Após décadas depois de estar esgotado, "Fome", do escritor norueguês Knut Hamsun, uma das grandes obras da literatura universal, é relançado no Brasil pela Geração Editorial. A magistral obra conta com a tradução de Carlos Drummond de Andrade.
Knut Hamsun, que nasceu na pobreza em 1859, teve uma vida aventureira na Europa e nos Estados Unidos, ganhou o Nobel em 1920, tornou-se muito popular, flertou com o nazismo, foi preso, dado como louco e morreu, sem remorsos, 1952, aos 92 anos. Foi estivador, lenhador, marinheiro, sapateiro, condutor de bonde, jornalista, cuidador de frangos. Passou fome e sofreu todo tipo de humilhação. Viveu nos Estados Unidos, vagou pela Europa, e esta sua vida errante e de sofrimento moldou-lhe o caráter, dando-lhe inspiração para criar seus vibrantes personagens. O escritor atormentado de "Fome" é ele mesmo...
"Fome" descreve de forma tragicômica as aguras de um escritor miserável e vagabundo, quevaga pelas ruas da antiga Cristiania (hoje, Oslo, capital da Noruega) com as roupas em farrapos, famélico, levando um toco de lápis com o qual escreve artigos para jornais, dependendo do pagamento para comer e continuar vivo. Enquanto isso, reflete sobre o sentido da vida.
O personagem de "Fome" nos desperta pena, mas também admiração e até inveja. Um crítica chamou Hamsun de "o romancista universal da dor serena". É exatamente isso que ele é.
segunda-feira, 27 de abril de 2009
sábado, 25 de abril de 2009
A Cama de Nossos Pais - Crônica
Um dos maiores segredos do Universo, um dos maiores enigmas que os homens tem se debruçado, sobre o qual tantos sábios, filósofos e cientistas estudaram, está em descobrir por que a cama de nossos pais é sempre a melhor cama do mundo, o lugar mais seguro, quentinho e aconchegando do Universo. A cama de nossos pais é uma verdadeira ilha de calor em meio a um oceano de águas profundas e geladas onde fomos jogados.
Desde que o mundo é Mundo e foi criado o quarto dos filhos, para que os pais possam ter uma noite de sono sossegada em seus quartos, é que as pobres crianças sentem-se verdadeiras órfãs, pois muitas vezes existe uma parede quase intransponível que os separa da cama de seus pais, e desde esses imemoriais tempos que estas crianças dão seu jeitinho para atravessar a aparente inexpugnável muralha que os separa de seu objetivo. E a maneira encontrada é simples: bater a porta do quarto, tendo sempre um coberto enrolado ao corpo e um travesseiro debaixo do braço, alegando estar com medo do escuro, dizendo que tem um bicho-papão debaixo da cama, quando, na verdade, o que há, no máximo, é um playmobil esquecido na última brincadeira ou aquela sandália ou sapato que a gente nunca encontra na hora que mais precisa. E então vem nossa mãe, é normalmente ela quem abre a porta, e olha para nós, da forma como só as mães nos olham.
- O que foi, menino? – pergunta ela.
Então nós desenrolamos a nossa história, a nossa desculpa, quando, na verdade, só o que queremos é um pouco do espaço mágico daquela cama.
Quando nossa mãe está, finalmente, se convencendo da veracidade da nossa história do bicho-papão e do escuro que quer nos tragar para sua profundeza, ouvimos a voz de nosso pai, que acorda de repente e quer saber o motivo de estarmos ali, parados à porta do quarto. Ele nos manda voltar para nosso próprio quarto, para dormir em nossa própria cama e, já com olhos chorosos, damos o primeiro passo para trás, eis que nossa mãe, sempre ela, nos salva e nos dá passagem, de forma que nos jogamos sobre sua cama e muitas vezes antes mesmo dela se deitar, já estamos dormindo um sono tão pesado que nem mesmo um carnaval fora de época, se passasse em frente a nossa casa, seria capaz de nos acordar. E ficamos ali, naquela cama tão grande, entre nosso pai e nossa mãe, impedindo que eles se abracem, desejando apenas o abraço de ambos.
Muitos são os que se debruçam sobre essa complexa questão primordial para a existência de qualquer ser humano. Os matemáticos, por exemplo, alegam que o ângulo do colchão de nossos pais com relação ao travesseiro faz com que aquele seja um local tão propício para um sono agradável; os físicos, por seu lado, falam de calor; os poetas tentam, em vão, com seus versos explicar a relação existente entre os filhos e a cama de seus pais; os psicólogos chegaram a conclusão de que, nesse caso, nem Freud explica;os biólogos falam que esse é um de nossos instintos primitivos; os geógrafos, que esse é nosso norte; os historiadores, bem, esses não chegaram a um consenso, ainda. Enfim, todos falam, falam e falam, mas nenhum chegou a questão primordial.
Eu, por meu lado, acredito que essa é uma questão por demais complexa, que por mais que nos debrucemos sobre ela jamais chegaremos a um consenso, que é uma questão puramente afetiva.
E de tanto falar nisso, enquanto escrevo esse texto, ouvi um barulho vindo debaixo de minha cama. Olho para o quarto escuro e começo a tremer de medo e resolvo sair de meu quarto, e ir para o de meus pais. Lá, quando eu bater a porta, provavelmente virá minha mãe abri-la e me olhará com uma cara estranha, como se dissesse “o que que tu ‘tá fazendo aqui, menino?” e eu, enrolado a meu lençol, tendo o travesseiro debaixo do braço, olharia para ela como se respondesse que o que fazia ali era óbvio, que vinha dormir na sua cama, onde não me deitava há tempos. Ela me lançaria um olhar indiferente, daria de ombros e me daria passagem. Quando me deitasse na cama, antes de pegar no sono, ainda escutaria meu pai reclamar, dizendo:
- Esse menino aqui de novo? Você já está grande demais, rapaz. Vai dormir na sua cama!
