minha mãe só me deixar sair para brincar depois de ter estudado todo o conteúdo e ter decorado todas aquelas fórmulas. Eu simplesmente não conseguia entender a lógica de tudo aquilo, talvez, simplesmente, por que não via a utilidade da matemática em minha vida. Mas curiosamente, matemática foi uma das disciplinas nas quais nunca fiquei em recuperação. Sempre tirava uma nota (número) satisfatória, que me dava o direito de passar de ano sem precisar fazer uma última prova. Não sei como nem por que isso acontecia, como conseguia tal feito, porque simplesmente não sabia (e até agora não sei) de nada de matemática. Talvez tenham sido lapsos, um sopro divino, que me dizia as respostas ou talvez tenha sido apenas oportunidade de sentar atrás do melhor aluno da sala e por acaso, como quem não quer nada, ver as respostas da prova dele...
            O fato é os números e eu, eu e os números, definitivamente, não fomos feitos um para o outro.
            Na adolescência, já tendo uma noção das coisas, de como a vida funcionava, dos números com que tínhamos que lidar, passei a odiá-los ainda mais. Tudo que eu queria, quando tinha 12 anos, era chegar aos 15; quando completei 15, queria chegar aos 18; quando cheguei aos 18, queria ter 21; e quando, completei, finalmente, os 21, desejava fazer uma simples operação matemática, de subtração, e voltar a ter 12 (ou 15 – ou 18, tudo menos 21), e ficar assim para sempre, mas não foi possível, e hoje estou chegando cada vez mais perto dos 30 e fico me perguntando onde ficam os números (das idades) que perdi e não aproveitei como deveria.
            Os números sempre me perseguiram, por mais que eu tentasse me livrar deles. Fui estudar história justamente para não ter que lidar com os números e cálculos das engenharias ou das cifras capitalistas de extorsão do direito, mas eis que surgem os números, agora dos séculos que estudei. Era um número inimaginável antes de cristo, depois veio o zero, e eis que entramos na nossa era, que continua, em certos aspectos, tão atrasada quanto nos tempos das civilizações mesopotâmicas, e que eu não sei bem aonde vamos chegar. Tive que aprender (decorar) quem veio antes de quem, em qual ano, reinando por quanto tempo, conquistando quantas civilizações, lutando em quantas batalhas, sofrendo tantas baixas. Enfim, números, números e números...
            Sai da universidade, me formei em 2006.2 (mais um número em minha vida), jurando que não iria, nunca mais, precisar lidar com números. Qual nada! A vida com os números estava apenas começando.
            Nos relacionamentos, tudo é número. Primeiro, temos que decorar a data do início do namoro (um número), para comemorar os aniversário de 1 ano; 1 ano e 3 meses; 2 anos, 4 meses e 3 semanas; 5 anos, 3 semanas e 4 dias; 6 anos, 1 semana, 4 dias e 5 horas... enfim, vamos ter que utilizar de todo o conhecimento matemático para chegar com exatidão quanto a data que deverá ser comemorada na ocasião (e olhe que são muitas datas, e ai de mim esquecesse de alguma!). E como se não bastasse isso, ainda tenho que lidar com as neuras das mulheres quanto aos números (já não basta os meus problemas com os números, ainda tenho que lidar com os delas?!). Elas, primeiramente, queriam ter uma idade eterna, seus 17, queriam ter a mesma medida de cintura de quando tinham 16 e de busto quando estavam com 18, a mesma beleza radiante dos seus 19, e vivem na terna briga com a balança e chegam a arrancar os cabelos quando percebem que engordaram 1kg. Isso sem contar que vivem querendo ganhar mais 1 presente, que se compre mais 2 pares de sandálias, 1 bolsa, 3 blusas, 2 calças, 1 par de brincos, etc, etc e etc. São tantos números que temos que lidar em nossos relacionamentos...
            Na vida de um homem moderno, tudo são números: número de identidade, número de CPF, endereço completo com o número do CEP, número do cartão de crédito, número da senha... Argh! É um sem fim de números.
            Quando se sai com os amigos é quantas (um número) cervejas se consegue beber, quantas fatias de pizza (num rodízio) se consegue comer, quantas mulheres beijou na última festa (esse número nunca deve ser revelado com exatidão, devendo, sempre, ser aumentado), entre outras coisas (números) do tipo.
            No trabalho, mais números, números e números. É um eterno corre-corre atrás de bater uma meta (se alcançar um número), para se receber uma comissão no fim do mês, gastar todo o dinheiro em 1 dia e ficar o resto dos 29 sem 1 centavo no bolso, reclamando da falta de dinheiro. E por mais que se trabalhe, o salário nunca dá para tudo, e quando precisamos pra valer da matemática, para uma simples operação de soma (acréscimo) no salário, o nosso padrão finge não entender nada de matemática e ficamos com um número estagnado até quando, ninguém sabe.
          

