terça-feira, 19 de maio de 2009

Daqui pra frente, nada mais de presente - crônica

Já me decidi: daqui pra frente, nada mais de presentes nessas datas comemorativas que só servem para aumentar as vendas nesse período de crise no comércio. Não que eu seja uma pessoa “do contra”, à favor do Socialismo, que seja um admirador de Hugo Chavez e que só use camisas vermelhas, longe disso. Também não me acusem de ser anticapitalista ou coisa do tipo. Mas é que do jeito que as coisas estão, só com o apelo comercial, o verdadeiro espírito dessas datas comemorativas ficam esquecidos.
Olhe o Natal, por exemplo. De mais importante data de celebração para o espírito de solidariedade, tornou-se, na verdade, a principal data para o comércio. E dia das crianças, dia das mães, dia dos pais, dia dos namorados e, como se não bastassem tantos dias comemorativos, tantos feriados, tantos feriadões, ainda querem inventar outros, como dia dos avós, ainda querem instituir o dia do médico, dia do advogado, dia do senhor da barraquinha da feira que nos vende verduras!
Devido a isso tudo, decidi que nunca mais vou dar presente a ninguém, salvo nos aniversários. E também não quero mais ganhar nada. Portanto, se você vai comprar presente para alguém no natal, retire-me da lista, pois não precisa comprar nada para mim apenas para satisfazer aos desejos do comércio, a sucumbir ao espírito capitalista. Em contrapartida, não espere presente nenhum meu. Não faça aquelas contas de que “vou comprar presente para quatro pessoas e devo receber também quatro”, pois se você for contar com o meu vai ficar com um déficit de menos um!
Acho um absurdo as pessoas esquecerem o verdadeiro espírito dessas datas. Dia das mães, por exemplo, virou só um dia, comemorado no segundo domingo de maio, só para os filhos comprarem muitas coisas para aquelas que lhe deram a vida, geralmente utensílios domésticos e nunca algo de realmente útil para as pobres mães, e irem gastar dinheiro num restaurante, que normalmente ficam abarrotados no dia. Eu já decidi que todo dia é dia das mães, que é dia de agradecer a ela por tudo que fez por mim, por todas as noites passadas em claro, por tudo que ele teve que aguentar por minha causa, e que não é preciso de um dia marcado para sair com ela, para ir almoçar fora, e só não faço isso todo final de semana porque sairia muito caro e eu não tenho tanto dinheiro para isso!
E a páscoa, então, é o verdadeiro cúmulo do absurdo. É nessa época do ano que os pescadores, os maiores capitalistas, ganham tanto dinheiro que não precisam trabalhar pelo resto do ano. E ainda querem instituir a cultura em nosso país de se servir bacalhau na sexta-feira santa! Alguém já parou para verificar qual o preço do quilo do bacalhau nessa época do ano?!
Não. Definitivamente, eu desisti de tentar entender as pessoas. Falam tanto de espírito nessa época do ano, falam tanto do simbolismo, e no final das contas só se lembram dos presentes, daquilo “que não pode faltar à mesa” e de outras tantas coisas.
Nessa páscoa eu não vou comprar nenhum peixe caro, no máximo uma sardinha em conserva , e não vou comprar nenhum ovo de páscoa para ninguém, e não quero que ninguém compre nada para mim, e vou espalhar para todo mundo isso. E se alguém vier me entregar alguma coisa eu...
E lá vem minha mãe. Ele vem trazendo alguma coisa, tentando me esconder. E ao lado dela minha irmã, meu irmão, meus sobrinhos, alguns amigos. É tanta gente vindo em minha direção. O que será que eles querem?
Ah, que bom! Eles só vieram me entregar os ovos de chocolate que compraram para mim nessa páscoa!
Quanto chocolate bom! É meio amargo, é ao leite, branco, com nozes, com tantos recheios que é impossível decidir qual o melhor.
E eu que dizia não querer receber nada.
Mas chocolate não entra na categoria do “nada” que eu pretendo receber, pois chocolate é tudo.
Tudo bem, então. No próximo ano eu aviso com antecedência que não quero receber nada de presente, exceto chocolate, que pode me ser entregue em qualquer época do ano, e não precisa esperar-se a páscoa para me dar, não.

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