Mas antes que ele terminasse de falar isso, eu já estaria dormindo.
Desde que o mundo é Mundo e foi criado o quarto dos filhos, para que os pais possam ter uma noite de sono sossegada em seus quartos, é que as pobres crianças sentem-se verdadeiras órfãs, pois muitas vezes existe uma parede quase intransponível que os separa da cama de seus pais, e desde esses imemoriais tempos que estas crianças dão seu jeitinho para atravessar a aparente inexpugnável muralha que os separa de seu objetivo. E a maneira encontrada é simples: bater a porta do quarto, tendo sempre um coberto enrolado ao corpo e um travesseiro debaixo do braço, alegando estar com medo do escuro, dizendo que tem um bicho-papão debaixo da cama, quando, na verdade, o que há, no máximo, é um playmobil esquecido na última brincadeira ou aquela sandália ou sapato que a gente nunca encontra na hora que mais precisa. E então vem nossa mãe, é normalmente ela quem abre a porta, e olha para nós, da forma como só as mães nos olham.
- O que foi, menino? – pergunta ela.
Então nós desenrolamos a nossa história, a nossa desculpa, quando, na verdade, só o que queremos é um pouco do espaço mágico daquela cama.
Quando nossa mãe está, finalmente, se convencendo da veracidade da nossa história do bicho-papão e do escuro que quer nos tragar para sua profundeza, ouvimos a voz de nosso pai, que acorda de repente e quer saber o motivo de estarmos ali, parados à porta do quarto. Ele nos manda voltar para nosso próprio quarto, para dormir em nossa própria cama e, já com olhos chorosos, damos o primeiro passo para trás, eis que nossa mãe, sempre ela, nos salva e nos dá passagem, de forma que nos jogamos sobre sua cama e muitas vezes antes mesmo dela se deitar, já estamos dormindo um sono tão pesado que nem mesmo um carnaval fora de época, se passasse em frente a nossa casa, seria capaz de nos acordar. E ficamos ali, naquela cama tão grande, entre nosso pai e nossa mãe, impedindo que eles se abracem, desejando apenas o abraço de ambos.
Muitos são os que se debruçam sobre essa complexa questão primordial para a existência de qualquer ser humano. Os matemáticos, por exemplo, alegam que o ângulo do colchão de nossos pais com relação ao travesseiro faz com que aquele seja um local tão propício para um sono agradável; os físicos, por seu lado, falam de calor; os poetas tentam, em vão, com seus versos explicar a relação existente entre os filhos e a cama de seus pais; os psicólogos chegaram a conclusão de que, nesse caso, nem Freud explica;os biólogos falam que esse é um de nossos instintos primitivos; os geógrafos, que esse é nosso norte; os historiadores, bem, esses não chegaram a um consenso, ainda. Enfim, todos falam, falam e falam, mas nenhum chegou a questão primordial.
Eu, por meu lado, acredito que essa é uma questão por demais complexa, que por mais que nos debrucemos sobre ela jamais chegaremos a um consenso, que é uma questão puramente afetiva.
E de tanto falar nisso, enquanto escrevo esse texto, ouvi um barulho vindo debaixo de minha cama. Olho para o quarto escuro e começo a tremer de medo e resolvo sair de meu quarto, e ir para o de meus pais. Lá, quando eu bater a porta, provavelmente virá minha mãe abri-la e me olhará com uma cara estranha, como se dissesse “o que que tu ‘tá fazendo aqui, menino?” e eu, enrolado a meu lençol, tendo o travesseiro debaixo do braço, olharia para ela como se respondesse que o que fazia ali era óbvio, que vinha dormir na sua cama, onde não me deitava há tempos. Ela me lançaria um olhar indiferente, daria de ombros e me daria passagem. Quando me deitasse na cama, antes de pegar no sono, ainda escutaria meu pai reclamar, dizendo:
- Esse menino aqui de novo? Você já está grande demais, rapaz. Vai dormir na sua cama!
Mas antes que ele terminasse de falar isso, eu já estaria dormindo.
domingo, 19 de abril de 2009
O Filho Eterno - Livro da Semana
Cristóvão Tezza é um dos maiores escritores brasileiros vivos. Vencedor de inúmeros prêmios, entre eles o “Jabuti”, maior premiação concedida a escritores brasileiros, o “Prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro”, entre outros. Em sua obra constam livros Infanto-juvenis, Ensaios, Contos e Romances. Já publicou dez romances. Uma das marcas de seu texto é a presença de mais de um narrador: em Trapo, vemos a história do ponto de vista do professor Manoel, que estuda o poeta Trapo, e paralelamente do ponto de vista do poeta, através de seus poemas. Em 2003, publicou um ensaio sobre Mikhail Bakhtin, que era, na verdade, sua tese de doutorado. É doutor em Literatura Brasileira e professor de Lingüística na Universidade Federal do Paraná. Em algumas declarações afirma que “só uns quatro ou cinco escritores brasileiros poderiam viver só dos livros”, e por esse motivo é professor.
No seu livro mais lido e elogiado da atualidade, “O Filho Eterno”, Cristovão Tezza versa sobre questões como preconceito e o amor de pai para filho.