domingo, 15 de maio de 2011

O que essa tal de "Literatura teen" está fazendo às criaturas das trevas?!

Cansei, cansei e cansei. Fui compreensivo e paciente até onde me foi possível, mas, definitivamente, não dá mais para aguentar tudo isso que têm feito aos clássicos seres sobrenaturais, às criaturas das trevas, que povoam as sombras e vivem a se esconder nas noites escuras, isso tudo para dar um toque meloso (e ridículo) a fim de atingir um público teen.
            Primeiro foram os vampiros... nossa... o que fizeram com os vampiros? Acredito piamente que desde o lançamento do primeiro livro da saga Crepúsculo os ossos de Bram Stoker estão se revirando em seu túmulo, seu espírito está desejoso de reencarnar só e unicamente para dar uma boa lição na escritora que criou os vampiros que brilham como uma fada, são inofensivos, estudam numa típica escola norte-americana e (pasmem) não mordem absolutamente ninguém. Vampiro que não morde ninguém nem suga sangue, por um acaso, se alimenta do quê? Alface? Couve-Flor? Ah, já sei: ele morde o caule de Planta-Carnívora né?! Francamente, não dá para aturar isso e ficar calado. Sou um amante confesso de histórias clássicas de suspense e terror, um apaixonado por livros, histórias e filmes capazes de fazer o nosso sangue gelar, e tenho até sido bastante comedido em minhas palavras sobre toda essa questão, mas chegou a um ponto que não dá mais para aguentar, para ficar calado e fingir que está tudo bem.
            Fazer um vampiro-fada, que brilha, que não morde ninguém e que ainda protege mocinhas inocentes? Tenha paciência, amigo!
            Até Anne Rice, que dá um ar todo romanceado, dota seus personagens (vampiros) de sentimentos humanos, os faz sofrer com a dualidade e complexidade de sua natureza respeita, e muito, o vampiro vampiro.
            Mas essa escritorazinha-de-meia-tigela, criadora da saga crepúsculo... não... ela, definitivamente, pode ter criado qualquer coisa, menos um vampiro. Muito pelo contrário: ela destruiu tudo, toda uma história, todo um mito que existe por trás dessas criaturas que povoam o nosso imaginário há tão longo tempo. Ela, definitivamente, não lê, não conhece, não respeita nada do que já foi produzido, seja na literatura, teatro e cinema sobre vampiros.
            Mas tudo bem... poderíamos relevar, se se trata-se de um caso isolado, de uma escritora, apenas, querendo atingir a um público específico, vender alguns livros e faturar alguns milhões de dólares. Mas eis que surge uma enxurrada de livros semelhantes, de histórias tão mal escritas e tão sem fundamento quanto a da miss-crepúsculo. Foram tantas as coleções, tantas séries, tantas sagas de vampiros-que-não-são-vampiros (todas figurando em todas as listas dos livros mais vendidos de todas as livrarias, revistas e jornais do país) que eu já perdi a conta.
            Mas tudo bem, isso é fase, logo vai passar... logo, logo todo mundo esquece, param de publicar essas porcarias e tudo volta ao seu respectivo lugar. Que nada, amigo!
            Como se não bastasse tudo que fizeram com os vampiros, agora, para “inovar”, os escritores-destruidores-de-mitos foram em busca de outras “fontes inspiradoras”, e começaram a escrever histórias de tudo quanto é ser mitológico e de criaturas das trevas. São histórias de lobisomens que não uivam, anjos caídos e agora (pasmem!) de zumbis apaixonados!
            Até os anjos, amigos, estão sendo vítimas de tal infâmia! Se houvesse alguma força que regesse o universo, com certeza ela não permitiria que isso fosse feito com as suas mais belas e perfeitas criaturas, que são responsáveis por guardar tão bem o nosso mundo.
            Lobisomens viraram simples cachorrinhos vira-latas e se apaixonam por mocinhas inocentes, que de inocentes não têm mais nada, que são verdadeiras e provocantes Lolitas conscientes do poder que sua sedução.
            E, agora, como se não bastasse tudo isso, eis que a mais improvável criatura se apaixona: um zumbi. E, como se não bastasse, a história do tal zumbi trata-se de uma espécie de releitura tosca e ridícula do clássico de William Shakespeare: Romeu e Julieta. Então, com tal livro, conseguiram destruir dois clássicos com um livro só: o clássico de Shakespeare e os zumbis.
            Definitivamente, livros como esses deveriam ser banidos das livrarias e as editoras não deveriam sequer aceita-los para análise.
            Tudo bem, isso é uma opinião minha e pode até ser tida como sendo um tanto quanto radical. Sei que para atingir a um público jovem (teen, como falam hoje em dia) é preciso se falar a língua deles, escrever histórias que possa ser de seu interesse, etc, etc e etc, mas é possível se produzir literatura de qualidade, se criar histórias boas, se atingir a tal público, vender alguns milhões de cópias, se faturar alguns milhões sem denegrir imagem e história alguma.
            Enfim, estou cansado, definitivamente perdi a minha paciência e na minha condição de amante da boa literatura preciso expressar a minha opinião quanto à tudo isso que estão fazendo, denegrindo as criaturas das trevas com essa “literatura teen”. Eu proporia um boicote a tais livros e filmes... mas como sei que quase ninguém me apoiará nessa minha “campanha” de um homem-leitor só, resta-me o prêmio de consolo saber que mais cedo ou mais tarde esse lixo (que alguns ousam chamar de literatura) vai ser recolhido, ninguém mais vai se lembrar que um dia ele existiu (se é que podemos falar isso dessa pseudo-literatura) e tudo vai voltar a seu devido lugar: os vampiros vão voltar a viver nas sombras da noite, poderão voltar a morder e a matar, os lobisomens vão voltar a uivar para a lua cheia, os anjos vão voltar a proteger e guardar nosso mundo e os zumbis... bem... os zumbis podem voltar a se arrastar e a comer cérebros...

