domingo, 2 de agosto de 2009
Uniformização da Língua Portuguesa - artigo
Eu sei que algumas coisas que eu falo podem soar “do contra”, que minha opinião parece ser sempre a contrária da maioria das pessoas. Mas se isso soa, se isso parece ser assim, quero deixar claro que não é de propósito. Nunca quis ser “do contra”, nunca tive ideias de revolução, de mudar o mundo munido apenas com as minhas palavras e minha opinião “radical”. Também quero deixar claro que quando expresso mina opinião, embora às vezes um tanto quanto tardia, é pelo simples motivo de que antes de falar, eu penso muito, chego, por vezes, a fazer verdadeiros estudos acerca do tema em questão, e, além do mais, eu espero o “polêmico tema” esfriar um pouco. Espero que ninguém mais toque nele, como se tivesse sido simplesmente esquecido. E quando isso acontece é que eu, finalmente, expresso a minha opinião, pensada, estudada, com o objetivo de retomar o tema “esquecido”, mas que é tão importante.
Aconteceu isso com a política de cotas nas universidades. Quando ninguém mais tocava no assunto, quando ele parecia esquecido, foi que resolvi abrir a boca e dizer o que penso sobre o assunto. E agora estou eu, aqui, para emitir minha opinião acerca do tão controverso “acordo ortográfico da língua portuguesa”.
É de conhecimento público e mundial que nós, brasileiros, fomos os primeiros e, até agora, únicos entre todos os países de língua portuguesa a adotarem o Acordo Ortográfico. E então eu pergunto o motivo disso. Se é por mero exibicionismo (algo do tipo: fomos os primeiros em alguma coisa!) ou se os motivos são mais complexos e não tão simples de serem resolvidos com um mero acordo, como se chegassem os representantes de cada país e se reunissem, apertassem as mãos uns dos outros, assinassem um documento e o firmassem, dizendo que a partir de tal dia, todos, nos quatro cantos do mundo, que falassem português, o fizessem da mesma maneira.
Não sou de acordo com tal acordo, primeiro porque a língua é mutável, e não se faz necessários tais artifícios, como a formalização de um acordo, para que aconteça tal mudança. Quando se faz necessário, muda-se de forma natural, como aconteceu tantas e inúmeras vezes com a grafia e o uso de determinadas palavras, com determinados acentos em determinadas ocasiões. E isso é claro quando vemos a questão do trema, aquele acento que ninguém se lembrava de usar, que ninguém nem sabia qual a sua verdadeira serventia. Esse é um exemplo clássico da mudança e evolução da língua. O trema, com o sem acordo, acabaria sumindo de forma natural, sem a necessidade de nenhuma “influência externa”. Outro exemplo é do próprio acento circunflexo de determinadas palavras. No entanto, no caso do hífen acontece o contrário, mostrando a verdadeira forma como nos foi imposto tal acordo. Não havia qualquer indício natural da mudança, no uso de determinadas palavras em que se faz necessário a utilização do hífen.
Mas o que mais me irrita, por assim dizer, nisso tudo, é a questão da “uniformização” da língua portuguesa em todo o mundo. É, sem dúvida, uma iniciativa inovadora e, até certo ponto, interessante. No entanto, se isso acontecer, acho um completo despropósito e desrespeito para com os povos e suas influências, pois toda língua recebe influências externas, incorpora palavras, dependendo dos contatos que se faz. As influência que Portugal recebeu (e recebe) são completamente diferente das nossas, das de Angola, de Timor Leste, e aí por diante. Nós, brasileiros, somos um povo muito miscigenado, e nossa língua, aqui, recebeu influências diversas que os portugueses não receberam. Temos influências dos dialetos indígenas, africanos, europeus (não só portugueses. Olhe e respeite a forma de falar das pessoas que vivem na região mais ao sul do país), orientais, árabes, entre outros. As influências portuguesas, pode ter certeza, são completamente diferentes das nossas. Os contatos que os portugueses recebem são outros, as palavras que a língua lá incorpora são outras.
E a formalização de tal acordo, a uniformização da língua portuguesa põe, ao meu ver, isso a perder, não respeitando a cultura dos povos e seu passado histórico.
A uniformização da língua portuguesa entre os países que utilizam o português como seu idioma oficial é um despropósito.
Os acentos, as palavras, vão sumir, vão surgir novas, mas isso de forma natural, gradual, e não através de um acordo. O português que se fala aqui é semelhante ao português que se fala em Portugal e em Angola, tanto que você nunca viu, e nunca verá, um alguém do Ceará, Paraíba, Pernambuco ou Rio Grande do Norte falar algo como um “Ora, pois”, nem um português falar “Osh, bixinho”, muito menos um angolano falar “ô trem baum, uai”.
Pensando melhor, pode mudar, parcialmente, o que disso lá no começo desse artigo, quando disse não ser “do contra”, pois posso dizer que, se não o sou totalmente, sou pelo menos parcialmente, na medida do aceitável e do sensato.
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