Tudo se inicia quando um homem e sua mulher estão vivendo a expectativa do nascimento do primeiro filho. Existe toda aquela angustia, toda aquela espera, e finalmente chega o dia. Enquanto a mulher está na sala de parto, o homem, angustiado, expectante, anda de um lado para outro na sala de espera, até que recebe as notícias de que o parto tinha sido um sucesso, que ele era pai de um lindo menino. Foi, então, até o quarto, onde sua esposa estava repousando. E os dois põe-se a esperar pelo filho. O tempo, ali naquele quarto, passava tão devagar, além do mais, havia a expectativa de verem, pela primeira vez, o filho. O bebê é trazido pelas mãos de um médico, que vem acompanhado de um outro. O homem, instintivamente, sente um aperto no peito, como se a presença, ali, de dois médicos fosse um mal agouro, como se houesse algo de errado. E há. Os médicos fazem uma revelação que fará o homem cair de sua mais alta euforia até um poço em que ele não imaginava ser capaz de alcançar: seu filho, seu primeiro filho possuia todas as características de uma anomalia genética, seu filho tinha Sindrome de Down. Aquela revelação foi como um punhal a atravesar o peito do homem. De pai mais feliz de mundo, agora, ele era pai de uma criança “mongoloide”.
Em plena década de 80, a Sindrome de Down ainda era um verdadeiro tabu, existia um forte preconceito da sociedade como um todo e principalmente das pessoas. Assim, o homem, o pai, vê-se de repente com um “problema” em suas mãos, pois é assim que ele vê o filho: um problema. E há, ao invés de um amor, um sentimento de repulsa, de preconceito, que muitas vezes envergonha e angustia ao homem.
Muitos são os exames que são feitos pela criança, para comprovar aquilo que todos já sabiam, quando, na verdade, o pai ainda possuia a esperança de que a sindrome tivesse sido um erro no diagnóstico, de que seu filho era perfeitamente normal, não possuiando qualquer doença.
Mas com o passar do tempo, a situação muda, e aquele sentimento vergonhoso vai cedendo, e pouco a pouco o pai vai olhando aquela criança, a quem olhava com tanta indiferença, e passa a vê-la, pela primeira vez, como seu filho.
Um livro angustiante, magnificamente bem escrito, repleto de conflitos e valores, como há muito não se via na literatura brasileiro. O Filho Eterno é, sem dúvida, um dos maiores romances da literatura brasileira contemporânea.
No seu livro mais lido e elogiado da atualidade, “O Filho Eterno”, Cristovão Tezza versa sobre questões como preconceito e o amor de pai para filho.
Tudo se inicia quando um homem e sua mulher estão vivendo a expectativa do nascimento do primeiro filho. Existe toda aquela angustia, toda aquela espera, e finalmente chega o dia. Enquanto a mulher está na sala de parto, o homem, angustiado, expectante, anda de um lado para outro na sala de espera, até que recebe as notícias de que o parto tinha sido um sucesso, que ele era pai de um lindo menino. Foi, então, até o quarto, onde sua esposa estava repousando. E os dois põe-se a esperar pelo filho. O tempo, ali naquele quarto, passava tão devagar, além do mais, havia a expectativa de verem, pela primeira vez, o filho. O bebê é trazido pelas mãos de um médico, que vem acompanhado de um outro. O homem, instintivamente, sente um aperto no peito, como se a presença, ali, de dois médicos fosse um mal agouro, como se houesse algo de errado. E há. Os médicos fazem uma revelação que fará o homem cair de sua mais alta euforia até um poço em que ele não imaginava ser capaz de alcançar: seu filho, seu primeiro filho possuia todas as características de uma anomalia genética, seu filho tinha Sindrome de Down. Aquela revelação foi como um punhal a atravesar o peito do homem. De pai mais feliz de mundo, agora, ele era pai de uma criança “mongoloide”.
Em plena década de 80, a Sindrome de Down ainda era um verdadeiro tabu, existia um forte preconceito da sociedade como um todo e principalmente das pessoas. Assim, o homem, o pai, vê-se de repente com um “problema” em suas mãos, pois é assim que ele vê o filho: um problema. E há, ao invés de um amor, um sentimento de repulsa, de preconceito, que muitas vezes envergonha e angustia ao homem.
Muitos são os exames que são feitos pela criança, para comprovar aquilo que todos já sabiam, quando, na verdade, o pai ainda possuia a esperança de que a sindrome tivesse sido um erro no diagnóstico, de que seu filho era perfeitamente normal, não possuiando qualquer doença.
Mas com o passar do tempo, a situação muda, e aquele sentimento vergonhoso vai cedendo, e pouco a pouco o pai vai olhando aquela criança, a quem olhava com tanta indiferença, e passa a vê-la, pela primeira vez, como seu filho.
Um livro angustiante, magnificamente bem escrito, repleto de conflitos e valores, como há muito não se via na literatura brasileiro. O Filho Eterno é, sem dúvida, um dos maiores romances da literatura brasileira contemporânea.
sábado, 18 de abril de 2009
Por uma simples questão de bom senso, sou terminantemente contra a política de contas para negros, indígenas e mestiços em universidades públicas
Nas últimas semanas muito se tem discutido sobre questões relativas a forma de ingresso nas universidades públicas. É de desejo do Governo Federal unificar as provas do vestibular. E devido a tudo que se tem falado, outro assunto polêmico e complexo voltou à tona: a cota em universidades para negros, descendentes de povos indígenas e mestiços. Sobre este assunto eu vinha pensando muito, mas devido a complexidade ou talvez ao fato de ter medo de expressar publicamente, de ser rotulado de mal informado ou até mesmo de racista, por ser terminantemente contra essa política, ao meu ver racista, que o Governo Federal vem tentando impor. Essa cota é, na minha opinião, uma forma que o Governo encontrou não para minimizar as “desigualdades sociais”, mas sim para negar as suas responsabilidades, que são as de oferecer uma educação pública de qualidade, não só aos brancos que vivem nas cidades, nos grandes centros urbanos, mas a todos, sem distinção de raça, religião, condição social ou local onde mora.