domingo, 8 de maio de 2011

Confissão de um chocólatra

- Pai, mãe, eu sou um viciado. Eu sou um chocólatra!
            - O quê? Chocólatra? Vem cá, meu filho. Senta aqui no colo de papai e me deixa te dar um abraço.
            - Não, pai, não vou sentar no seu colo. Além de já ser bem grandinho, eu não mereço colo. Vocês não entenderam? Eu sou um viciado!
            - O que há de errado nisso, filho? – perguntou a mãe, chegando perto do filho para abraçá-lo, como se o parabenizasse.
            - Mãe, eu sou um viciado. Você não entende isso? Eu não consigo viver sem chocolate. É mais forte do que eu. Eu já roubei o chocolate da bolsa de uma amiga da escola e já até briguei com uma criança por conta de um Baton.
            - Mas filho, não podia ser diferente. Toda a nossa família é assim. O vício por doces e por chocolate em especial está no nosso sangue, é genético. Eu li até uma reportagem numa revista que há cientistas fazendo um mapeamento genético em busca do gene do chocolate...
            - Mãe, isso é loucura. Esse vício não leva ninguém a nada. Eu deixo de comprar coisas que preciso só para comprar chocolate, eu até já abri o meu cofre, que você e o papai estavam juntando dinheiro para quando eu entrar na faculdade, só para comprar chocolate, que comi escondido de todo mundo, no escuro, dentro do banheiro, e não ofereci nenhum pedaço para ninguém, mãe. Você entende isso? Eu sou um viciado.
            - Todos nós já fizemos isso alguma vez na vida, filho. Eu, por exemplo, não gosto de dividir meu chocolate com ninguém: nem com seu pai. Costumo comer tudo sozinha. Ah, meu filho, como eu me arrependo de, quando você era pequenininho, quando ia para os aniversários, que recebia a sua lancheira, eu roubava os chocolates e você nem percebia, só para satisfazer o meu vício.
            - Eu também não estou livre dos pecados provocados pelo vício, filho. Sua mãe roubava, sim, seus chocolates quando você era criança. Eu, por meu lado, cometi vários pecados capitais por conta do meu vício. Já pequei pela gula, de comer tanto chocolate que fiquei passando mal; já peguei pela vaidade, me exibindo por ser o único a possuir um chocolate de uma série especial; já pequei pela ira, saindo no tapa com um colega do trabalho só porque ele mordeu meu chocolate; já fui avaro, negando chocolate até a uma criança; já pequei até pela luxúria, usando chocolate “na hora H”...
            - Pedro...
            - Desculpe, querida. Eu me empolguei um pouco.
            - O que estamos querendo dizer, meu filho, é que esse vício é mais forte do que eu, do que você, e está em nosso sangue. Não há como fugir dele. Além do mais, não faz mal a ninguém.
            - Faz mal sim, mãe. Minha taxa de glicose, na última vez em que fui ao médico, deu quase o dobro. Eu estava numa margem de pré-diabético. Mas não é desse mal que falo. Esse vício está me consumindo, mãe, e eu não consigo me segurar. Tenho que comer chocolate todo dia, toda hora. Em casa, cansei de, em plena madrugada, acordar com a boca seca, desejoso de comer nem que seja só um tabletinho, e só consegui voltar a pegar no sono depois de satisfazer o meu desejo. Na escola já menti para o professor, dizendo que precisava ir ao banheiro, mas só para fugir, ir até a cantina para comprar um chocolate e comê-lo escondido dentro de um box no banheiro.
            - Eu, em meu tempo de estudante, também fazia muito isso, filho.
