Sou um completo (e confesso)
apaixonado pela literatura russa. Ainda me pego, por vezes, a pensar, em como
um país, até então sem grande tradição literária (comparando com a Inglaterra e
França, principalmente, que tem uma tradição literária de séculos) pôde, em tão
curto espaço de tempo, em apenas um século (o XIX), ver nascer de seu seio tão
grandes e importantes escritores, não só para a própria Rússia, mas para todo o
mundo e universo literário.
Foi
na Rússia do século XIX que surgiram grandes gênios da literatura como
Aleksandr Puchkin (1799-1837), Nikolai Gogol (1808-1852), Mikhail Lérmontov
(1814-1841) – esse tão pouco conhecido no Brasil –, Ivan Turgueniev
(1818-1883), Fiodor Dostoievski (1821-1881), Liev Tolstoi (1828-1910), Anton
Tchekhov (1860-1904), Máximo Gorki (1868-1936) e Leonid Andreiev (1871-1919) –
também este pouco conhecido e falado em nosso país –, e isso só para citar
alguns, pois o universo da literatura russa é muito mais amplo e possui muitos
outros gênios. Esses escritores, poetas, romancistas, contistas, novelistas e dramaturgo,
apesar de alguns terem avançado, em vida, alguns anos dento do século seguinte,
viveram e produziram a maior e mais significativa parte de sua obra dentro do
século XIX, ou pelo menos tiveram suas influências e obras situadas nesse
século. Pode-se afirmar, portanto, que foi o século XIX a fase de ouro da literatura russa.
Obras
marcadas, sempre, por intensos conflitos, repletas de drama, com uma forte
carga emocional são marcas natas da literatura russa desse período. Valores,
filosofia, relações conjugais, romances históricos e críticas sociais também
são temas a que muitos escritores recorreram no período.
Dentro
deste tão fascinante universo literário, existem marcantes e importantes obras
literárias, cuja leitura é essencial para a formação cultural e intelectual de
um grande leitor, como os livros de
Dostoievski Crime e Castigo e Irmãos Karamazov, de Turgueniev Pais e Filhos, Almas Mortas e Tarás Bulba, de Gogol, A Mãe, de Gorki, os contos, peças e novelas de Tchekhov, os contos
de Lérmontov e de Andreiev e as poesias de Puchkin, tido por muitos como o pai da literatura russa. Além desses,
Tolstoi possui um especial lugar reservado em qualquer estante, com os
importantes Anna Kariênina e Guerra e Paz.
É
Tolstoi, entre todos os gênios da literatura russa, o meu favorito. Leio-o há
anos, sou fascinado por sua obra, sempre tão intensa, com personagens tão
marcantes, sempre repletas de críticas sociais, reflexões teológicas,
conflituosa, repleta de filosofia, pregações morais, etc. E dentro da obra do
genial escritor, dois de seus livros são os que mais chamam a atenção do leitor,
Guerra e Paz, publicada entre os anos
de 1865 a 1869, e Anna Kariênina,
entre os anos de 1875 a 1877, pela monumentalidade (existe essa palavra? Se não
existe, eu acabei de inventar!) da obra, pela complexidade, pela infinidade de
personagens que foram criados, desenvolvidos e explorados de maneira magistral
pelo escritor. No entanto, a obra do escritor nascido em Yasnaia Polyana em
1828, vindo de uma tradicional e rica família, não se resume a esses dois
livros. Dentro de sua extensa produção, figuram importantes novelas, como Sonata Kreutzer (1889), A Morte de Ivan Ilitch (1886) e Padre Sérgio, além de diversos contos
pedagógicos, publicados no Brasil no livro Contos
da Nova Cartilha, e de diversos contos, sendo os mais conhecidos e
significativos em sua obra publicados no volume O Diabos e Outras Histórias. Isso tudo, fora outros tantos livros,
contos, novelas, crônicas, relatos de sua vida enquanto militar, descrições da
vida das pessoas, que fez em suas inúmeras viagens.
Mas mesmo sendo um tão apaixonado
pela obra de tão fascinante escritor, lendo-o, já, à tantos anos, sua obra
ainda esconde inúmeras surpresas, obras-primas da literatura mundial tão pouco
faladas, como é o caso de Felicidade
Conjugal, uma de suas primeiras experiências literárias. Trata-se de uma
novela, publicada antes de seus mais conhecidos livros, em 1858.
Felicidade Conjugal é uma obra de beleza
e delicadeza ímpar. As
descrições do genial escritor neste pequeno livro são perfeitas, os sentimentos
são intensos, explorados de uma maneira impressionante. A forma como Tolstoi
descreve os sentimentos, a sensibilidade do autor ao descrever a "chegada
do amor" o impressionante. A maneira como ele relata a ansiedade ante a
concretização de um sonho, do casamento, marca profundamente a nossa percepção
de vida, de como lidamos com os nossos sentimentos. E, no segundo momento do
livro, todos os conflitos, as angústias, os anseios agigantam a obra,
tornando-a não só um marco não só dentro da produção literária do autor, mas de
toda produção literária de seu país na época, como também no mundo, de todos os
tempos da literatura.
Antes de Felicidade Conjugal eu nunca havia lido, em lugar algum, em forma
algum de texto (conto, crônica, artigo, romance, poesia, etc), uma descrição
tão precisa quanto à chegada do amor, como a forma como o sentimento nos toma e
se agiganta em nosso peito.
Foi Felicidade Conjugal e minha grata surpresa literária deste ano de
2009 e marcou profundamente a minha vida
de leitor, tanto que o tenho como um
dos melhores livros que já li em minha vida.
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