Mas antes que peçam a minha cabeça numa bandeja, antes que me acusem de racista, de elitista, de branquelo que estudou a vida inteira em escola particular, deixa eu explicar o meu ponto de vista sobre essa questão espinhosa, que está longe de ser resolvida.
Em primeiro lugar, não é uma questão de cor de pele que diferencia o ingresso ou não de negros nas universidades públicas, mas sim questões de cunho sócio-econômico. Se a proporção de negros em universidades é pequena, não é devido ao fato deles pertencerem a raça que pertencem, não, pois todos nós pertencemos a mesma raça, a humana, mas sim a uma questão histórico-social, colocando a maior parte da população negra de nosso país à margem da sociedade. Uma parcela considerável dos pobres em nosso país é de negros, descendentes de povos indígenas e de outras minorias étnicas, portanto, devido às suas condições financeiras, têm que recorrer a escolas públicas, e como as escolas públicas são precárias...
Então vão me falar de preconceito? Vão falar que sou preconceituoso só por ser contra essa cota ridícula nas universidades públicas?
Não. Nunca fui preconceituoso e tenho orgulho de ser quem eu sou, de ter os pais e os avós que tive. Minha avó paterna era negra e só nasci branco, “desbotado” como dizem em minha casa, pois meu pai era moreno, e minha mãe, embora um pouco mais clara que meu pai, também é, por conta de meu avô paterno, branco. Sempre fui uma pessoa de origem humilde, como não deixei de ser, e só tive uma educação relativamente boa porque meus pais sempre deram um duro danado para matricular a mim e a meus irmãos em escolas particulares, que embora não fossem as melhores, pelo menos tínhamos aulas todos os dias, havia carteiras para todos os alunos, as salas possuíam quadros negros, ventiladores, não faltava giz e os professores vinham dar aula todos os dias. E devido a todo o esforço de nossos pais, eu e meus irmãos sempre nos esforçávamos muito para evitar ficar de recuperação. Reprovação então... sabe qual era o medo que meus pais faziam para o caso de sermos reprovador? Não? Pois bem, eles diziam que se algum de nós fosse reprovado, no ano seguinte este seria matriculado numa escola pública!
Tal era o estigma, era o medo que tínhamos que na maioria das vezes passávamos, os três, por média, e quando alguém ficava de recuperação, os outros vinham ajudar, faziam revisões, ajudavam nos trabalhos, etc.
Exagero? Alguns podem dizer que sim, mas eu acredito que colocando o lado pessoal de lado, este exemplo serve para mostrar a imagem que se tinha da escola pública nos anos 80 e 90, e que continua até hoje.
A escola pública é sinônimo de abandono, de estrutura precária, de falta de professores, etc.
E para quem fica a escola pública? Para aquelas pessoas menos favorecidas: negros, mestiços, descendentes de povos indígenas e brancos. Sim, brancos! Para comprovar isso basta se ir a uma escola pública e observar bem as salas de aula, normalmente abarrotadas no inicio de cada ano e praticamente vazias ao final.
E devido a todos os problemas dessas escolas, em que o ensino é tão precário, os alunos não saem bem preparados e consequentemente não conseguem ingressar em instituições para cursarem o nível superior de ensino.
E ainda se vem falar em conta de vagas para estudantes negros?
O que devemos exigir, sim, é uma discussão, é uma completa reestruturação das escolas públicas de qualidade, para que não só negros possa ingressar em universidades, mas também brancos pobres, mestiços, descendentes de povos indígenas e membros de outras minorias étnicas.
E se continuarmos a pensarmos e agirmos em favor dessa ideia ridícula e racista, corremos o seriíssimo risco de cair em contradições, de sermos injustos.
Imaginem só a situação: dois alunos disputam a mesma vaga, para um curso qualquer numa universidade pública, sendo que um deles é negro e pertence a uma classe favorecida economicamente, e o outro pobre e branco. O negro tem direito à cota de vagas, enquanto o branco, não. E no dia em que os dois recebem as notas, o branco tirou uma nota excelente, superior mesmo a de seu concorrente, mas este, por ter “preferência” devido à tão controvérsia cota, fica com a vaga.
Aí, agora eu pergunto: qual a lógica disso?
Continuamos com os mesmos problemas estruturais, sendo que agora teremos mais negros nas universidades, já que é isso que o Governo quer. Mas com isso deixamos as mesmas pessoas que eram desfavorecidas anteriormente, sendo que só mudamos a cor de sua pele.
Então, o que fazer? Destinar vagas em determinadas universidades para alunos de escolas públicas, como é acontece em algumas instituições de ensino técnico?
Essa é uma alternativa que vem sendo adotada, mas ao meu ver é extremamente perigosa e não resolve o verdadeiro problema da educação brasileira, que é a da estrutura.
Mas e se essa atitude fosse a adotada pelo Governo? Se os alunos de escolas públicas tivessem uma cota?
Aí teríamos brancos pobres, negros, indígenas, brancos ricos, negros ricos e filhos de caciques numa mesma sala de aula. Mas aí viria o problema de quando as aulas começassem, pois os alunos vindos de escolas públicas, devido ao ensino precário que tiveram, não conseguiriam acompanhar o ritmo normal das aulas, pelo problema da “falta de base”. Eles acabariam sofrendo alguma espécie de preconceito, o que já é comum em algumas universidade particulares, pelo simples fato de “só terem entrado na universidade porque é pobre e veio de escola pública”! E aí se inicia uma nova discussão que está longe de acabar.