            - Mas pai, você não vê a gravidade disso? Isso é um vício, pai e mãe! Eu sou levado a mentir para conseguir chocolate. Até já roubei moedinhas de vocês só para comprar chocolate. Semana passada eu vendi até umas figurinhas de um álbum só para conseguir dinheiro para comprar chocolate! Isso já está passando dos limites.
            - Você não precisava ter vendido suas figurinhas, filho. Era só ter nos pedido dinheiro, que daríamos para você comprar seu chocolate.
            - Pedir dinheiro para vocês? Para compra chocolate? Pedir dinheiro para vocês para manter meu vício? Não, pai, não, mãe. Eu não faria isso, nunca, com vocês. Eu sou um viciado, e dei o primeiro passo, hoje, a fim de me curar desse vício, ao confessá-lo para vocês.
            Pai e mãe viram que o filho estava falando muito sério, e que estava até um pouco alterado. Resolveram adotar uma outra postura para ver onde aquilo tudo iria dar.
            - Resolvi me confessar um viciado e pedir ajuda de vocês, mas acho que vocês não podem fazer nada por mim, nesse caso. Mas eu já estava preparado para isso. Já andei pesquisando na internet e encontrei uma clínica de recuperação para viciados em chocolate...
            - Não precisa disso tudo, filho. Podemos encontrar uma maneira de você se curar, ou pelo menos conter-se mais...
            - Preciso disso tudo, sim, mãe. Isso, esse vício é mais forte do que eu. Lembro da vê em que tentei ficar uma semana sem comer chocolate. Meu humor mudou, eu ficava irritado o tempo todo, com um nada eu explodia, eu tremia, estava quase tendo convulsões. Não podia ouvir o barulho de uma embalagem qualquer sendo aberta, que eu já imaginava que se tratava de chocolate. Não, mãe. Isso é mais forte do que eu. Eu preciso ir para uma clínica de desintoxicação.
            Pai a mãe se olharam, um esperando que o outro tomasse a frente naquela difícil situação. Coube ao pai, na condição de homem da casa, dar o decisivo passo e ser o apoio de que o filho tanto precisava.
            - Tudo bem, filho. Se é disso que você precisa, se é realmente isso que você quer, nós vamos te apoiar, vamos estar ao seu lado para o que der e vier, e vamos enfrentar isso tudo juntos, como a família unida que somos.
            Chorando por ter sido compreendido, o filho se atirou nos braços do pai, agradecendo-o. Depois abraçou e chorou nos braços da mãe. Aquela era uma situação extrema, e ele iria precisar do apoio e da compreensão de todos.
            - Agora que você já falou o que queria falar, vamos comemorar o início de sua recuperação com um bom jantar – falou a mãe. Foram, então, todos para a mesa.
            Pai e filho ficaram sentados conversando sobre a rodada do Campeonato Brasileiro do final de semana, fazendo suas apostas, enquanto a mãe preparava o jantar.
            Passado algum tempo, a mãe começou a trazer o jantar.
            - O que teremos para sobremesa, mãe – perguntou o filho.
            - Espere só um minutinho, que já vou trazer – falou ela, sumindo momentaneamente. Quando ela voltou, vinha trazendo algo que tinha comprado naquele dia na padaria. O filho, ao ver aquilo, aguçou a visão, e abrindo muito os olhos. Balbuciou palavras incompreensíveis, e só quando voltou a si, que olhou para o pai, depois para a mãe, foi que falou.
            - Não, mãe. Bolo de chocOLATE NÃO...

