domingo, 5 de julho de 2009
Boas férias eram aquelas... - crônica
Em época como essas, em pleno mês de julho, que eu me lembro com um certo saudosismo (na verdade é com muito saudosismo mesmo!) dos meus tempos de menino, quando esperava meses, contava os dias e as horas à espera do mês de julho, mês das férias escolares, mês de férias.
Aquelas, sim, eram boas férias. Eu começava a fazer os planos com semanas de antecedência: pela manhã assistiria os novos desenhos, que seriam exibidos na televisão especialmente naquele período, depois sairia, encontraria com os amigos, para jogar bola num campo de terra batida que existia de frente a minha casa, depois, quando cansássemos do futebol e estivéssemos com fome, podíamos subir numa mangueira ou numa goiabeira, quando tínhamos sede dávamos um jeito de tirar um coco e bebíamos a água. E só entrava em casa quando já passava do meio-dia, para almoçar, depois de ouvir minha mãe chamar umas quinhentas vezes meu nome e eu responder, de onde estava, um “já vou, mãe!”. As tardes, naquela época, eram boas tardes, pois passavam bons filmes, depois voltava para o campinho e jogava uma partida de futebol, dessa vez mais séria, um verdadeiro clássico: de um lado, eu e meus amigos que moravam na mesma rua, contra “os meninos da rua de trás”. Nessas ocasiões o jogo era sério. Tinha-se um terno (um dos times jogava com camisa e o outro sem ou então os times dividiam-se em “time azul” contra “time vermelho”, e todos os jogadores vestiam camisas da mesma cor) e calçávamos nossos bons e velhos “kichute”. E as noites, então. Que noites eram aquelas, com todas aquelas brincadeiras. Brincava-se de “esconde-esconde”, quando o ambiente eram propicio para isso, com todas aquelas sombras, se andava de bicicleta, de brincava de “tica”. E quando não se estava fazendo nenhuma dessas atividades, simplesmente sentávamos de frente a minha casa e ficávamos horas e horas jogando dominó e damas, entre outros jogos divertidos e instrutivos.
Eram bons tempos, com bons jogos, e não é sem lágrimas nos olhos quando me lembro dos clássicos “Resta Um”, “Pega Vareta”, “Yo-Yo”. Brincava-se com “Playmobil” ou “Comandos em Ação”, comia-se chocolate “surpresa” ou “lollo”, caramelos diversos, confeitos “Xaxá”, fazia-se coleção de figurinha, procurando completar os álbuns. Jogava-se Vídeo Game, mas naqueles tempos esse era mais um brinquedo, que usávamos de maneira racional. Se jogava num “Atari”, num bom e velho “Master Sistem” ou, quando muito, num “Mega Drive”. E os clássicos eram os emocionantes “Pac-Man”, “Enduro”, “River-Rider”, “Alex Kid” e “Sonic”.
E o ponto alto daquelas férias era quando chegava um circo no bairro. Aqueles circos de verdade, com mágicos e palhaços, não esses circos de hoje em dia, que são mais espetáculo cheio de luzes e pompa do que um circo propriamente dito.
Os desenhos que passavam na televisão eram realmente bons, e marcaram época, e são constantemente lembrados e discutidos por todos os que viveram naqueles bons anos 80 e início dos 90, e fizeram a cabeça de uma geração. Os personagens fazem parte até hoje do imaginário de milhões de pessoas que tiveram o prazer, o imenso privilégio de viver naquela época.
E hoje eu olho para essa juventude que está aí, em plenas férias, de crianças trancadas em suas casas e apartamentos, que mal conhecem o vizinho. Opções de diversão existem aos milhares, mas optam por ficarem de frente a uma televisão o dia inteiro, assistindo desenhos que daqui a uma semana nem se lembrarão qual é, assistindo filmes em DVD (pirata!) ou jogando Vídeo Game, num Playstation, Nintendo Wii ou X-Box. Quando conversam é somente através do MSN, quando faz-se novas amizade é através do Orkut. Jogos em comum, somente através do computador, via internet.
E quando penso nessa “nova geração”, me pergunto “o que será dela?”, “do que se lembrarão quando estiverem mais velhos?”, “sobre o que conversarão com seus filhos?” e coisas do tipo.
O avanço tecnológico trouxe inúmeros benefícios e vantagens, sem dúvida, mas, para compensar, tornou as crianças de hoje verdadeiros reféns. São crianças e jovens inteiramente “reféns-tecnológicos”, cujo futuro estará seriamente comprometido se não for feita alguma coisa, já. E o que se pode fazer? Lógico que não se pode voltar no tempo e fazer as crianças vivenciarem tudo aqui. Mas os pais, tios, tios, padrinhos, etc, que viveram aquela época pode tentar trazê-la, nem que seja por alguns instantes, com jogos e brincadeiras, aquele período de volta, nem que seja entre uma partida de “Playstation” e uma “navegada na web”.
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Lima você tem total razão. Vai longe o tempo em que as crianças podiam ser mais felizes. Hoje elas vivem uma "falsa" felicidade.
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