O problema, na verdade, é de gestão, é de estrutura, é de responsabilidade.
Os negros, assim como os descendentes de povos indígenas e outras minorias étnicas, assim como os brancos pobres, não desejam uma vaga dada de presente, mas sim conquista-la. Todos só querem brigar de igual pra igual, só querem fazer por onde merecer a vaga na universidade, só querem conquista-la, serem dignos dela, não recebe-las de presente, como uma verdadeira esmola do Governo.
E para que estes alunos, negros, descendentes de povos indígenas e outras minorias étnicas e brancos pobres possam ingressar na universidade de maneira digna e poderem, lá dentro, acompanhar as aulas, serem aprovados em todas as disciplinas, conquistarem seus diplomas, é a de terem estudado em boas escolas públicas, de terem recebido uma boa educação, de terem uma boa base, e para que isso aconteça é simples: termos uma escola pública ampla, bem estruturada e de qualidade.
Por conta disso tudo, eu sou completa e inteiramente contra essas cotas em universidade públicas para negros, índios e mestiços, assim como sou contra, também, a se destinar vagas em tais instituições de ensino para alunos advindos de escolas públicas. Sou a favor, sim, exijo, e peço que todos passem a refletir sobre a questão, sobre o ponto essencial da questão que o Governo não discute, que o Governo evita falar, que é a da responsabilidade, que é a do direito que TODOS têm, que é a de se ter direito a uma educação pública de qualidade, sem distinção de raça, credo, classe social.
Se essa discussão for levada adiante, se conseguirmos ter uma educação pública de qualidade, aí sim, teremos não só negros pobres nas universidades, mas brancos pobres, indígenas e também os filhos dos cacique de todas as tribos.
Mas antes que peçam a minha cabeça numa bandeja, antes que me acusem de racista, de elitista, de branquelo que estudou a vida inteira em escola particular, deixa eu explicar o meu ponto de vista sobre essa questão espinhosa, que está longe de ser resolvida.
Em primeiro lugar, não é uma questão de cor de pele que diferencia o ingresso ou não de negros nas universidades públicas, mas sim questões de cunho sócio-econômico. Se a proporção de negros em universidades é pequena, não é devido ao fato deles pertencerem a raça que pertencem, não, pois todos nós pertencemos a mesma raça, a humana, mas sim a uma questão histórico-social, colocando a maior parte da população negra de nosso país à margem da sociedade. Uma parcela considerável dos pobres em nosso país é de negros, descendentes de povos indígenas e de outras minorias étnicas, portanto, devido às suas condições financeiras, têm que recorrer a escolas públicas, e como as escolas públicas são precárias...
Então vão me falar de preconceito? Vão falar que sou preconceituoso só por ser contra essa cota ridícula nas universidades públicas?
Não. Nunca fui preconceituoso e tenho orgulho de ser quem eu sou, de ter os pais e os avós que tive. Minha avó paterna era negra e só nasci branco, “desbotado” como dizem em minha casa, pois meu pai era moreno, e minha mãe, embora um pouco mais clara que meu pai, também é, por conta de meu avô paterno, branco. Sempre fui uma pessoa de origem humilde, como não deixei de ser, e só tive uma educação relativamente boa porque meus pais sempre deram um duro danado para matricular a mim e a meus irmãos em escolas particulares, que embora não fossem as melhores, pelo menos tínhamos aulas todos os dias, havia carteiras para todos os alunos, as salas possuíam quadros negros, ventiladores, não faltava giz e os professores vinham dar aula todos os dias. E devido a todo o esforço de nossos pais, eu e meus irmãos sempre nos esforçávamos muito para evitar ficar de recuperação. Reprovação então... sabe qual era o medo que meus pais faziam para o caso de sermos reprovador? Não? Pois bem, eles diziam que se algum de nós fosse reprovado, no ano seguinte este seria matriculado numa escola pública!
Tal era o estigma, era o medo que tínhamos que na maioria das vezes passávamos, os três, por média, e quando alguém ficava de recuperação, os outros vinham ajudar, faziam revisões, ajudavam nos trabalhos, etc.
Exagero? Alguns podem dizer que sim, mas eu acredito que colocando o lado pessoal de lado, este exemplo serve para mostrar a imagem que se tinha da escola pública nos anos 80 e 90, e que continua até hoje.
A escola pública é sinônimo de abandono, de estrutura precária, de falta de professores, etc.
E para quem fica a escola pública? Para aquelas pessoas menos favorecidas: negros, mestiços, descendentes de povos indígenas e brancos. Sim, brancos! Para comprovar isso basta se ir a uma escola pública e observar bem as salas de aula, normalmente abarrotadas no inicio de cada ano e praticamente vazias ao final.
E devido a todos os problemas dessas escolas, em que o ensino é tão precário, os alunos não saem bem preparados e consequentemente não conseguem ingressar em instituições para cursarem o nível superior de ensino.
E ainda se vem falar em conta de vagas para estudantes negros?
O que devemos exigir, sim, é uma discussão, é uma completa reestruturação das escolas públicas de qualidade, para que não só negros possa ingressar em universidades, mas também brancos pobres, mestiços, descendentes de povos indígenas e membros de outras minorias étnicas.
E se continuarmos a pensarmos e agirmos em favor dessa ideia ridícula e racista, corremos o seriíssimo risco de cair em contradições, de sermos injustos.
Imaginem só a situação: dois alunos disputam a mesma vaga, para um curso qualquer numa universidade pública, sendo que um deles é negro e pertence a uma classe favorecida economicamente, e o outro pobre e branco. O negro tem direito à cota de vagas, enquanto o branco, não. E no dia em que os dois recebem as notas, o branco tirou uma nota excelente, superior mesmo a de seu concorrente, mas este, por ter “preferência” devido à tão controvérsia cota, fica com a vaga.
