A autobiografia do bailarino chinês Li Cunxim é muito mais do que uma história de mais uma pessoa, de mais um chinês que denuncia tudo o regime de seu país: Adeus, China é uma história de determinação, de força, de vontade e da busca de um sonho.
Contado de uma forma cativante, o livro prende os leitores da primeira a última palavra, e narra toda a vida, toda a saga do menino pobre, que vivia naquela China superpopulosa e paupérrima, cujo destino estava claro e definido: ser apenas mais um. Mas eis que num dos momentos mais difíceis da historia de seu país, o menino franzino e pobre, devido a um projeto de Madame Mao, que estava selecionando alunos de diversas escolas para comporem seu grupo de balé, foi selecionado e agarrou aquela oportunidade com todas as suas forças, com unhas e garras e partiu, do nada ao estrelado, ao reconhecimento público, da escuridão, às luzes dos palcos nos quais se apresentava, do silencio imposto em seu país, ao som dos aplausos entusiásticos daqueles que assistiam às suas apresentações.
Mas muito mais do que a saga da ascensão do menino pobre, a longo do livro, somos convidados a conhecer muito mais do que sua familia, mas a dura e difícil vida das pessoas nos bairros superpopulosos, onde era comum, na maior parte do ano, até a falta de comida, em que as pessoas eram obrigadas a, na maior parte das vezes, se alimentarem apenas de inhame. Mas, apesar de todas as privações, ainda restava tempo para ser feliz, ainda restava tempo para fartura, quando as familias se reuniam e preparavam seus tradicionais banquetes em saudação ao novo ano, que nascia repleto de sonhos e esperanças. E mesmo quando as crianças saiam de casa para catarem, numa área militar próxima, num aeroporto, carvão para poderem levar para casa e ajudarem a se aquecer nas noites frias, ainda se restava tempo para brincadeiras, para explorações, para se ser criança.
Ficamos comovidos com as relações familiares, com as duras e dificeis separações, quando Li Cunxim é obrigado, a deixar sua familia para ir viver em um internato na cidade de Pequim para dar prosseguimento a seus estudos. Ficamos com lágrimas nos olhos ao ver a dura adaptação, nos primeiros dias, quando a saudade é tão latente. E ficamos, também, indignado, ao ver, ao constatar a cegueira em que as pessoas eram obrigadas a conviver no periodo do auge da Revolução Cultural, principalmente nas sessões de autocensura e de denuncia, na forma como as questões externas eram tratadas, na forma como o mundo era mostrado às pessoas que viviam presas, enjauladas, cegas dentro daquele mundo imposto. Prova disso é o choque cultural e de ideias de quando o então já homem Li Cunxim sofre em sua primeira viagem, em excursão, aos Estados Unidos.
Adeus, China é uma historia que comove e envolve os leitores desde as suas primeiras palavras. Um livro magnificamente bem escrito. Um verdadeiro relato de determinação e força, pela voz de um menino, de um jovem e de um homem em busca de um sonho, em busca de sua liberdade.
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