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Moeda Virtual - lançamento

Sinopse


Repleto de escândalos, barracos, micos e patifarias este tão bem condimentado romance mostra um Brasil devastado pela corrupção e cativo da criminalidade, nas muitas voltas de uma prostituta de luxo com seus caros e seletos clientes. Magali, a prostituta, peregrina pela vastidão de indecências de uma sociedade hipócrita e decadente onde a inversão de valores, o machismo, o contra senso moral, o culto exagerado ao dinheiro e a bandalheira política, dominam a cena e corroem a saúde do país. Carregado no humor, na picardia, na ironia e até em um sarcasmo moderado o autor desembaraça os podres e o subterrâneo político-social de um Brasil empanzinado de mazelas e debilitado pela corrupção. No meio disso tudo, bem esfarelado nas entrelinhas, surge a MOEDA VIRTUAL. O deputado federal, do Rio Grande do Norte, Ricardo Carruso lança no congresso nacional um projeto de lei que viria a modificar todo o sistema político e econômico da nação. Um projeto relativamente simples e até certo ponto inusitado, mas com um impacto profundo nos piores males do Brasil, como a corrupção e o tráfico de drogas. O projeto toma repercussão positiva internacional e alavanca a carreira política do jovem deputado, fazendo-o saltar degraus no poder e assumir a cadeira de presidente do Brasil sem, nunca antes, ter tido experiência no poder executivo. Vale a pena ler: é um romance leve e inteligente, muito bem humorado e apimentado, faz uma séria autocrítica e nos leva a ver o mundo por outras perspectivas, nos faz enxergar, acima de tudo, que o mundo não é só dinheiro... Na cueca... A vida não é só patifaria... 

Lançamento dia 10 de junho, a partir das 19 horas, na Livraria Siciliano do Midway Mall