Aí, agora eu pergunto: qual a lógica disso?
Continuamos com os mesmos problemas estruturais, sendo que agora teremos mais negros nas universidades, já que é isso que o Governo quer. Mas com isso deixamos as mesmas pessoas que eram desfavorecidas anteriormente, sendo que só mudamos a cor de sua pele.
Então, o que fazer? Destinar vagas em determinadas universidades para alunos de escolas públicas, como é acontece em algumas instituições de ensino técnico?
Essa é uma alternativa que vem sendo adotada, mas ao meu ver é extremamente perigosa e não resolve o verdadeiro problema da educação brasileira, que é a da estrutura.
Mas e se essa atitude fosse a adotada pelo Governo? Se os alunos de escolas públicas tivessem uma cota?
Aí teríamos brancos pobres, negros, indígenas, brancos ricos, negros ricos e filhos de caciques numa mesma sala de aula. Mas aí viria o problema de quando as aulas começassem, pois os alunos vindos de escolas públicas, devido ao ensino precário que tiveram, não conseguiriam acompanhar o ritmo normal das aulas, pelo problema da “falta de base”. Eles acabariam sofrendo alguma espécie de preconceito, o que já é comum em algumas universidade particulares, pelo simples fato de “só terem entrado na universidade porque é pobre e veio de escola pública”! E aí se inicia uma nova discussão que está longe de acabar.
O problema, na verdade, é de gestão, é de estrutura, é de responsabilidade.
Os negros, assim como os descendentes de povos indígenas e outras minorias étnicas, assim como os brancos pobres, não desejam uma vaga dada de presente, mas sim conquista-la. Todos só querem brigar de igual pra igual, só querem fazer por onde merecer a vaga na universidade, só querem conquista-la, serem dignos dela, não recebe-las de presente, como uma verdadeira esmola do Governo.
E para que estes alunos, negros, descendentes de povos indígenas e outras minorias étnicas e brancos pobres possam ingressar na universidade de maneira digna e poderem, lá dentro, acompanhar as aulas, serem aprovados em todas as disciplinas, conquistarem seus diplomas, é a de terem estudado em boas escolas públicas, de terem recebido uma boa educação, de terem uma boa base, e para que isso aconteça é simples: termos uma escola pública ampla, bem estruturada e de qualidade.
Por conta disso tudo, eu sou completa e inteiramente contra essas cotas em universidade públicas para negros, índios e mestiços, assim como sou contra, também, a se destinar vagas em tais instituições de ensino para alunos advindos de escolas públicas. Sou a favor, sim, exijo, e peço que todos passem a refletir sobre a questão, sobre o ponto essencial da questão que o Governo não discute, que o Governo evita falar, que é a da responsabilidade, que é a do direito que TODOS têm, que é a de se ter direito a uma educação pública de qualidade, sem distinção de raça, credo, classe social.
Se essa discussão for levada adiante, se conseguirmos ter uma educação pública de qualidade, aí sim, teremos não só negros pobres nas universidades, mas brancos pobres, indígenas e também os filhos dos cacique de todas as tribos.
domingo, 12 de abril de 2009
Adeus, China - Livro da Semana
A autobiografia do bailarino chinês Li Cunxim é muito mais do que uma história de mais uma pessoa, de mais um chinês que denuncia tudo o regime de seu país: Adeus, China é uma história de determinação, de força, de vontade e da busca de um sonho.
Contado de uma forma cativante, o livro prende os leitores da primeira a última palavra, e narra toda a vida, toda a saga do menino pobre, que vivia naquela China superpopulosa e paupérrima, cujo destino estava claro e definido: ser apenas mais um. Mas eis que num dos momentos mais difíceis da historia de seu país, o menino franzino e pobre, devido a um projeto de Madame Mao, que estava selecionando alunos de diversas escolas para comporem seu grupo de balé, foi selecionado e agarrou aquela oportunidade com todas as suas forças, com unhas e garras e partiu, do nada ao estrelado, ao reconhecimento público, da escuridão, às luzes dos palcos nos quais se apresentava, do silencio imposto em seu país, ao som dos aplausos entusiásticos daqueles que assistiam às suas apresentações.
Mas muito mais do que a saga da ascensão do menino pobre, a longo do livro, somos convidados a conhecer muito mais do que sua familia, mas a dura e difícil vida das pessoas nos bairros superpopulosos, onde era comum, na maior parte do ano, até a falta de comida, em que as pessoas eram obrigadas a, na maior parte das vezes, se alimentarem apenas de inhame. Mas, apesar de todas as privações, ainda restava tempo para ser feliz, ainda restava tempo para fartura, quando as familias se reuniam e preparavam seus tradicionais banquetes em saudação ao novo ano, que nascia repleto de sonhos e esperanças. E mesmo quando as crianças saiam de casa para catarem, numa área militar próxima, num aeroporto, carvão para poderem levar para casa e ajudarem a se aquecer nas noites frias, ainda se restava tempo para brincadeiras, para explorações, para se ser criança.
Ficamos comovidos com as relações familiares, com as duras e dificeis separações, quando Li Cunxim é obrigado, a deixar sua familia para ir viver em um internato na cidade de Pequim para dar prosseguimento a seus estudos. Ficamos com lágrimas nos olhos ao ver a dura adaptação, nos primeiros dias, quando a saudade é tão latente. E ficamos, também, indignado, ao ver, ao constatar a cegueira em que as pessoas eram obrigadas a conviver no periodo do auge da Revolução Cultural, principalmente nas sessões de autocensura e de denuncia, na forma como as questões externas eram tratadas, na forma como o mundo era mostrado às pessoas que viviam presas, enjauladas, cegas dentro daquele mundo imposto. Prova disso é o choque cultural e de ideias de quando o então já homem Li Cunxim sofre em sua primeira viagem, em excursão, aos Estados Unidos.
Adeus, China é uma historia que comove e envolve os leitores desde as suas primeiras palavras. Um livro magnificamente bem escrito. Um verdadeiro relato de determinação e força, pela voz de um menino, de um jovem e de um homem em busca de um sonho, em busca de sua liberdade.
Contado de uma forma cativante, o livro prende os leitores da primeira a última palavra, e narra toda a vida, toda a saga do menino pobre, que vivia naquela China superpopulosa e paupérrima, cujo destino estava claro e definido: ser apenas mais um. Mas eis que num dos momentos mais difíceis da historia de seu país, o menino franzino e pobre, devido a um projeto de Madame Mao, que estava selecionando alunos de diversas escolas para comporem seu grupo de balé, foi selecionado e agarrou aquela oportunidade com todas as suas forças, com unhas e garras e partiu, do nada ao estrelado, ao reconhecimento público, da escuridão, às luzes dos palcos nos quais se apresentava, do silencio imposto em seu país, ao som dos aplausos entusiásticos daqueles que assistiam às suas apresentações.
Mas muito mais do que a saga da ascensão do menino pobre, a longo do livro, somos convidados a conhecer muito mais do que sua familia, mas a dura e difícil vida das pessoas nos bairros superpopulosos, onde era comum, na maior parte do ano, até a falta de comida, em que as pessoas eram obrigadas a, na maior parte das vezes, se alimentarem apenas de inhame. Mas, apesar de todas as privações, ainda restava tempo para ser feliz, ainda restava tempo para fartura, quando as familias se reuniam e preparavam seus tradicionais banquetes em saudação ao novo ano, que nascia repleto de sonhos e esperanças. E mesmo quando as crianças saiam de casa para catarem, numa área militar próxima, num aeroporto, carvão para poderem levar para casa e ajudarem a se aquecer nas noites frias, ainda se restava tempo para brincadeiras, para explorações, para se ser criança.
Ficamos comovidos com as relações familiares, com as duras e dificeis separações, quando Li Cunxim é obrigado, a deixar sua familia para ir viver em um internato na cidade de Pequim para dar prosseguimento a seus estudos. Ficamos com lágrimas nos olhos ao ver a dura adaptação, nos primeiros dias, quando a saudade é tão latente. E ficamos, também, indignado, ao ver, ao constatar a cegueira em que as pessoas eram obrigadas a conviver no periodo do auge da Revolução Cultural, principalmente nas sessões de autocensura e de denuncia, na forma como as questões externas eram tratadas, na forma como o mundo era mostrado às pessoas que viviam presas, enjauladas, cegas dentro daquele mundo imposto. Prova disso é o choque cultural e de ideias de quando o então já homem Li Cunxim sofre em sua primeira viagem, em excursão, aos Estados Unidos.
Adeus, China é uma historia que comove e envolve os leitores desde as suas primeiras palavras. Um livro magnificamente bem escrito. Um verdadeiro relato de determinação e força, pela voz de um menino, de um jovem e de um homem em busca de um sonho, em busca de sua liberdade.
sexta-feira, 10 de abril de 2009
palavras de agradecimento
Amigos,
venho através desta mensagem agradecer-lhes por tudo que todos vocês têm feito por mim, me dando todo o apoio e incentivo ao longo dos últimos meses, principalmente, quando comecei efetivamente o trabalho para a publicação de meu primeiro livro, "uma Historia em Cinco Vozes". e todo esse apoio, todo esse esforço, foi recompensado, foi coroado na noite da última terça-feira, 7 de Abril, na Siciliano do Midway, na ocasião do lançamento do que foi o primeiro de muitos livros.
o lançamento foi um sucesso de crítica e público, e devo isso a vocês, aos que puderam comparecer e prestigiar o evento, e também aos que, por motivos diversos, não puderam estar presentes, mas que estavam, onde quer que estivesse torcendo, me apoiando, pois sempre o fizeram.
a repercussão do lançamento foi muito favoravel, tanto que nos dois ultimos dias, quarta e quinta-feira, muitas pessoas, alguns até desconhecidos, vieram me procurar para se desculparem por não terem podido comparecer, se lamentando por não terem escutado o discurso inflamado de Claudio Emerenciano e as palavras emocinadas de Andreza Furtado, e outros, ainda, por não terem visto a expressão completa e inteiramente tensa em minha face.
isso tudo foi graças a vocês, amigos, que nunca me deixaram desanimar, que estavam ali, sempre, me apoiando, me dando a mão quando eu precisava, me erguendo quando eu achava que não poderia mais dar certo.
esse sucesso de crítica e público alcançado no lançamento de meu primeiro livro não é só do meu livro, não é meu, mas sim de todos vocês.
eu me sinto, hoje, um homem realizado, um homem que acreditou e lutou por seu sonho e que conseguiu torna-lo real, e por isso sou eternamente grato a todos os que sonharam comigo, aos que ajudaram a realiza-lo.as palavras de Claudio Emerenciano tocaram fundo em meu coração, em seu discurso inflamado e apaixonado, e farei, daqui por diante, todo o possível por ser digno de tão belas palavras. irei escrever, produzir cada vez mais e melhor para fazer por onde merece-las. as das palavras de Andreza o que falar? acho que não há palavras para descrever o que senti ali, naquele momento. acredito que o abraço que trocamos, após o discruso dela, pode dizer tudo que sentimos naquele momento, em que é impossível se dizer quem se esforçava mais para conter as lágrimas naquele momento, se eu ou ela, ou até aqueles que assistiram ao discurso, que acompanharam toda essa caminhada.
sinto-me orgulhoso e realizado por tudo isso, mas me sinto mais ainda por ter, ao meu lado, sempre por perto, pessoas amigas e companheiras como vocês.
muito obrigado por tudo, amigos. sem vocês eu não teria conseguido.
domingo, 5 de abril de 2009
Surpresa Instigante e Prazerosa - apresentação
Uma História em Cinco Vozes
Homens sem nome, flores que pensam e sentem, montanhas onde, como no poema de Henrique Castriciano, “existe um coração que soluça”, nuvens que dialogam com rios... São imagens dessa natureza, como que saídas das páginas de uma mitologia esquecida, que Lima Neto constrói meticulosamente em seu volume de estréia na nossa literatura.
Uma História em Cinco Vozes, conto que dá nome ao livro, é uma narrativa que de certo modo resume a arte literária de Lima Neto. Em seus cinco movimentos se alternam os elementos recorrentes de suas histórias: rio, homem, flor, mulher e nuvem de chuva. A cada um deles o autor reserva uma voz em primeira pessoa, dotando-o de sentimentos e raciocínio, o que remete ao mundo das fábulas de Fedro e Lafontaine. Nessa alternância, o foco da história vai se deslocando para o personagem seguinte, até fechar o quinteto, quando cada um terá cumprido o seu propósito, ao mesmo tempo em que terá servido ao interesse do outro.
Faltam, porém, aos personagens de Lima Neto a desenvoltura e a ingenuidade dos habitantes fabulosos. Seus personagens são graves, conscientes e responsáveis. E se um castelo de bruma é capaz de enfeitiçar uma comunidade, haverá sempre um homem que, infenso a esse feitiço, restituía no final a lucidez coletiva que um falso rei incutiu a grupo de homens crédulos.
Coisas maravilhosas estão sempre acontecendo nesse fabulário que Lima Neto criou à sua própria maneira: uma menina plana uma semente e pacientemente aguarda o seu desabrochar, sendo, no final, recompensada com um fruto da árvore que plantou. Ou então uma lagarta se deixa deslumbrar por uma linda borboleta para, ao final, notar que também possui asas e igual beleza. Ou ainda, após aportar numa ilha salvadora, um grupo de náufragos se descobre apaixonado pelo mar.
O que mais salta à vista, no entanto, é a sensibilidade que esses personagens revelam quando deparam com formas minúsculas de beleza, como quando um jardim aparece de súbito próximo à moradia de um homem ou de uma mulher solitária, devolvendo-lhe um talismã esquecido num desvão das lembranças mais caras, ou quando o canto harmonioso de um pássaro cala tão fundo na alma de uma velha árvore que restitui o vigor perdido.
Fica evidente nesses contos que a beleza, sob suas formas menos previsíveis, é capaz de operar milagres. E se Lima Neto não tivesse outros méritos (o que não é o caso) já mereceria nosso aplauso pela coragem de abraçar uma idéia tão “fora de agenda” e tão contrária aos valores maciçamente materialistas dos dias de hoje.
Auguramos, pelas razões expostas acima, uma estréia exitosa nas letras para o escritor Lima Neto que, através dos contos de Uma História em Cinco Vozes, nos convida a conhecer um mundo onde a beleza de suas imagens e circunstâncias se revela uma surpresa instigante e prazerosa.
por Valério Mesquita
Valério Mesquisa nasceu na cidade de Macaiba. é bacharel em Direito, formado pela UFRN. desde cedo enveredou pelos caminhos da política. Foi prefeito de sua cidade, de 1973 a 1975, foi deputado estadual por quatro legislaturas.
Valério Mesquita também tem estreitas ligações com a cultura potiguar. Presidiu a Fundação José Augusto, é membro efetivo da União Brasileira de Escritores, seção do Rio Grande do Norte, e honorário do Conselho Estadual de Cultura do Estado, do Instituto Histórico e Geográfico do RN e da Academia Norte-rio-grandense de Letras, cadeira n. 21
sábado, 4 de abril de 2009
Uma História em Cinco Vozes - livro da semana
Uma História em Cinco Vozes trata-se de um livro de vinte histórias, de vinte contos, de fábulas, de metáforas, de contos de fadas voltados para um público adulto. As histórias contidas no livro são fortemente influenciadas pelos clássicos contos de Andersen, Perralt, La Fontaine e dos Irmãos Grimm, mas com uma nova leitura, retratando os problemas, a sensibilidade do homem contemporâneo.
As vinte histórias são contadas de uma forma delicada e sutil e num os personagens são nomeados. A mulher é sempre A Mulher, o homem, O Homem, o pássaro, O Pássaro, e assim por diante. Os lugares e o período em que se passam as histórias também não. Esse foi um recurso utilizado para dar mais liberdade ao leitor, para deixá-lo livre para construir seus personagens, seu mundo, sua fantasia. O livro nos convida e libertar a nossa imaginação, a deixar o nosso lado criança, que tantas vezes fica suprimido, enclausurado nos cantos mais afastados de nossas mentes.
O livro Uma História em Cinco Vozes tem sua estrutura girando, na maioria de suas histórias, em torno de três personagens: flores, que simbolizam a beleza e delicadeza; pássaros, que representam a liberdade; e crianças, que, acima de tudo, demonstram a sensibilidade, a inocencia.
Uma leitura agradável, filosófica e sutil, que nos convida a encontrar muito do que perdemos, pois nos vemos espelhados em cada história, em cada personagem com que Lima Neto nos presenteia na sua estreia literaria.
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